sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 77 - Por Luiz Domingues

 
E por falar em boas resenhas sobre o primeiro CD, eis a transcrição literal do que o jornalista Antonio Carlos Monteiro, escreveu nas páginas da revista "Rock Brigade", n° 240, de julho de 2006:

"A discussão é cabível: até que ponto a reverência ao passado recente é saudosismo saudável e até que ponto é saudade mal curada?
Porque nunca se falou nos anos 60 (menos) e 70 (mais), no que se refere ao Rock, como nos tempos atuais e a discussão sobre se isso é bom ou ruim, parece interminável. Este quarteto paulistano talvez tenha conseguido encontrar o ponto exato para tratar do assunto. Pra começar, Rodrigo Hid (V/G), já tocou na Patrulha do Espaço; Luiz Domingues (B), foi D'A Chave do Sol, do Pitbulls on Crack e da Patrulha, além de incontáveis outras bandas; Xando Zupo (G), tocou com o Harppia e com o Big Balls (o batera Ivan Scartezini entrou depois de o disco ser gravado). Ou seja, é um povo com estrada e experiência suficiente pra não cair fácil nessa armadilha. Assim, o Pedra tem um som calcado lá no passado, é óbvio, mas olha pra frente, sem medo de incorporar novas tendências e novas sonoridades à sua música. Os flertes são vários, até a Soul Music, o Funk e a música brasileira dão as caras por aqui, só que sem jamais perder o foco, que é o Rock bem tocado, mas sem ser cerebral, feito por músicos que não tem a tôla pretensão de brilhar mais que a música.

Nota : 9,0"


Bem, a crítica está ótima, sem dúvida. Ficamos contentes pelo Tony (Antonio Carlos Monteiro, jornalista exemplar e experiente, que eu conhecia desde os anos oitenta, quando ele trabalhava na revista Roll), ter enxergado que éramos uma banda de Rock, sim, mas aberta à outras tendências, e ele acertou sobre alguns dos estilos que influenciavam-nos.

Gostei muito também da colocação final, quando exaltou o fato de que não exagerávamos nos virtuosismos, sob o risco de tirar o foco da música em si. De fato, sempre trabalhamos de uma maneira muito focada nesse sentido. Não somos, como músicos, nem nunca seremos, mais importantes que a própria música que fazemos.
Essa colocação tinha uma razão de ser. 

Como o Tony trabalhava há de muitos anos na revista Rock Brigade, uma publicação que focava 99 % de sua linha editorial no Heavy-Metal, e os seus múltiplos derivados, esse tipo de preocupação era cabível dentro desse universo, pois existem tendências dentro desse mundo, que brigam entre si, por conta desse conceito. Contudo, como não tínhamos nem de longe, qualquer conotação dentro desse universo, para nós, não houve sentido algum tal questionamento.

E o mesmo em relação à questão de sermos ou não influenciados pela música dos anos 1960 e 1970. Eu tenho essa influência decisivamente em minha formação pessoal, particularmente, mas o Pedra não desfraldava essa bandeira. 

E essa preocupação também é típica do mundo do Heavy-Metal, onde existe essa obsessão pela idade cronológica dos artistas e sobretudo, a respeito do seu comprometimento com estéticas que saem de moda sob uma velocidade estonteante. Daí ele ter aberto a resenha, com essa colocação, que é uma preocupação forte dentro desse mundo no qual os leitores daquela revista, vivem. 

Explicadas essas considerações, creio que a resenha foi excelente e o fato de ter sido publicada através de um veículo de um mundo que não era o nosso, por adequação estética, foi ao meu ver, uma prova de respeito muito grande por parte do jornalista, pois mesmo sendo um velho amigo (e mesmo por isso, ele teria total liberdade para dizer-nos abertamente que achava inadequado publicar tal resenha naquele veículo, e nós teríamos entendido perfeitamente).

Continua...

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