Em um outro programa que participamos nessa mesma época, foi ainda pior. Tratava-se de uma programa cafonérrimo na grade da TV Gazeta, cujo apresentador chamava -se,
Reynaldo. Esqueci-me de seu sobrenome infelizmente, e o nome do programa 
era o nome do sujeito, algo do tipo : Reynaldo "Beltrano" Show ou coisa 
que o valha. 
Fora uma imitação ainda pior do horrendo, "Clube dos 
Artistas", um super Kitsch show noturno com cantores brega e boçalidades 
em geral, exibido pela extinta Rede Tupi, no início dos anos setenta. Com
 aquela estrutura típica de boite brega, os artistas apresentavam -se a
dublar as suas músicas, ao circular por mesas, onde casais formados por 
figurantes fingiam estar a viver uma noitada romântica dentro de um Night Club. Então, 
imagine ser a imitação barata de algo terrivelmente brega que fora o 
Clube dos Artistas...  pois tratava-se de um verdadeiro show de horrores, com cantores 
brega em sua maioria, a desfilar seu repertório composto por boleros cafonas e mal
 gravados, lançados por gravadoras de baixo nível.  
Para ter-se uma 
ideia, eu não consigo nem lembrar-me quais foram as outras atrações no 
dia em que o Língua de Trapo, apresentou-se, tamanha a irrelevância 
artística desses elementos. O apresentador era um misto de Ayrton 
Rodrigues com Darcio Campos, e de quebra, lembrava também esses cantores 
de boleros cafonas, ao estilo de Lindomar Castilho; Waldick Soriano, Manolo 
Otero e demais similares. 
A usar um terno que nem o 
personagem, "Agostinho" do sitcom "A Grande Família", usaria como figurino naquela ficção, o 
sujeito ainda ostentava o seu maneirismo igual ao do Silvio Santos, ao usar o 
indefectível microfone, preso no paletó por um suporte estrambótico, mais 
a parecer um símbolo fálico, e digno de explicações intelectualizadas da parte 
dos antropólogos. As pessoas que ficavam na figuração pelas mesas, pareciam 
ser voluntários não remunerados, pois dava para sentir que apreciavam
aquela cafonália toda. As mulheres, exageradamente maquiadas e vestidas 
como se estivessem em um baile de debutantes, e os homens a considerar-se
elegantes, no uso de ternos vagabundos e mal cortados. 
Tal como o "Clube 
dos Artistas" e o seu irmão, o "Almoço Com as Estrelas", as mesas tinham
 bebidas e porções, a simular o ambiente de uma boite. E claro, com os 
refletores acesos, todas as bebidas ficavam mornas e os salgadinhos 
azedavam rapidamente... isso sem contar a maquiagem das moças, a escorrer
 e o suor dos rapazes, inevitável nessas circunstâncias. Mas o melhor 
estava por vir. Como de praxe, o Língua de Trapo azucrinava nesses programas, e 
esse, com toda esse breguice, tornou-se um prato cheio para a sanha natural da banda, nesse sentido. Já estávamos 
a conter crises de gargalhadas no camarim, só por ver aquela movimentação 
no ambiente e as piadas sarcásticas foram imediatas e epidêmicas. 
Na
 hora em que entramos em cena, o clima de deboche seria proposital pois dublaríamos a canção, 
"Concheta", um hino à cafonice, mas o ambiente em que estávamos era tão 
autenticamente cafona que a nossa pilhéria em cima desse tema, tornava-se ainda mais hilariante, pelo fato das pessoas não perceber que 
debochávamos daquela atmosfera, e eles simplesmente estar a apreciar-nos por não 
perceber a galhofa. Então, o Pituco Freitas improvisou e começou a interagir 
com as pessoas nas mesas. Em um dado instante, foi uma das cenas mais 
engraçadas que já vi na TV, pois ele apanhou o pé de uma mulher e começou a 
cantar, ao usá-lo como um microfone. A mulher ficou constrangida, os 
técnicos da TV, entreolharam-se, mas a cena surreal teve que prosseguir 
com a música em curso... para agravar, ele levantou-se e sob um ato 
tresloucado, levantou a perna da mulher para continuar nessa 
brincadeira, ao suspender o seu vestido e assim deixá-la sob uma constrangedora 
posição, com a coxa de fora. 
Por sorte, o homem que a acompanhava na mesa,
 não devia ser o seu marido ou namorado, de fato, e não teve reação, ao ficar constrangido também, por ser o foco das atenções com a câmera em 
cima a filmá-los. Quando acabou a música, a reação mecânica em aplaudir e 
sorrir da parte do público, foi hilária, ao deixar-nos em situação difícil, pois estávamos 
a explodir em gargalhadas. Tivemos que conter esse ímpeto, pois a 
seguir o tal Reynaldo iria realizar uma micro entrevista, muito 
provavelmente com o próprio Pituco Freitas, a seguir o raciocínio padrão de que o 
cantor seria o líder do grupo. E foi o que aconteceu, com uma entrevista mediante
perguntas triviais e todo mundo na plateia a fingir que éramos mais um 
artista brega que executara um bolero cafona, como qualquer outro. Foi 
hilário e minha lembrança foi de que esta aparição, foi uma das mais 
engraçadas das quais eu participei, em programas de TV. E haveriam outras
 engraçadas, ainda com o Língua de Trapo, conforme relatarei logo mais... 








 
Nenhum comentário:
Postar um comentário