Então, mais ou menos em julho de 1982, marcamos um ensaio nas
dependências do Café Teatro Deixa Falar, sob um oferecimento da Dona
Sabine, que era mãe da namorada do Rubens à época (Mônica Maya). Cabe aqui um
parêntese, o Café Teatro Deixa Falar tratava-se de uma casa noturna localizada na
Av. Santo Amaro, em São Paulo, no bairro do Itaim-Bibi, na zona sul.
Ali, anos antes,
funcionara o badalado, "Be Bop A-Lula", uma das casas mais Rockers da
cidade. Praticamente todas as bandas da cena setentista, tocaram ali. Nas
páginas das Revistas,"Rock, a História e a Glória" e "Pop", foram publicadas
muitas matérias a enfocar shows com bandas da época, incluso gente
de fora do universo Rocker, como Alceu Valença. A Dona Sabine, fora a proprietária do Be Bop a
Lula, e com sua decadência, no início dos anos 1980, transformou-o em um
bar, mas sem o mesmo glamour de outrora.
Em 1981, eu apresentei-me
ali com minha banda cover, "Terra no Asfalto", inúmeras vezes, e daí surgiu
a oportunidade para conhecermos o Rubens, via Dona Sabine. Como ela
era antiquária (possuía um enorme antiquário localizado na Av. Brigadeiro Luiz
Antonio, quase esquina com a Rua Tutóia, no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo), costumava
então decorar o bar com coisas muito exóticas extraídas de seu acervo da loja de antiguidades. E por ser enorme, o Café Teatro Deixa Falar possuía câmaras e ante-câmaras, labirínticas.
Entre tantos objetos exóticos,
mantinha armaduras medievais; quadros com imagens de pessoas
desconhecidas oriundas de séculos anteriores, e até uma múmia Inca. Isso mesmo,
você não leu errado... era mesmo uma múmia verdadeira, com aproximadamente mil e trezentos anos de idade. Na verdade, eram duas, pois dava para perceber que havia sido uma mãe
que morreu ao tentar proteger o seu bebê. Aquelas duas múmias mostravam-se muito
perturbadoras, e por isso, deixavam o clima do local, bem soturno, ainda mais se
considerarmos que as paredes eram constituídas por simulações de formações rochosas, e a
iluminação ambiente, provida por tochas, com fogo natural.
Apesar dessa
atmosfera fantasmagórica, o Deixa Falar foi uma casa que mesmo
decadente, tinha boa infraestrutura de palco, e camarim, com iluminação
de um teatro convencional, e essa atmosfera a assemelhar-se com um set de filme de terror. E
para a minha percepção pessoal, havia a lembrança do Be Bop-A Lula, um ícone setentista, em minha imaginação.
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