O som do P.A., na passagem de som, estava muito bom. Mas uma situação é fazer o soundcheck com a casa vazia, e outra completamente diferente, é quando este lota com a presença de pessoas. Pois tudo muda ! Os corpos das pessoas influem decisivamente nas ondas sonoras emitidas, como um agente coibidor da emissão e daí, é fundamental que o técnico de P.A. faça algumas correções nas primeiras músicas.
Pois então, como ele poderia fazer isso, a operar atrás do palco ?
O som no palco estava excelente, parecia um disco de tão bem mixado, mas recebemos várias reclamações de amigos, ao dizer-nos que deixou a desejar para o público. O técnico era terceirizado. Ele só aparecia para operar shows ao vivo. No funcionamento normal de som mecânico, havia outro, este sim, funcionário da casa.
Azar total... foi o ápice em meio a tantas desgraças que tivemos naquela semana : O Terço ao resolver voltar na mesma noite, e através de um salão rival e próximo, foi uma triste coincidência. Para brincar com a situação, incluímos a canção : "Hey, Amigo" em nosso set list, e dedicamos para eles. O clima que estava tenso por conta dos aborrecimentos ocorridos durante a semana, amenizou-se à medida que aproximou-se a hora do show ocorrer de fato.
Camarim do Fofinho : Rolando Castello Júnior no centro; à esquerda, Samuel "Samuca" Wagner, que nessa época ainda não era roadie da banda, mas apareceu para assistir, e à direita, Nelsinho, um fã da banda desde o primeiro show, em 1977 !
Claro, os rapázes relaxaram para poder haver um poder de concentração mínimo.
Pedrinho "Wood" Ayoub, guitarrista do Tomada à época, e Marcello Schevano, no camarim do Fofinho.
O que tumultuou um pouco foi a desorganização que tivemos naquele dia em específico, por não contar com roadies profissionais.
Da esquerda para a direita : Marcello Schevano; Eduardo Donato, e Rodrigo Hid. Donato era colega da Faculdade do Rodrigo, e pertencente portanto a uma nova geração de estudantes de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, com os quais eu teria amizade, ao repetir a tendência iniciada com a safra de amigos que lá firmei em 1979, da qual fundou-se o Língua de Trapo...
Foi tanta gente a tentar ajudar, entre os meus "Neo-Hippies", que estes culminaram em atrapalhar o processo. Além de um sujeito que apareceu lá de última hora e externou a sua vontade em ser nosso roadie, a todo custo. Não vou nomeá-lo, para não comprometê-lo, mas trata-se de um figura famosa em camarins de bandas brasileiras tradicionais setentistas. É normalmente um bom rapaz e sabe trabalhar como roadie, mas quando bebe ou fica sob o efeito de drogas, torna-se inconveniente. Pois ele estava a perturbar-nos fortemente, porém, de uma forma insana, auto-sabotou-se ao enrolar-se em uma fita "Silver Tape", e completamente atrapalhado, ficou imobilizado... ao demorar para conseguir safar-se, e deixar-nos então, em paz. Entre os meus "Neo-Hippies", lembro-me bem das presenças de Ricardo Schevano (baixista do Baranga, nos dias atuais); Toni Peres (irmão do atual baixista do Klatu, Alexandre "Leco" Peres); Carlos Fazano; além de Marcelo Burani (sobrinho de Diógenes Burani, ex-Moto Perpétuo), Fernando Minchillo etc.
Os irmãos Hid : Rodrigo e Renata, no camarim do Fofinho
Lembro-me também dos pais do Marcello Schevano, ter comparecido, além da irmã do Rodrigo. E nenhum outro familiar.
Luciano"Deca" Cardoso e eu, Luiz Domingues, no camarim do Fofinho. Deca foi durante cinco anos, meu colega no Pitbulls on Crack, sendo bastante citado no capítulo dessa banda, naturalmente.
O camarim mostrou-se pequeno, e o caminho para o palco muito perigoso, por ser sinuoso e com degraus perigosos. À medida que chegara o horário do show, os problemas que tivemos ao longo da semana, com o acidente do Marcello, e o problema grave de saúde com um ente querido do Junior, saiu momentaneamente de nossa atenção e o foco foi para a nossa performance no palco. E claro que eu estava animado !
E lá estava eu, Luiz Domingues, no camarim do Fofinho, todo "Flamboyant", feliz por estar a iniciar uma jornada em prol de um resgate estético 1960 / 1970, enfim...
Aquele show foi a concretização de quatro meses de trabalho, entre os ensaios; procura por um espaço; divulgação etc. Além disso, estarmos prestes a subir ao palco, foi uma realização pela semana difícil que tivemos. E uma outra questão particular em minha visão : marcou o êxito por quase dois anos de trabalho dentro do projeto Sidharta.
