O próximo show foi realizado também no interior de São Paulo. Desta vez o destino foi Campinas, que pelo porte de metrópole, com mais de um milhão de habitantes, nada tem de pacata como supõe-se ser as cidades interioranas. O estabelecimento em que apresentar-nos-íamos seria o "Delta Blues", uma tradicional casa em Campinas, e muito famosa no circuito de artistas do Blues, inclusive internacionais, que vinham ao Brasil. Não representava exatamente a nossa dita "zona de conforto", mas a casa também passava por modificações, e há tempos deixara de ter essa característica fixa como um "Templo do Blues", e vinha por abrir as portas regularmente para bandas de Rock, e até bandas cover naqueles tempos.
O grande artista plástico e web designer, Johnny Adriani
A sua decoração mostrava-se impecável, ao lembrar as casas de blues do sul dos Estados Unidos, e pelas paredes, a decoração revelava-se fantástica, mediante pinturas assinadas pelo artista plástico, Johnny Adriani, com motivos sulistas americanos, a passear entre as tradições dos Blues e também indígenas norte-americanas. Cabe explicar que o Johnny foi o fundador da casa e responsável direto por toda a sua decoração e ambientação. Infelizmente, ele já não era mais o dono da casa nessa época, e se por um lado ainda mantinha-se admirável a estrutura, ficara também visível a sua decadência, sob uma nova direção, não tão, digamos, preocupada em manter a sua manutenção. Isso refletiu-se também na parte sonora. O P.A. da casa era adequado às suas dimensões, mas estava bem machucado pela ação do tempo, e deixava muito a desejar nesse sentido.
Mesmo assim, na base da boa vontade e do improviso, deixamos tudo arrumado da melhor possível, e sabedores de que o volume do palco haveria por ser controlado para adequar-se à realidade do combalido P.A. da casa. Fomos jantar, e quando voltamos, a casa já estava aberta. Por ser uma quinta-feira, estávamos um pouco céticos quanto à presença de um público numeroso. Contudo, na medida em que os ponteiros do relógio avançaram, víamos que a casa estava a lotar e por uma questão promocional : a quantidade de mulheres mostrou-se muito maior do a que de homens, devido ao preço reduzido, cobrado para o sexo feminino. Ficou óbvio que se a casa estava a lotar com a presença de mulheres bonitas, naturalmente os rapazes seriam atraídos por tal fator e sendo assim, quando fomos convocados a subir ao palco, a casa estava bem cheia.
Mesmo ao saber que faríamos um show autoral, o gerente da casa pediu para o dividirmos em duas partes, ao moldar-nos no padrão das exibições de bandas cover. Isso não seria a melhor medida, mas também não haveria por ofender-nos, portanto assim procedemos. A primeira parte do show foi excelente. O grosso do público respondeu bem, ao aplaudir e berrar, literalmente, ao final das músicas, embora fosse nítido tratar-se de uma mera empolgação de ocasião e não exatamente motivada por uma comoção em torno da banda em si. Claro, houve a presença de vários fãs da banda, também. Gente de Campinas e cidades próximas que apareceram com discos antigos da Patrulha do Espaço em mãos, para caçar autógrafos no pós-show, certamente.
Somente ao final da primeira parte do show, aconteceu um anti-clímax para quebrar o bom astral que estávamos a ter. Enquanto tocávamos, uma briga estourou, e um tumulto generalizado, instaurou-se. Não teve nada a ver com a banda, mas foi sim uma briga entre dois rapazes do público e os seguranças da casa, por causa da entrada forçada de ambos, ao recusar-se a pagar a entrada. Teve socos para todos os lados; copos e garrafas a estilhaçar-se pelo chão; meninas a gritar, em suma... se aquilo era um bar norteamericano ao estilo sulista de blues, realmente honrou as suas tradições...
Os seguranças foram ágeis, expulsaram os brigões, mas o clima estava quebrado, naturalmente. Quando voltamos para a segunda entrada, a reação estava muito mais fria, infelizmente.
Tudo isso aconteceu no dia 30 de novembro de 2000, e o público no Delta Blues contou com aproximadamente duzentas pessoas, ou seja, muito bom para o tamanho da casa. Para piorar, tivemos um problema de ordem interna durante a parte final do show, e a volta para São Paulo foi tensa dentro da van. Por conta disso, tínhamos como próximo compromisso uma aparição em um programa de TV, dois dias depois, mas o clima pesado deixou um ar de incerteza quanto a esse compromisso. Falo sobre ele logo a seguir, e o quanto foi uma experiência hilária.
Continua...
Eu morava em Campinas na época e não poderia comparecer à noite, então fui ao Delta de tarde na esperança de conhecer o pessoal. Deu certo, conheci meu ídolo Jr e todo o novo pessoal. O Luiz também conhecia pois tinha o disco da Chave do Sol. Tenho as fotos deste dia guardada até hoje.
ResponderExcluirQue sensacional, Cristiano !
ExcluirTremenda lembrança bacana, fiquei muito contente por você colocar seu adendo aqui neste capítulo.
E já que citou a história da Chave do Sol, você já deve ter visto aqui neste meu Blog 2, os capítulos da história dessa banda. No meu Blog 3, tem a história completa também, e com capítulos mais longos, no formato de capítulos de um livro impresso. É mais confortável para ler.
Eis o link, abaixo :
http://luizdomingues3.blogspot.com.br/2015/05/a-chave-do-sol-capitulo-1-rock-autoral.html
Grande abraço, Cristiano !