Quando voltamos ao Ferro Velho Bar, para cumprirmos o show, tivemos a boa surpresa de que a casa estava lotada. Para a surpresa do proprietário, estava abarrotada, na verdade, visto que normalmente não lotava assim com as atrações em torno das bandas cover locais, ou da região.
Claro, o público em sua maioria foi formado pela juventude local, acostumado às noitadas propiciadas pela ação de bandas cover e seria uma incógnita a reação diante de uma banda autoral, sem covers. A única música conhecida que tocaríamos para o conhecimento da maioria presente, provavelmente seria : "Ando Meio Desligado" dos Mutantes, mas com o nosso arranjo, cheio de improvisos, e certamente a maioria ali só reconheceria pela versão do Pato Fu, nem mesmo em relação à original dos Mutantes.
Foi o dia 14 de julho de 2000, e duzentas e cinquenta pessoas espremeram-se dentro do bar sob dimensões modestas. Todavia, o Dárcio e o Marcos Cruz não estavam isolados, pois outros amigos deles, estiveram presentes. Havia um pequeno, mas entusiasmado contingente de admiradores da Patrulha do Espaço, conhecedores da nossa história e repertório.
Resenha sobre o show do Ferro Velho em Avaré, com fotos ao vivo da banda a atuar naquela casa noturna.
O show foi muito energético e bem recebido mesmo ao tratar-se de uma banda com a proposta em apenas executar o seu trabalho autoral. Os Rockers iniciados soltaram gritos a denotar entusiasmo, em diversos momentos. Por reconhecer músicas antigas ou por detalhes que só iniciados notariam, com algum solo mais intrincado; viradas ousadas da bateria; linhas de baixo agressivas, e nas intervenções dos dois meninos aos teclados, sempre brilhantes, à moda antiga dos tecladistas setentistas. Claro, em "Ando Meio Desligado", as reações dos não aficionados exacerbaram-se, e a menção à In-A-Gadda-Da-Vidda, do Iron Butterfly, arrancou uivos dos Rockers antenados, e em Avaré / SP, não foi diferente de todos os shows que fazíamos regularmente.
O dono da casa pediu-nos para dividir o show em duas partes, para não fugir muito do padrão das noitadas do seu estabelecimento e no intervalo, lembro-me que uma garota entregou-me um bilhete. Quando o abri, vi que estava escrito : "toquem Pink Floyd"... pois muito bem, eu também amo o Pink Floyd, mas ali tratava-se de um show da Patrulha do Espaço e ao dizer-lhe que só tocaríamos músicas próprias, ela mudou o semblante e saiu a resmungar que eu não iria atendê-la por má vontade, ou coisa do gênero. Cáspite, como o público jovem estava desacostumado a aceitar música autoral !
Quando eu fui adolescente nos anos 1970, pensava justamente o contrário ! Se uma banda começava a tocar covers, eu irritava-me, e quase todo mundo pensava igual, não foi uma avaliação minha, exclusivamente... ao aproveitar o que seria um set mais longo que o habitual, tocamos diversas outras músicas não previstas normalmente, para ensaiar ao vivo e também para delírio dos Rockers ali presentes. Quando encerramos, já passava das quatro horas da manhã, e enquanto os roadies desmontavam o equipamento, conversei longamente com o Marcos Cruz, onde falamos sobre os planos da Patrulha do Espaço naquele momento; como surgiu essa formação; lembranças minhas dos anos setenta etc. Foi uma conversa informal, mas como jornalista experiente que era / é, usou todo esse material verborrágico que ali gastamos e ao acrescentar as suas impressões pessoais sobre o show, escreveu uma das mais completas resenhas de um show que eu já li, e que publicou alguns dias depois no Site Wiplash.
Falou sobre o que presenciou desde a realização do nosso soundcheck vespertino; minúcias sobre o show e citou a nossa conversa particular, para encerrar poeticamente, ao falar sobre a sua última visão, ao ver o micro ônibus da banda dobrar a esquina e sumir de sua vista, já com os raios do sol a anunciar a manhã do domingo. Não tivemos muito tempo para descansar, pois tínhamos quase trezentos Km de estrada pela frente, entre Avaré / SP e Londrina / PR.
Continua...
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