segunda-feira, 8 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 89 - Por Luiz Domingues

Na semana do show, tivemos boas e más surpresas. As boas, foram por conta da assessoria de imprensa da gravadora, que funcionou bem, e assim, tivemos a certeza de que nosso show seria anunciado no programa: "Vídeo Show", da Rede Globo, por exemplo.

Nessa mesma ótima toada, soubemos também que a redação da "Ilustrada", o caderno de artes e cultura do jornal "Folha de São Paulo", anunciou o seu desejo em publicar uma matéria, e para tanto, convocou a banda para tirar fotos especialmente para ela. 

No momento decisivo, no entanto, a Folha não enviou o seu repórter fotográfico e nesse detalhe, apenas solicitou uma foto da assessoria da gravadora. Ao invés de mandarmos fotos tradicionais de estúdio (tínhamos feito muitas em um estúdio localizado no bairro do Bexiga, para a sessão de fotos do encarte do CD, e clicadas pelo meu amigo, Carlos Muniz Ventura, que aliás, eu conhecia desde os anos oitenta, e que fizera inúmeras fotos d'A Chave do Sol, incluso fotos oficiais do encarte do LP The Key, em 1987), portanto, improvisamos.


Então, surgiu a urgência de fazer uma foto na própria gravadora, ao aproveitar a montanha de latas que ali estavam armazenadas e de súbito, um amigo nosso, o Alex, ex-baixista do Proteus (banda que fez relativo sucesso na cena Hard-Rock oitentista), culminou em clicar-nos de improviso, e tais fotos foram publicadas pela Folha!

Convenhamos, para uma banda underground como nós éramos, estar em dois veículos de mídia mainstream na mesma semana, foi um fato extraordinário, e realmente ficamos contentes com o empenho da gravadora nesse sentido. As más, ficaram por conta da organização da festa, que a cada dia pareceu tratar-nos como um incômodo intruso dentro da sua estrutura, que supostamente devia ser a nosso favor.

A gota d'água deu-se quando flagramos uma conversa do marqueteiro da gravadora com os seus amigos da organização da festa, e eles falavam sobre uma verba a ser usada do caixa da gravadora, para buscar os componentes do "Honey Island", com o uso de um helicóptero, do aeroporto de Cumbica, até o sítio, pois não conseguiriam traçar outra logística, visto que o voo que os traria de Sydney-Austrália, para São Paulo, chegaria em cima da hora. 

Fora o fato de que estavam entretidos com a logística desses músicos estrangeiros, porquanto a fechar outros shows para eles, para compensar a viagem. Parece que articulavam para que eles tocassem em uma casa de shows de São Paulo, e também no Rio de Janeiro.

Bem, esteve caracterizado o que temíamos desde o início, ou seja, todo o foco do nosso lançamento estava desviado da atenção deles, apesar das boas conquistas em termos de mídia, que obtivemos. Um fator ficara claro: o marqueteiro teve muitos méritos em trabalhar pela concretização da lata, e pelo show no sítio, mas perdeu o foco, ao fazer com que sentíssemo-nos intrusos para o nosso próprio show de lançamento...

Fator raro, raríssimo (para quem conhece-me, e ao meu temperamento de monge zen), eu indispus-me com o marqueteiro, quando flagrei essa conversa, e disse-lhe tudo isso que descrevi acima, porém, os seus contra-argumentos foram os mesmos de sempre, ao falar que preocupara-se em "salvar" o evento, daí as modificações na estratégia que estabeleceu etc. 

Nessa altura, a despeito de tudo, eu já lamentava o fato de não termos feito algo mais modesto, como um show a ser cumprido em uma casa com pequeno ou médio porte, no esquema tradicional de um lançamento de disco. O clima amenizou e na semana do show, toda a movimentação em torno da matéria na "Folha de São Paulo" desviou um pouco o foco das nossas insatisfações em relação aos desmandos na organização do mesmo, mas o fato é que mesmo antes de chegarmos ao dia do evento, ele já pareceu estar fadado ao fracasso.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário