Uma dessas sessões de domingo, foi filmada por uma equipe da TV Abril
Cultural. A TV Abril (ligada ao grupo, Abril Cultural, da família Civita), batalhava para conseguir uma concessão do governo,
para abrir o seu canal próprio, mas enquanto isso não acontecia,
estabeleceu uma parceria com a TV Gazeta de São Paulo, e passou a ocupar
um espaço com quatro horas diárias na sua grade, desde o final de 1983. E por ter sido assim, oportunidades surgiram para o Língua de Trapo, uma banda oriunda
de uma faculdade de jornalismo, e com simpatizantes nos bastidores da mídia. No caso
dessa equipe de filmagem, o objetivo fora realizar um especial, a intercalar cenas
do show, com entrevistas.
Lembro-me dessa equipe filmar mais de um show, e
realizar diversas entrevistas no camarim do Teatro Lira Paulistana. E
mais ou menos nessa época, entre março e abril de 1984, esse especial do
Língua foi exibido na TV Abril / Gazeta.
Ainda a abordar a nossa participação em programas da TV Abril,
lembro-me que também nessa época fomos participar de um programa
que utilizava os estúdios da TV Gazeta, na Av. Paulista.
Era uma espécie
de programa de variedades, a misturar cultura; política & atualidades
sociais em geral. Fora apresentado por um casal de jornalistas, que já famosos
na época, Silvia Poppovic e Paulo Markun, mas que nos anos vindouros ,
ficariam ainda mais famosos na TV. Nesse dia em específico, a ideia seria
dublar a música : "Romance em Angra", mas a produção insistiu, e nós fomos
preparados para tocar ao vivo, só que sob um formato acústico. Como tratava-se de um bolero, lembro-me que ao invés de tocar baixo, fui
convocado a tocar, "clave", um exótico instrumento de percussão,
praticamente só usado nesse tipo de música.
Tal instrumento é bem rudimentar, na verdade e constitui-se de dois objetos de madeira, sob formato
cilíndrico, que são executados na base do atrito entre um e outro,
a produzir um som com um timbre incrivelmente agudo. É bastante fácil o seu
manuseio e para tal finalidade, basta o músico ter uma mínima noção
rítmica, mesmo que não seja um percussionista de ofício. E o desenho rítmico típico do bolero, é bastante fácil para
ser executado, portanto, fui confiante para o estúdio da TV Gazeta / Abril
Cultural. Uma particularidade exótica, aguardava-nos,
contudo... justamente naquela noite, duas personalidades midiáticas
estavam no estúdio, prontas para ser entrevistadas, e ambas, foram convidadas a assistir-nos.
O então governador de São Paulo, Franco Montoro, e o jogador do
Corinthians / Seleção Brasileira, Sócrates. Foi hilário apresentarmo-nos
com ambos a mirar-nos e fazer expressão facial de "paisagem", pois sabiam que as
câmeras os focalizavam o tempo todo à cata de expressões faciais. E como
sempre acontecia com o Língua de Trapo, pelo fato de nem todo mundo ter
o conhecimento de que o nosso trabalho era satírico, foi óbvio que
causaria estranheza, sob tais circunstâncias. No caso específico dessa
performance, será que o governador Franco Montoro, e o Dr. Sócrates notaram que aquele bolero cafonérrimo fora uma gozação, ou acharam que nós
éramos representantes da fina flor da cafonália ?
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