O show começou enfim... entramos com
: "Não Tenha Medo" e "Festa do Rock", sem interrupções. Seguiu-se "Ser" e
"Tudo Vai Mudar". As músicas novas foram bem aplaudidas, e chegaram a
provocar assovios. Houve também uma quase comoção quando tocamos músicas do primeiro disco da Patrulha do Espaço, da época do Arnaldo Baptista, e reconhecidas por fãs inveterados e antenados da banda, tais como "Sunshine"; "Sexy Sua", e "Raio de Sol". Músicas clássicas dos álbuns da Patrulha, tais como : "Sai Dessa Vida", com roupagem Funk-Rock, bem setentista; "Ruas da Cidade"; "Depois das Onze", e "Espere Aqui por Mim", levou os fãs ao delírio. Deu para sentir que não esperavam uma energia tão grande com a banda a tocar os seus clássicos, com três novos membros, e só o Rolando Castello Junior como remanescente da formação original. Tocamos também : "Bruxas"; "Atenção"; "Bomba"; "Meus 26 anos" e "Columbia". Da safra nova, além das que já citei, tocamos "Retomada"; "Nave Ave"; "Terra de Mutantes", e "O Pote de Pokst", esta por sinal, arrancou gritos, pelo seu clima "zeppelineano", com uma aura mística muito grande, envolta em brumas, que seriam apreciadas por Jimmy Page. O palco estava preenchido com ornamentos, e dúzias de
incensos a queimar.
Todo o sonho do Sidharta em trazer o "religare" das
chamas sessenta / setentistas estava ali representado. Em cima dos
amplificadores, colocamos estátuas de Divindades orientais; pedras coloridas, e
incensos. Espalhados pelo palco, diversos ícones do símbolo hippie; em cima dos
teclados, um porta retrato com a imagem de Timothy Leary...
O símbolo Hippie foi espalhado em vários pontos do palco !
E assim, seguiu-se a noitada, com músicas do repertório clássico da banda, a mesclar-se às novas, e além de tudo, para resgatar também a fase do Arnaldo Baptista, pois a Patrulha do Espaço não tocava essas músicas, desde que o cofundador da banda saíra da nossa banda, em 1978. Tirante a surpresa irônica em tocarmos : "Hey Amigo" d'O Terço, e uma dos Beatles ("She Came Through in the Bathroom Window"), mas esta última, com o arranjo da versão do Joe Cocker.
O show foi um sucesso, pois mostrou toda a versatilidade
dos dois garotos a revezar-se aos teclados; guitarras a mil por hora;
vocalizações dos três da frente; a presença da flauta... enfim, foi uma nova Patrulha do Espaço a (res)surgir. O público foi bom para os padrões do salão, mas aquém do que esperávamos, com cento e cinquenta pessoas. Deu tudo certo, apesar das agruras pessoais que vivemos daquela semana !
Semana terrível, sem dúvida, mas o show correu bem, apesar dos pesares, e
o público que ali esteve presente, viu uma apresentação marcada pela garra;
técnica e esforço pelo resgate da Patrulha do Espaço às suas próprias raízes, ao libertar-se dos
ranços em torno do Heavy-Metal, que haviam ocorrido em seus últimos anos.
Como adendo, acrescento que sempre brincávamos nos intervalos dos ensaios, quando tocávamos clássicos do Rock, informalmente. E nesses termos, costumávamos tocar : "Hey Amigo", com o Marcello a pilotar o órgão Hammond. Essa versão ficou muito boa, com os três da linha de frente a cantar, e o Rodrigo a solar a guitarra.
Como adendo, acrescento que sempre brincávamos nos intervalos dos ensaios, quando tocávamos clássicos do Rock, informalmente. E nesses termos, costumávamos tocar : "Hey Amigo", com o Marcello a pilotar o órgão Hammond. Essa versão ficou muito boa, com os três da linha de frente a cantar, e o Rodrigo a solar a guitarra.
Quando soubemos que o Terço iria fazer show
de volta, como nós, no mesmo dia, e por coincidência, em um local que mostrava-se rival da casa onde
tocaríamos, resolvemos incluí-la no set list, como uma brincadeira. Mas sem
ironia, pois gostávamos (gostamos) d'O Terço, é claro. E mais um detalhe sobre
esse show : ele foi filmado ! Não possui uma qualidade muito grande, pois
tratou-se de uma câmera sob formato VHS, e o rapaz que filmou (Edson Vicentim), não gravou o show
inteiro, infelizmente. Estudo para que em breve, possamos lançar trechos desse material no You Tube.
Todas as fotos a mostrar os bastidores / camarim e do show, são do acervo de Rodrigo Hid, com exceção da penúltima, onde apareço no palco sozinho, que é de meu acervo, e foi clicada pelo Samuel "Samuca" Wagner. As demais são clicks de Eduardo Donato.
Continua...
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