sábado, 6 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 57 - Por Luiz Domingues


Nessa altura, a minha sala de aulas tornara-se também uma loja de discos...

Mas ao contrário do que qualquer pessoa possa deduzir, eu não tive nada a ver com isso, e nunca ganhei nem um centavo por tais negócios, mesmo sendo a minha clientela de alunos, um alvo em potencial para tal negócio ali prosperar. 

Eu, Luiz Domingues, a usar a camiseta com a logomarca de tal patrocinador, em 1994, no Ginásio do Ibirapuera. Foto de Marcelo Rossi

Foi o seguinte: uma confecção orientada pela moda "streetwear", passou a patrocinar o Pitbulls on Crack nessa época, e um dos sócios de tal empresa, estava a administrar também, uma importadora de CD's, paralelamente, mediante um pequeno escritório montado no Cambuci, bairro vizinho da Aclimação, onde eu morava e ministrava as minhas aulas. Sabedor de que eu detinha um grande número de alunos, pediu-me uma ajuda, para que eu divulgasse o seu negócio, e como atrativo a oferecer um desconto interessante que deixava o preço de qualquer CD, muito mais em conta do que o praticados nas lojas tradicionais. Bem, sendo simpático e claro que a considerar o preço praticado convidativo, espalhei a nova entre os meus alunos e daí, começou uma fase de consultas, e negócios a ser fechados. Durante semanas, o telefone de minha casa foi usado para fazer encomendas, e durante as aulas, certamente. 

Nunca cogitei pedir comissão sobre isso. Queria mesmo era que os meus alunos, amigos e agregados das aulas, aproveitassem a oportunidade e comprassem bons discos. E nem mesmo cogitei pedir desconto em minhas próprias compras, e de fato, fiz várias encomendas. Talvez aceitasse um desconto em minhas compras, mas só se fosse oferecido espontaneamente pelo sujeito, mas isso nunca ocorreu e eu mantive-me discreto, ainda a auxiliar-lhe. Não sou, nem nunca serei um mercenário que só pensa em dinheiro, 24 horas por dia. 

Mas aí a situação saiu do prumo, quando o rapaz passou a deixar de passar em minha casa para entregar os CD's dos meus alunos e amigos, ao alegar falta de tempo, e eu a ser obrigado a me dirigir ao seu escritório. Mesmo sendo perto e por conta disso, ser possível até para ir a pé, comecei a considerar um abuso da parte dele, tal prática servil. Fora o fato de que as vendas atingiram um certo vulto, e dessa forma, passei a acumular um volume razoável de dinheiro, o que passou a ser preocupante, pela responsabilidade que não era minha. E para piorar, eu ainda tinha que preocupar-me em providenciar troco... 

Bem, claro que o trilho descarrilou e eu parei de incentivar os meus alunos, amigos e agregados, ao dar por encerrada a atividade. Da parte desse rapaz, ele perdeu um filão muito bom, pois eu cheguei a movimentar uma média de cinquenta CD's em uma encomenda, e todos importados, com valores significativos. Fora uma camaradagem de minha parte, na qual não pensava em obter vantagem alguma, mas tornou-se um transtorno, devido à falta de bom senso, que no linguajar popular fica caracterizado como "folga", "falta de desconfiômetro", "ausência de semancol" da parte do rapaz que usufruiu da minha sala de aulas para lucrar fácil...
Continua...

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