quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 91 - Por Luiz Domingues


No dia seguinte, começamos a acostumarmo-nos com a rotina dessa temporada carioca. Acordávamos por volta das 10:00 horas da manhã, e tínhamos tempo livre. Rapidamente rastreei o bairro, ao menos nos quarteirões mais próximos, até o cruzamento das ruas Barata Ribeiro com a Siqueira Campos. Fiz muitas caminhadas, e descobri agência do correio; uma doceira (onde passei a frequentar todo dia para comprar brigadeiros, e a também posteriormente, por anos, até o início dos anos noventa); bancas de jornais; sebos & livrarias, e os cinemas próximos.

Depois do almoço, se não tivéssemos nenhuma tarefa em termos de divulgação, podíamos descansar até pelo menos as 16:00 horas, quando seguíamos mediante ônibus urbanos normais até a Cinelândia, para chegarmos ao teatro, antes do show da Nana Caymmi, iniciar-se, e se possível, antes mesmo da abertura da sala para o público. Uma pessoa que auxiliou-nos de uma forma muito contundente, foi o grande cartunista, Chico Caruso, que era (é) o chargista oficial do jornal "O Globo".

Muito amigo dos componentes do Língua de Trapo, desde muito tempo, o Chico Caruso fez de tudo para abrir frentes de divulgação em nosso favor, e seu poder de influência era muito forte na mídia mainstream. Um grande amigo, e também por ser um artista ligado ao humor, em 100%, gostava muito do trabalho do Língua de Trapo.

Essa amizade foi tão profícua, que ainda em 1984, ele ajudar-me-ia pessoalmente, sob uma ocasião em que fui ao Rio de Janeiro para tratar assuntos d'A Chave do Sol, mas claro, conto esse episódio no tópico adequado. Nessas andanças pelo Rio, nas horas de folga, deu para sentir no ar, o clima de euforia em torno do BR-Rock oitentista, em seu auge. Pareceu-me que essa vibração havia tornado-se um fenômeno popular, pois no comércio; nos rádios dos carros; bares e restaurantes, ouvia-se o som daquelas bandas que estavam estouradas no mainstream.

Fora vislumbrar essas figuras representantes dessa cena, nas bancas de jornais, estampadas pelas capas de revistas. Claro que eu não apreciava essa estética, mas essa onda teve um lado positivo, que eu reconhecia ser interessante, e mesmo com padrões artísticos muito diferentes daquele modismo calcado no Pós-Punk e que tais, eu achava essa euforia benéfica, por talvez dar-me esperanças em abrir portas para outras vertentes, como fonte primordial para propiciar-nos uma chance no mainstream. E o segundo show na Sala Sidney Miller, foi muito bom  (artisticamente a falar), apesar do público ter sido fraco, pior que o dia anterior. Foi o dia 4 de abril de 1984 no Rio de Janeiro, e quarenta e cinco pessoas assistiram-nos a encenar o show : "Sem Indiretas".

Continua... 

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