segunda-feira, 8 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 81 - Por Luiz Domingues

O livro foi sem dúvida o material adicional mais interessante e bem arrumado dentro da lata. O restante do material foi meramente de apoio, mas à medida que o marqueteiro da gravadora pôs-se a agregar mais patrocinadores, o material aumentou em volume, ao fazer da lata, um verdadeiro baú de objetos inusitados. Uma camiseta com a estampa do cão em motivos psicodélicos estava agregada, também, mas itens como uma "carteirinha de hippie", chamara a atenção pelo caráter praticamente pejorativo que despertou. Na ilustração dessa carteirinha, continha os traços infantis de um cachorrinho dócil, estilizado como "hippie bonzinho", e sinceramente aquilo parecia material de congregações religiosas a tentar aproximar-se da linguagem jovem, mas de uma maneira totalmente fora da realidade, ao diluir ideias em formato pasteurizado, e mediante extrema docilidade infantiloide.

Uma argola pseudo-psicodélica; um chaveirinho da garrafa de Coca-Cola, bolinhas de gude, um pacote de sopa instantânea, uma vela; e um pacote de incensos, também completavam a lata. Então, no cômputo geral, houve um desequilíbrio. Se por um lado o livro trazia textos sérios sobre os anos sessenta, o restante do aparato remetia a coisas infantis, ou mesmo antagônicas aos ideais. 

A Marina fez um ótimo projeto gráfico desse material de apoio, baseada na capa de sua própria autoria, mas em alguns aspectos, o tom ficou dúbio entre a seriedade e uma velada gozação, e claro que não fora sua culpa, mas pelo contrário, fruto de impressões não condizentes com o espírito que eu ansiava, portanto aspectos dispares, oriundos de outros opinantes.

De fato, eu não podia controlar tudo e sendo justo, não era correto forçar uma barra, se nem todos compactuavam de meus ideais. E sendo muito realista, na prática, só eu estava 100 % imbuído de levar isso a ferro e fogo, com a determinação de um cruzado...

Ao analisar sob o ponto de vista do trabalho musical do Pitbulls on Crack, essa dubiedade até que fazia sentido, ainda que involuntariamente, por que o som detinha influências sessentistas (aliás, sob uma análise mais fria, eram mais setentistas, baseadas no Glitter Rock britânico), mas nem de longe fora um "resgate" hippie, contracultural, ou que remetesse explicitamente à essa época.
Pelo contrário, as letras das canções exibiam uma acidez "cockney", muito mais ligada ao punk-rock setentista pós-1977. 


Todo esse aparato pseudo-hippie nada tinha a ver com a letra de "Death on the Christmas Day", por exemplo, onde a história contada na canção, tem mais a ver com os filmes de terror do tipo "Sexta-Feira 13" ou "A Hora do Pesadelo"...

Continua...

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