Nessa época, continuamos a conceder muitas entrevistas para a imprensa
escrita, e participar de programas de rádio e TV. Lembro-me de nossa
primeira participação no programa de Rádio, "Balancê", da rádio
Excelsior / Globo de São Paulo. O programa era um misto de noticiário
esportivo, com variedades artísticas, e acontecia de segunda a sexta, no
horário do meio-dia, considerado nobre no Rádio e na TV, para típicos
programas esportivos.
O apresentador era um ex-repórter de campo de
futebol, um sujeito robusto e desinibido, chamado : Fausto Silva. Ocasionalmente, o
locutor esportivo, Osmar Santos também apresentava-o.
E todo o apoio era
dado pela equipe esportiva da casa, com os típicos boletins de cada
clube paulistano, gravados nas chamadas "sonoras". Esses boletins com
novidades do dia de cada clube, eram intercalados com as variedades
artísticas. Geralmente havia mais atrações musicais, e atores a divulgar
espetáculos teatrais. Porém, tudo isso não acontecia no tradicional
estúdio da emissora, localizado da Rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília, centro de São
Paulo, e sim, diretamente de um pocket-teatro localizado a um quarteirão
apenas dos estúdios da Rádio.
Esse pequenino teatro localizado na Rua
Apa, travessa da Rua das Palmeiras, e próximo à Praça Marechal Deodoro,
chamava-se : "Teatro Pimpão", mas na década de setenta, mantinha outra denominação : "Teatro
de Bolso", e costumava realizar temporadas de artistas da MPB, dita
"maldita". Eu mesmo assistira um show do Jorge Mautner, em 1977, em uma típica "sessão
maldita", com o teatro completamente lotado, e aquele perfume de
patchouli, peculiar em qualquer ambiente frequentado por "freaks", naquela década, fortemente manifestado no
ar. De volta ao "Balancê", tal programa, por ser apresentado dentro de
um teatro, continha público ao vivo, como nos moldes dos velhos programas
de auditório dos tempos de ouro do rádio brasileiro.
A diferença, foi
que não havia estrutura alguma para tocar-se ao vivo, a não ser sob pequenas
inserções acústicas e sem compromisso algum com a qualidade sonora emitida. Portanto,
todo mundo que participava ali, dublava como se estivesse na TV, mas com um
público muito próximo a mirar a constrangedora micagem perpetrada pelos
artistas. Tirante tudo isso, o programa era completamente anárquico, e
parecia fazer parte desse script, a completa improvisação da parte de todos. O
público cativo era sui generis. Formado em 90% pelos funcionários
do Metrô que trabalhavam na construção da Estação Marechal Deodoro,
localizada ali na praça de mesmo nome. Os outros 10% eram preenchidos
por caçadores de autógrafos ou por fãs específicos de um ou outro
artista anunciado.
No
dia em que fomos, lembro-me que uma das atrações musicais fora o cantor,
Markinhos Moura, que transitava pelo mundo brega.
Entre uma entrevista
com jogadores de futebol, tais como Biro-Biro do Corinthians, e Serginho Chulapa do Santos, fizemos a
nossa apresentação, ao dublarmos a canção : "Concheta". Os operários costumavam
assistir tudo enquanto almoçavam, sem nenhuma cerimônia, mediante as suas marmitas a deixar o forte odor de comida caseira no
ar, o que tornava tudo aquilo, ainda mais surreal.
O apresentador Fausto Silva ainda não era
nada famoso, e só quem acompanhava futebol, meu caso, lembrava-se dele como repórter
de campo da Rádio Jovem Pan, com atuação na década de setenta.
Sendo assim, mostrava-se simples e atencioso com todos. O sonoplasta era um sujeito completamente
carismático, chamado : "Johnny Black". Uma figura marcante, era esperto e não
deixava a nenhuma intempérie atrapalhar o andamento do programa. Demos o nosso recado, ao falarmos sobre a temporada no
Teatro Lira Paulistana, e após a dublagem, fomos embora, mas voltaríamos
em outras ocasiões, e posteriormente eu retornaria ainda mais vezes com A
Chave do Sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário