— Ah, o de sempre. Muito trabalho, minha chefe buzinando no meu ouvido, só porque não tem com quem falar. Aí eu pago o pato; ela precisa de um ouvido.
— Você viu o negócio do passaporte?
— Vi. Tá quase arranjando. Mas porque você não quer me dizer porque você não resolve isso pessoalmente? Que coisa...
— Querida, vai depender das minhas condições diplomáticas...
— Que condição é essa, você sabe que eu sou curiosa; fica jogando
coisas no ar, não fala; pô, isso é covardia...
— Mas, querida, como vou falar o que não posso falar?
— Então não fala droga; você fica me passando mensagens cifradas.
— Mas tem que ser cifrada, entende?
— Não, eu sei que você tá me escondendo alguma coisa?
— Meu anjo, você sabe que sou um cara político, não sabe?
— Sim, e daí?
— Sabe aquela coisa da presidência? É coisa séria... Se a companhia me liberar o documento, eu sou sério candidato. Vai Ter gente contra e a favor; pode até ser declarada uma guerra civil com a minha candidatura, não sabe ?
— Tá, mas dá pra dizer que companhia é essa?
— Não, aí é que tá; não dá pra dizer, pois o documento não foi liberado ainda.
— Pô, como é que você quer que eu entenda? Pensa que sou imbecil; eu sei que você está metido com alguma coisa de máfia; eu não gosto disso...
— Por que? Os mafiosos não merecem amor, não?
— Não o meu... (a voz dela estava repleta de ternura)
— Você não entende? Eu não posso contar agora, só isso!
— Olha, eu estou a doze horas fora de casa, você não acha que é um pouco demais para mim? Você fica aí cheio de mistério, me deixa preocupada. Acho que é melhor a gente falar amanhã.
— Querida, você tem que entender que eu não sou qualquer um; nasci para fazer história, mudar o país, o mundo; tem gente que gosta e gente que não gosta; é política, é conspiração; acordos, diplomacia faz parte...
— Você não confia em mim? Olha, é melhor a gente falar amanhã...
— Escuta, amanhã você pode massagear minhas costas? Tou muito estressado...
— Amanha a gente fala. Beijos.
Desligaram.
Ela foi ligar para a amiga, para contar o que conversara com ele. Ele, esfregando as mãos, foi ver O Poderoso Chefão pela centésima vez.
Publicado em Café Brasil
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