Depois de ter lido a mais de uma década os oito volumes da História da Literatura Universal de Otto Maria Carpeaux e ter estudado os elementos do taoismo, e mais algumas alquimias, passei a ter verdadeiro pavor de discutir ideias com quem quer que fosse.
Desconfio que discutir é deselegante.
Algo assim como sugeriu Machado de Assis, que querer provar algo, seria como o velho primata do homem querendo berrar e se impor.
Claro que o destino nos tenta. Já quis brandir a espada de minhas palavras contra um escritor chato, que cheio da grana e com uma mulher boa, vivia falando mal de Deus e publicando que era ateu militante.
Acabei sabendo que a mulher lhe deixou, no que fez bem, e agora ele curte a “vida de separados” e como ele não está mais com a mulher, que é o que vale, pouco me importa também seus escritos. Não que eu seja intolerante.
Até os trinta anos, respeito homens de ideias ateístas, mas depois disso me parece de uma infantilidade tão grande que o intelectual ateu me parece um contra-senso.
Que seria de mim, sem Deus, para enfrentar as múltiplas e variadas misérias humanas, na qual a mais grave, sem dúvida, é o próprio desprezo da criatura pelo criador.
Claro que todo mundo tem direito a não ter fé em nada. Ou no que quiser. Eu mesmo, antes dos trinta, fui ateu um bom tempo. Ou ator, segundo um padre falecido me dizia.
Essas reflexões, porém, veio-me a mente após ter topado com um jovem que disse-me ser ateu. Um jovem de menos de trinta. Quando ele disse-me isso senti uma vaga tristeza, como se toda magia do universo tivesse desaparecido, como se não houvessem artes, nem madres, nem poemas, nem Budas.
Fiquei sem argumento e senti-me um estranho. Como assim Deus não existe?
E o que pode vir do nada?
O jovem, porém, é inteligente.
Se for honesto, com o tempo Deus se revela a ele.
Claro que não revelei nada sobre o número absoluto, nem dos cavaleiros sagrados que continuam em busca do graal, dia e noite e do qual eu sou remanescente.
A grande questão não é, para mim, se Deus existe ou não, e sim se o merecemos. O ateísmo parece-me, além de superficial, falta de gentileza e gratidão. O chato dos ateus, ao menos a maioria, é que lhes falta algumas informações que se fossem mais honestos, acabariam encontrando.
Depois dos trinta anos, considero o ateísmo um subdesenvolvimento da mente. Quem é ateu e viu milagres como eu, sabe que é melhor fazer um café, e voltar para as variações do número absoluto.
Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2.Escritor de vasta e consagrada obra, nesta crônica, nos fala sobre a questão do ateísmo, sob um ponto de vista não usual.
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