domingo, 7 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 67 - Por Luiz Domingues


Com essa euforia como combustível, claro que a mobilização foi total para fazer do evento, um sucesso total. Mesmos os que não estavam envolvidos diretamente com as bandas dos alunos escalados, trabalharam fortemente para tal sucesso. Distribuíram filipetas; fizeram boca-a-boca a convidar amigos, parentes, colegas de escola, vizinhos, namoradas etc. No dia do show, eu fiquei muito contente com a aglomeração incrível que se formou na porta do Black Jack Bar. 

Lembro-me de ter saído à rua em um determinado momento, e ter cumprimentado diversos pais de alunos, outros alunos, e agregados em geral. A fila na rua, estava enorme com a porta do bar ainda fechada, e os funcionários da casa estavam eufóricos, pois não esperavam um público tão grande, ao subestimar o evento, antes de verificar aquela aglomeração na porta, que inclusive suplantava e muito, o movimento normal da casa naqueles tempos decadentes em que esta vivia. De fato, o movimento de cerca de quatrocentas pessoas presentes, foi inacreditável, até para as minhas mais otimistas expectativas.

A parte do show em si, com todos os pormenores desde a caótica passagem de som, eu já contei no capítulo do Pitbulls on Crack. De fato, aborreceu-me a postura arrogante dos membros do Equinox, ao culpar-me indevidamente por atrasos ocorridos durante a realização do trabalho do soundcheck. Isento o meu aluno, Luiz Nannini, que inclusive ficou bastante constrangido com o comportamento de seus colegas, principalmente o guitarrista líder de sua banda, que foi bastante grosso comigo, acintosamente. Fora o fato de que tal indisposição motivou um ato abominável de insubordinação da parte deles, a passar da conta, muito além do horário combinado para se apresentarem. 


O set deles foi constituído de uma hora e meia, praticamente, e além desse ato descortês, o som da banda foi entediante, com aquele heavy-metal oitentista e defasado na ambientação noventista, sem nenhum atrativo, por mínimo que fosse, que justificasse a sua presença no evento. 

O meu aluno se desculpou pelo comportamento horrível de seus companheiros, no próprio dia, e durante o decorrer de suas aulas posteriores, que avançaram até meados de 1996. Bem, foi mesmo um erro escalar tal banda, e eu nem suspeitava que os outros elementos da banda fossem arrogantes, pois o meu aluno não o era, certamente.
          Ricardo "Pijama" Garcia, baixista do Parental Advisory

Quanto às demais, claro que o show do Parental Advisory arrancou risos da plateia pelo contraste hilário que o seu vocalista proporcionava. Ele grunhia em meio àquelas vocalizações típicas de Metal Extremo, mas quando conversava com o público, entre uma música e outra, a sua voz era quase sob registro feminino, fina e aguda, o que provocava risadas generalizadas. E a manifestação do pai de um aluno, que eu ouvi claramente por estar perto dele neste momento, foi espontânea e hilária: -"Que merda!"

Já falei tudo sobre o Eternal Diamonds, no capítulo do Pitbulls on Crack. Em minha avaliação, foi a melhor banda da noite, e encheu-me de orgulho. Fora disso, o que posso acrescentar, creio que foi mesmo a euforia observada no ambiente da casa, com aquela superlotação, e mesmo com todas as adversidades de um estabelecimento sem infraestrutura, o evento foi um sucesso.

Para o Pitbulls on Crack, creio que esse show não acrescentou nada, artisticamente. Se houve um dividendo, creio ter sido o da bilheteria robusta ali angariada, mas em proporção ao tamanho da casa, nem tanto assim, ao se considerar que a casa arrebatou grande parte dessa féria e um pouco de exposição midiática, principalmente pelo "tijolão" que saiu publicado no Jornal da Tarde. 


Para as bandas de meus alunos, foi grandioso, sem dúvida, talvez menos para o Equinox que tocou com um sentimento rancoroso da parte de seus membros, menos o meu aluno, baixista e assim, muito mais preocupados em provocar retaliações.

Para as minhas aulas, foi um marco, sem dúvida. Essa euforia disparada, alimentou uma motivação muito forte nos meses subsequentes, e que inevitavelmente abrira a possibilidade de se produzir uma nova versão do festival, com outras bandas, e o mesmo objetivo em pauta. Infelizmente, nunca mais houve uma oportunidade igual, e o "Dominguestock" jamais se repetiu. 

Pena mesmo! Tenho uma cópia em VHS dos melhores momentos de cada banda, e do Pitbulls on Crack. Já digitalizei tudo e futuramente, esse material será disponibilizado para a Internet, leia-se: YouTube. Neste caso, creio que todos os envolvidos gostarão de ter essas imagens disponibilizadas na Internet, e alguns que hoje em dia construíram carreiras musicais significativas, certamente despertarão a atenção do público que gostará de vê-los tão novos, a tocar em suas primeiras bandas de garagem.

E a vida seguiu na minha sala de aulas, nessa quase metade de 1995...

Da esquerda para a direita: Amon; Alexandre "Leco"; Thiago Fratuce, e Carlos Fazano, em foto de 1996.
 
Continua...

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