A perspectiva foi para obter-se um bom público em dias improváveis, e super lotação
nos finais de semana. E o mais extraordinário, ao comparar-se aos dias
atuais, foi que não houve um grande
esforço de divulgação. O popular "boca-a-boca" garantiu tal sucesso, com pouco
suporte em termos de material de cartazes, filipeta ou lambe-lambe. Nem cogitava-se anúncios pagos em jornais e revistas, tampouco chamadas de
rádio e claro, comerciais na TV, nem pensar pelos seus preços
proibitivos. Logo no começo dessa temporada, lembro-me que fomos
escalados para participar de um programa musical, dito jovem, da TV
Manchete.
A gravação foi realizada em locação, dentro de uma casa
noturna toda "moderninha", localizada no Morumbi, zona sul de São
Paulo. Apesar de não possuir a característica de uma banda de Rock, o Língua de Trapo
estava naquele contexto (refiro-me ao movimento do BR-Rock 80's, mas em termos, logicamente, pois a banda era muito mais identificada com outro movimento musical, o conhecido como : "Vanguarda Paulista"), e eu recordo-me bem, participaram também daquela
gravação, artistas como : Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Lobão e os Ronaldos, Paralamas do Sucesso e
mais próximo da nossa realidade, o Premeditando o Breque, igualmente uma
banda de sátira e humor e também egressa do movimento, "Vanguarda
Paulistana".
Como de praxe, os membros da produção do tal programa, mostravam-se
bem afetados. Excepcionalmente, algumas pessoas chamaram-me a atenção
por ser afetadas além da conta. Foi um festival de rispidez e nariz
empinado da parte de certas meninas produtoras, que chegou a impressionar-me.
Dava-se um
desconto por serem estagiárias, e estarem naturalmente inebriadas por trabalhar na TV, e a lidar com artistas que estavam na "crista
da onda", caso das bandas do BR-Rock oitentista, mas que foi exagerado,
isso foi. O Língua de Trapo gravou a sua participação a dublar a música : "Vampiro
S/A", do primeiro LP. Era um simulacro de Heavy-Metal, com o Laert
a entrar em cena vestido como o Conde Drácula, e assim a traçar toda uma ironia em torno do
verdadeiro vampiro, que é o criminoso do colarinho branco, sugador do
sangue do povo etc e tal.
Nos shows, essa encenação revelava-se engraçadíssima,
com o ator Paulo Elias a interpretar o assistente corcunda, muito genial como
escada da sketch. Como tudo isso fazia sentido no contexto da sátira,
claro que no show era incrível, mas jogado a esmo, como uma apresentação
normal de uma banda, causou estranheza naquele programa. Muita gente ali
não percebeu o caráter da sátira e ficou com aquela semblante a revelar a desaprovação, por não entender como "aquilo" estaria em meio aos Rockinhos raquíticos, a la "New Wave" dos artistas do BR-Rock 80's, ali presentes. Bem, isso não mudou a
cotação do dólar, nem abalou as Nações Unidas, mas foi engraçado naquele
momento.
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