sábado, 5 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 70 - Por Luiz Domingues

Em um outro programa que participamos nessa mesma época, foi ainda pior. Tratava-se de uma programa cafonérrimo na grade da TV Gazeta, cujo apresentador chamava -se, Reynaldo. Esqueci-me de seu sobrenome infelizmente, e o nome do programa era o nome do sujeito, algo do tipo : Reynaldo "Beltrano" Show ou coisa que o valha.
Fora uma imitação ainda pior do horrendo, "Clube dos Artistas", um super Kitsch show noturno com cantores brega e boçalidades em geral, exibido pela extinta Rede Tupi, no início dos anos setenta. Com aquela estrutura típica de boite brega, os artistas apresentavam -se a dublar as suas músicas, ao circular por mesas, onde casais formados por figurantes fingiam estar a viver uma noitada romântica dentro de um Night Club. Então, imagine ser a imitação barata de algo terrivelmente brega que fora o Clube dos Artistas...  pois tratava-se de um verdadeiro show de horrores, com cantores brega em sua maioria, a desfilar seu repertório composto por boleros cafonas e mal gravados, lançados por gravadoras de baixo nível. 
Para ter-se uma ideia, eu não consigo nem lembrar-me quais foram as outras atrações no dia em que o Língua de Trapo, apresentou-se, tamanha a irrelevância artística desses elementos. O apresentador era um misto de Ayrton Rodrigues com Darcio Campos, e de quebra, lembrava também esses cantores de boleros cafonas, ao estilo de Lindomar Castilho; Waldick Soriano, Manolo Otero e demais similares.

A usar um terno que nem o personagem, "Agostinho" do sitcom "A Grande Família", usaria como figurino naquela ficção, o sujeito ainda ostentava o seu maneirismo igual ao do Silvio Santos, ao usar o indefectível microfone, preso no paletó por um suporte estrambótico, mais a parecer um símbolo fálico, e digno de explicações intelectualizadas da parte dos antropólogos. As pessoas que ficavam na figuração pelas mesas, pareciam ser voluntários não remunerados, pois dava para sentir que apreciavam aquela cafonália toda. As mulheres, exageradamente maquiadas e vestidas como se estivessem em um baile de debutantes, e os homens a considerar-se elegantes, no uso de ternos vagabundos e mal cortados.

Tal como o "Clube dos Artistas" e o seu irmão, o "Almoço Com as Estrelas", as mesas tinham bebidas e porções, a simular o ambiente de uma boite. E claro, com os refletores acesos, todas as bebidas ficavam mornas e os salgadinhos azedavam rapidamente... isso sem contar a maquiagem das moças, a escorrer e o suor dos rapazes, inevitável nessas circunstâncias. Mas o melhor estava por vir. Como de praxe, o Língua de Trapo azucrinava nesses programas, e esse, com toda esse breguice, tornou-se um prato cheio para a sanha natural da banda, nesse sentido. Já estávamos a conter crises de gargalhadas no camarim, só por ver aquela movimentação no ambiente e as piadas sarcásticas foram imediatas e epidêmicas.
Na hora em que entramos em cena, o clima de deboche seria proposital pois dublaríamos a canção, "Concheta", um hino à cafonice, mas o ambiente em que estávamos era tão autenticamente cafona que a nossa pilhéria em cima desse tema, tornava-se ainda mais hilariante, pelo fato das pessoas não perceber que debochávamos daquela atmosfera, e eles simplesmente estar a apreciar-nos por não perceber a galhofa. Então, o Pituco Freitas improvisou e começou a interagir com as pessoas nas mesas. Em um dado instante, foi uma das cenas mais engraçadas que já vi na TV, pois ele apanhou o pé de uma mulher e começou a cantar, ao usá-lo como um microfone. A mulher ficou constrangida, os técnicos da TV, entreolharam-se, mas a cena surreal teve que prosseguir com a música em curso... para agravar, ele levantou-se e sob um ato tresloucado, levantou a perna da mulher para continuar nessa brincadeira, ao suspender o seu vestido e assim deixá-la sob uma constrangedora posição, com a coxa de fora.

Por sorte, o homem que a acompanhava na mesa, não devia ser o seu marido ou namorado, de fato, e não teve reação, ao ficar constrangido também, por ser o foco das atenções com a câmera em cima a filmá-los. Quando acabou a música, a reação mecânica em aplaudir e sorrir da parte do público, foi hilária, ao deixar-nos em situação difícil, pois estávamos a explodir em gargalhadas. Tivemos que conter esse ímpeto, pois a seguir o tal Reynaldo iria realizar uma micro entrevista, muito provavelmente com o próprio Pituco Freitas, a seguir o raciocínio padrão de que o cantor seria o líder do grupo. E foi o que aconteceu, com uma entrevista mediante perguntas triviais e todo mundo na plateia a fingir que éramos mais um artista brega que executara um bolero cafona, como qualquer outro. Foi hilário e minha lembrança foi de que esta aparição, foi uma das mais engraçadas das quais eu participei, em programas de TV. E haveriam outras engraçadas, ainda com o Língua de Trapo, conforme relatarei logo mais...
Continua...  

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