quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 84 - Por Luiz Domingues

E nessa mesma época, uma produtora de vídeos, ainda não conhecida, propôs-se a produzir um vídeoclip do Língua de Trapo.Tal produtora chamava "H2O", e era administrada por jovens, que fariam muito sucesso a seguir no mercado publicitário, e na produção áudiovisual em geral. Hoje em dia, a H2O é uma potência no Brasil, com repercussão em muitos direcionamentos internacionais, e um desses jovens em questão, é nos dias atuais, um diretor de cinema com acesso ao cinema dito "blockbuster", um rapaz chamado : Fernando Meirelles. 

Porém, entre março e abril de 1984, e longe desse prestígio que desfruta hoje em dia, tanto Meirelles quanto o seu sócio, cujo nome não recordo-me, eram apenas iniciantes desconhecidos e a dar seus primeiros passos na produção áudiovisual. Claro que aceitamos, e assim, sob uma tarde de um dia de semana entre março e abril de 1984, participamos da filmagem desse clip, ao ter como locação, a Praça da Sé, no centro velho de São Paulo. 
A ideia do clip foi a mais simples possível. Ao usar a locação natural da Praça da Sé, com a banda a interagir sob improviso com populares, onde praticamente apenas o vocalista, Pituco Freitas, teve uma atuação mais interpretativa, por cantar a música, mediante dublagem, naturalmente. A música escolhida, foi "Régui Espiritual", uma brincadeira com os falsos Gurus, um tanto quanto inspirado no Tim Tones, personagem criado pelo comediante, Chico Anysio. Então, várias cenas foram gravadas com o Pituco Freitas a cantar pelas escadarias da Estação Sé do Metrô, ou por recantos da Praça.
Tem uma cena, inclusive, onde ele canta perto de um chafariz e crianças abandonadas, moradoras de rua, jogam-se no tanque d'água, como se fosse uma piscina particular. A banda aparece em vários momentos, a interagir com o personagem central, vivido pelo Pituco Freitas.

É possível verificar todos os membros, incluso o ator, Paulo Elias, a espalhar bolhas de sabão em cima do suposto Guru, como sugere a letra da música , em dado instante. E também faz uma coreografia mezzo robótica, no absurdo coral da música, que diz de uma forma nonsense : -"esse coral, não era pra ter... a gente pôs por que ficou legal"... tudo foi feito de uma forma muito despojada, na base de "uma ideia na cabeça e uma câmera na mão", sem roteiro e sem recursos.
E claro, populares foram a agregar-se e ao final, houve uma multidão a participar, espontaneamente, mesmo sem entender nada do que ocorria à sua volta. Existe uma cena ao final da música, onde veem-se muitos populares a pular euforicamente conosco, em meio a uma alegria natural e estrategicamente fora de propósito. Esse clip culminou em permanecer engavetado por muitos anos, mas finalmente em 2012, veio à tona, sendo postado no You Tube, ao resgatar uma parte obscurecida da história da banda, e a reforçar oportunamente o meu videofólio pessoal, tão carente em termos de material de minhas duas passagens pelo Língua de Trapo.
Veja acima o vídeoclip da canção : "Régui Spiritual", produzido em 1984

Eis o Link para assistir no You Tube :
https://www.youtube.com/watch?v=nH4KSi5sCcI
 
E ao encerrar, um fato exótico aconteceu na barraca de um camelô, que gentilmente deixou-nos usá-la como camarim improvisado de um set de filmagens. Dois pivetes que seguiam-nos, quase roubaram a carteira do tecladista, João Lucas, quando foram surpreendidos pelo guitarrista, Sergio Gama e assim, evadiram-se do local. Assim que o clip foi postado no You Tube, resgatado no ano de 2012, um fórum munido por de opiniões, foi alimentado por diversos ex-membros do Língua de Trapo, incluso eu, na Rede Social, Facebook, e esse episódio foi lembrado pelo próprio, João Lucas.
Frame do Vídeo-Clip que filmamos na Praça da Sé, em São Paulo, em 1984

Chegamos à conclusão de que, o que fora assustador com a criminalidade infantil, que desde o final dos anos setenta preocupava a população, com os ditos "trombadinhas" a agir nas cidades brasileiras, hoje em dia, piorou muito tal panorama. Alguém disse nessa discussão travada em 2012 : -"naquela época, o pivete tentou furtar a carteira e ao ser surpreendido, disfarçou e saiu do local, rapidamente. Hoje, ele provavelmente mataria  a sua vítima, para depois pegar a certeira e sairia a rir"... Pois que chato constatar que as coisas retrocederam à barbárie, trinta anos depois, ao invés de melhorar...
Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário