O show começou com energia, com músicas pesadas, Rocks absolutamente
crus, a reproduzir a estética do Punk-Rock, como "Days.e", de seu álbum solo: "No Meio da Chuva eu Grito Help", por exemplo.
O
público respondia bem, mas à medida que o show se pôs a caminhar para a
sua metade, a energia foi baixando, pois os fãs mais fieis queriam ouvir
mais material do Cabine C e Titãs, bandas Pós-Punk em que o Ciro foi
membro, naturalmente, e pelo que percebi, não conheciam com profundidade
as músicas de seus CD's solo.
Mesmo assim, tivemos momentos
muito bons, como em: "Até os Anos 70", "Mulher Ampulheta", "Praia de
Marfim", "As Formigas estão Vendo Tudo" etc.
O fato, é que aquele estava a ser o nosso primeiro show perante uma multidão, e amparados por um equipamento de som e iluminação bons, com pressão de show, visto que os dois que havíamos feito em 2011, tinham ocorrido em casas noturnas muito aquém das condições adequadas.
E a despeito de termos perdido o apoio de voz da Luciana Andrade, uma cantora sensacional, o show em São Carlos-SP não foi tão psicodélico como os anteriores, mas muito mais Rock'n' Roll, com movimentação de palco e misè-en-scene, a aproveitar o fato de ser um palco com tamanho mais avantajado e a óbvia presença de iluminação, o que torna tudo melhor para o artista. Mas houve um momento que reputo ter sido mágico nesse show!
"Days' e" no show de São Carlos:
https://www.youtube.com/watch?v=j9RB3BPX01w
Por conta de estarmos em uma plataforma da estação ferroviária local, e pelo fato dos trens não interromperem a sua passagem, visto que eram trens de carga, e não parariam para apanhar ou deixar passageiros, durante todo o período da tarde e a noite, eles passavam solenemente e a produzir um barulho incrível.
"As Formigas estão Vendo Tudo" no show de São Carlos:
https://www.youtube.com/watch?v=10gocX6Q8Jw
Enquanto esperávamos a nossa vez de tocar, com as bandas de abertura a se apresentar, não me lembro de ter passado um trem daquele porte, mas quando estávamos quase a encerrar o nosso show, um bólido desses se aproximou. Mesmo com a pressão do PA, nós sentimos a vibração do enorme trem que se aproximava, através do ruído que progressivamente se colocou a aumentar nos trilhos.
Estávamos a tocar a canção: "Planos", que é uma canção fortemente influenciada pelo Pink Floyd, e o trecho que tocávamos quando da aproximação do trem, era épico, a evocar as melhores tradições de Gilmour-Waters-Wright-Mason-Barrett, e o público foi a entrar na hipnose proposta pelo looping harmônico da canção, e também ao perceber que o trem se aproximava, gerou um momento de catarse coletiva incrível.
Lembro-me
que eu e o Ciro nesse momento, entramos em uma sincronia de movimentos e
no meu caso, mesmo ao ter que tocar simultaneamente, consegui soltar os
braços também, nos intervalos entre as notas e pareceu que estávamos
a flutuar com a música.
Confesso que emocionei-me. Aquilo, se fosse um efeito de show, teria emocionado o público, mas nós da banda estaríamos a esperar e por saber ser algo artificial, mas o fato de ter sido absolutamente espontâneo, foi muito mágico. Quando a locomotiva enfim passou por nós, o público urrou e aquilo foi delirante, mesmo.
Naquela altura dos acontecimentos, eu já tinha trinta e seis anos de carreira, e há mais de um ano, já estava a escrever esta autobiografia na antiga plataforma da extinta Rede Social, Orkut. Todavia, reputo esse acontecimento, como um dos mais bonitos de todos os tempos na minha trajetória musical, e vou guardá-lo na memória, com muito carinho.
Continua...
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