Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
domingo, 28 de setembro de 2014
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 57 - Por Luiz Domingues
A venda do CD Chronophagia começou muito bem, se comparados aos tempos atuais (refero-me a 2012, quando escrevi este trecho), mas preocupantes para os padrões de quem vinha a acompanhar o mercado, desde os anos setenta. No show de julho, no Centro Cultural São Paulo, por exemplo, vendemos de uma forma expressiva, ainda no ritmo de uma Era pré-download de internet. Nas lojas, também alavancamos boas vendas, embora já fosse sob um padrão abaixo do que costumávamos vender nas décadas anteriores. Certos lojistas estabelecidos na Galeria do Rock em São Paulo, por exemplo, que costumavam comprar caixas fechadas, passaram a fazer pedidos bem mais modestos, e isso foi apenas o começo de uma nova fase da indústria fonográfica. O próximo show foi absolutamente exótico !
Após várias reuniões com os donos do estabelecimento em questão, a demonstrar ter muitas dúvidas sobre ceder-nos um espaço (visto tratar-se de uma casa sob orientação exclusivamente dedicada ao mundo das bandas covers), finalmente o Rolando Castello Júnior selou um acordo com eles e assim, fomos tocar em um dia pouco convidativo, e pior, sob regime de bilheteria. A casa era bem montada, sem dúvida, mas não era definitivamente, ambiente adequado para abrigar artistas autorais.
Criada e estruturada para dar espaço às bandas cover, seus mandatários tratou-nos com um tipo de desconfiança absoluta, e isso refletiu-se na total falta de empenho da parte da casa para promover o nosso show. Tudo bem que estavam acostumados a lidar com bandas cover e lotar a casa nesse tipo de mentalidade mais fácil, comercialmente a falar, mas faltou sensibilidade, para dizer o mínimo, por não empenhar-se para promover uma atração artística mediante cunho autoral, com história; tradição e currículo no bojo.
A tal casa chamava-se : "Red Onion" e localizava-se em um bairro residencial da cidade de Santo André, no ABC paulista. Nessas reuniões intermináveis que o Junior teve que fazer para selar a data, eu cheguei a estar junto em algumas. Certa vez, em pleno sábado, pude verificar que a casa estava abarrotada, com muito público na calçada a tentar entrar, mas de fato, não cabia mais ninguém em seu interior. Tocava na casa, nesse instante, uma banda cover do The Doors, e a garotada esgoelava-se, vibrava etc. Ora, essa mesma juventude que cultuava uma banda sessentista muito importante, que eu também gosto e influenciou-me, não dava a mínima para bandas autorais antenadas nessa mesma proposta estética. O raciocínio que tive, foi : que contradição ! E o pior de tudo : o palco, na verdade estava montado dentro de um aquário !
Essa foto acima é do show do Camerati, em Santo André, no início de 2000, com Eduardo Donato, fotógrafo e colaborador, sentado à frente da banda.
Isso mesmo o que você leu, caro leitor... as bandas enclausuravam-se nesse aquário fechado mediante a ação de uma porta frigorífico, e as pessoas do público não sentiam o impacto do som gerado diretamente do palco, mas sim, mixado e distribuído por caixas espalhadas por toda a casa.
Foi muito esquisito ver uma banda a tocar dentro de um espaço envidraçado e tornou-se inevitável não sentirmo-nos como animais no Jardim Zoológico. No dia do show, após a passagem de som, causamos estranheza entre os donos do estabelecimento, pois nós havíamos pedido-lhes a autorização para usarmos incensos durante o nosso show, como estávamos acostumados a proceder em todos os nossos espetáculos, e foi engraçado vê-los com semblantes atônitos diante de tal questionamento. Lembro-me que quando fomos vestir-nos para o show, a dona do estabelecimento cochichou com algumas funcionárias : "-eles produzem-se para tocar"... evidentemente a demonstrar não estar habituados a lidar com música autoral etc. E o show foi esquisito.
Apesar do equipamento com um bom nível, e uma monitoração digna, dentro do "aquário", foi muito esquisito o som ambiente ali dentro, sem nenhuma ressonância. Nada ali tocado, produzia o efeito do "sustain", e isso causou-nos uma sensação incômoda para tocar, sem dúvida. Um fato inusitado ocorreu quando o Rodrigo resolveu dar um gole em um copo de cerveja, entre uma música e outra. O técnico cortou a monitoração e mediante um tom duro, advertiu-o que era proibido beber ali dentro. Qual o motivo ? O perigo de cair e melar o carpete ? Só pode ter sido isso, pois aquilo não era um bar ? Um diálogo ríspido foi travado, mas ao notar a intransigência do sujeito e o fato de estarmos inteiramente em suas mãos, pois ele cortaria o som no momento em que desejasse, finalmente os ânimos acalmaram-se e dessa forma, ao acatar a orientação, o Rodrigo deixou para beber depois. Portanto, o show prosseguiu.
Samuel "Samuca" Wagner, Rolando Castello Junior e Nelsinho, no camarim do Fofinho Rock Club, em agosto de 1999
Outro fato para ser lembrado, fora o aniversário do Samuel Wagner, roadie da Patrulha do Espaço e no meio do show, tocamos "Birthday", dos Beatles, para dedicá-lo ao seu natalício. Para não dizer que não tocamos covers...
E assim foi essa aventura insana, ocorrida no "Red Onion" de Santo André / SP, no dia 14 de setembro de 2000, e com um público aproximado de oitenta pessoas, muito aquém para o padrão das sextas e sábados com as atrações covers habituais, mas significativo para um dia teoricamente inativo e sob uma divulgação fraca para uma banda autoral do nosso porte.
Continua...
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