quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 79 - Por Luiz Domingues


Nessa época, continuamos a conceder muitas entrevistas para a imprensa escrita, e participar de programas de rádio e TV. Lembro-me de nossa primeira participação no programa de Rádio, "Balancê", da rádio Excelsior / Globo de São Paulo. O programa era um misto de noticiário esportivo, com variedades artísticas, e acontecia de segunda a sexta, no horário do meio-dia, considerado nobre no Rádio e na TV, para típicos programas esportivos.
O apresentador era um ex-repórter de campo de futebol, um sujeito robusto e desinibido, chamado : Fausto Silva. Ocasionalmente, o locutor esportivo, Osmar Santos também apresentava-o. 
E todo o apoio era dado pela equipe esportiva da casa, com os típicos boletins de cada clube paulistano, gravados nas chamadas "sonoras". Esses boletins com novidades do dia de cada clube, eram intercalados com as variedades artísticas. Geralmente havia mais atrações musicais, e atores a divulgar espetáculos teatrais. Porém, tudo isso não acontecia no tradicional estúdio da emissora, localizado da Rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília, centro de São Paulo, e sim, diretamente de um pocket-teatro localizado a um quarteirão apenas dos estúdios da Rádio. 
Esse pequenino teatro localizado na Rua Apa, travessa da Rua das Palmeiras, e próximo à Praça Marechal Deodoro, chamava-se : "Teatro Pimpão", mas na década de setenta, mantinha outra denominação : "Teatro de Bolso", e costumava realizar temporadas de artistas da MPB, dita "maldita". Eu mesmo assistira um show do Jorge Mautner, em 1977, em uma típica "sessão maldita", com o teatro completamente lotado, e aquele perfume de patchouli, peculiar em qualquer ambiente frequentado por "freaks", naquela década, fortemente manifestado no ar. De volta ao "Balancê", tal programa, por ser apresentado dentro de um teatro, continha público ao vivo, como nos moldes dos velhos programas de auditório dos tempos de ouro do rádio brasileiro. 
A diferença, foi que não havia estrutura alguma para tocar-se ao vivo, a não ser sob pequenas inserções acústicas e sem compromisso algum com a qualidade sonora emitida. Portanto, todo mundo que participava ali, dublava como se estivesse na TV, mas com um público muito próximo a mirar a constrangedora micagem perpetrada pelos artistas. Tirante tudo isso, o programa era completamente anárquico, e parecia fazer parte desse script, a completa improvisação da parte de todos. O público cativo era sui generis. Formado em 90%  pelos funcionários do Metrô que trabalhavam na construção da Estação Marechal Deodoro, localizada ali na praça de mesmo nome. Os outros 10% eram preenchidos por caçadores de autógrafos ou por fãs específicos de um ou outro artista anunciado.
No dia em que fomos, lembro-me que uma das atrações musicais fora o cantor, Markinhos Moura, que transitava pelo mundo brega.
Entre uma entrevista com jogadores de futebol, tais como Biro-Biro do Corinthians, e Serginho Chulapa do Santos, fizemos a nossa apresentação, ao dublarmos a canção : "Concheta". Os operários costumavam assistir tudo enquanto almoçavam, sem nenhuma cerimônia, mediante as suas marmitas a deixar o forte odor de comida caseira no ar, o que tornava tudo aquilo, ainda mais surreal.
O apresentador Fausto Silva ainda não era nada famoso, e só quem acompanhava futebol, meu caso, lembrava-se dele como repórter de campo da Rádio Jovem Pan, com atuação na década de setenta.
Sendo assim, mostrava-se simples e atencioso com todos. O sonoplasta era um sujeito completamente carismático, chamado : "Johnny Black". Uma figura marcante, era esperto e não deixava a nenhuma intempérie atrapalhar o andamento do programa. Demos o nosso recado, ao falarmos sobre a temporada no Teatro Lira Paulistana, e após a dublagem, fomos embora, mas voltaríamos em outras ocasiões, e posteriormente eu retornaria ainda mais vezes com A Chave do Sol.
Continua... 

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