domingo, 27 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 100 - Por Luiz Domingues



Nessa altura, já estávamos contentes com a turnê do Rio, independente dos últimos shows que restavam para cumprirmos. E além do mais, tivemos a notícia de que o compacto simples que havíamos gravado ao vivo, semanas antes, já estava com a prensagem em curso, na fábrica, e que logo que voltássemos à São Paulo, o teríamos em mãos, para a continuação da nossa temporada no Teatro Lira Paulistana. 
A capa desse disco, foi uma ilustração feita pelo cineasta, Louis Chilson, que também tinha (tem) talento como desenhista. O esboço (raf ) original de tal ilustração, foi a caricatura de cada membro da banda, a evocar um personagem famoso. No meu caso, o Chilson usou uma foto minha ao vivo com a Chave do Sol, quando toquei no Victoria Pub, em 1983, para criar a minha caricatura.

Como naquele momento de 1984, o filme "Danton", com Gerard Depardieu, fez grande sucesso nas salas de cinema, ele aproveitou tal ideia ao associar a minha imagem com cabelos compridos, ao do personagem histórico da Revolução Francesa, e daí, criou a minha caricatura com as vestimentas e expressão facial da personagem, baseado no cartaz oficial do filme. O Laert Sarrumor pareceu-se com um zumbi nerd; Pituco Freitas foi caracterizado como uma dançarina de Aloha havaiana; João Lucas como um bebê a usar fraldas; Serginho Gama foi caracterizado como um Hippie sessentista; Naminha, como troglodita das cavernas; Lizoel Costa, foi desenhado com o uniforme do Superman, e o ator, Paulo Elias, não entrou na caracterização, embora fosse considerado um membro da banda, logicamente. Na contracapa,vê-se informações técnicas; as letras das duas músicas e ao invés da indefectível inscrição obrigatória, "Disco é Cultura", o Laert criou : "Disco é Caro"...

A mixagem foi creditada ao técnico, Douglas Martins, com participação de Claudio Lucci, dono do estúdio Violão & Cia. onde a mixagem foi realizada, em Santo André, na grande São Paulo. A arte final ficou a cargo de Ribamar de Castro, um dos líderes do Selo / Teatro Lira Paulistana. O áudio, como já salientei, não ficou nenhuma maravilha. Acredito que esse disco tenha o nível técnico de um Bootleg ao vivo, mais caprichado do que a praxe desse tipo de registro, é bem verdade. Entretanto, como também já disse, é o único registro fonográfico da banda com a minha presença na formação. Pelas circunstâncias atípicas de minha participação na banda, com idas e vindas, lamento muito possuir somente esse registro com a banda, porém, por outro lado, orgulho-me por ao menos ter esse compacto a constar da minha discografia com essa banda. Ironia do destino, por uma questão de semanas, ele culminou por tornar-se o primeiro disco oficial de minha carreira, pois o compacto d'A Chave do Sol atrasara em seu lançamento e o do Língua de Trapo tornou-se portanto, meu primeiro disco oficial na carreira, por ter sido lançado algumas semanas antes. Portanto, a ironia foi que mesmo de uma forma sutil e despercebida por todos, o meu primeiro disco oficial é mesmo com o Língua de Trapo, a honrar, de certa forma, a cronologia natural, com o Língua de Trapo, a representar o meu elo primordial com o longínquo, Boca do Céu...


Continua...

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