quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 234 - Por Luiz Domingues

No domingo, teríamos um compromisso de cunho beneficente para cumprirmos. Havíamos sido convidados a participar de um mini festival em Indaiatuba-SP, cidade na região de Campinas-SP, e cujo objetivo foi reunir fundos para um órgão de assistência aos doentes acometidos de HIV/Aids.
Causa nobre, claro que aceitamos participar sem cachêt e a única exigência que lhes fizemos foi a de nos colocarem para atuar em num horário mais intermediário, ao se evitar que fôssemos "headliner" do festival, pois estávamos na última etapa de uma turnê, e cansados pelo acúmulo de dias na estrada, portanto, gostaríamos de viajar logo para São Paulo.

Pedido aceito, chegamos em Indaiatuba ainda no meio da tarde do domingo.  O local foi um grande ginásio de esportes e como é sabido e nem precisa ser engenheiro acústico para entender, é o pior lugar do mundo para se fazer shows musicais, devido à sua acústica prejudicada não só pela arquitetura abaulada, mas principalmente pelo material geralmente usado nesse tipo de construção, que usa teto de zinco entre outros tipos de materiais inadequados para se evitar a reverberação sonora. Faz-se um eco infernal ali apenas com os eventos esportivos e as pessoas a berrar nas arquibancadas como torcedores, portanto, qualquer sonorização ali tornar-se-ia um show de horrores com a certeza pela reverberação absoluta e com microfonias incontroláveis para qualquer técnico de PA poder coibir.

O PA contratado para o evento esteve compatível com as dimensções do ginásio, mas foi a certeza que mesmo sendo o técnico o mais competente possível, não haveria milagre que tornasse o áudio inteligível, mesmo com a banda a cumprir dinâmica no padrão dos monges trapistas naquele palco.

Enfim, resignados, a nossa intenção fora só colaborar com a causa e dar o recado rápido aos Rockers locais, e entre eles haviam fãs da Patrulha do Espaço, certamente, atraídos pela publicidade e claro que teriam de nós a melhor performance possível, apesar das dificuldades sonoras inerentes. 

O produtor se mostrou muito agradecido com a nossa presença e convenhamos, não é todo artista que se dispõe a fazer shows beneficentes com a gratuidade total. No meio artístico/show business, existe até uma praxe que é a do "cachêt beneficente", onde o artista se coloca à disposição para ajudar causas nobres, mas a cobrar um cachê com valor muito aquém de seu patamar habitual, porém, nunca deixa de cobrar, pois em altas esferas, o ato de não cobrar é sinal de amadorismo.

Não foi o nosso caso, pois sabedores das dificuldades da produção local para fazer o evento acontecer, qualquer dinheiro que pedíssemos, ainda que fosse uma ajuda de custo, pesaria no orçamento apertado do qual dispunham. 

Muito sensibilizado pela nossa postura, o rapaz em questão, que também era músico e apresentar-se-ia com a sua banda chamada: "Laranja Mecânica", não mediu esforços para nos agradar no que esteve ao seu alcance e sendo assim, após o soundcheck, ele nos colocou em um hotel só para usarmos os chuveiros, e um rápido relaxamento, e fez questão de pagar o nosso jantar. 

E até exagerou, pois quando soube que eu era o único vegetariano da comitiva, e a sua ideia primeva fora nos conduzir a uma churrascaria, ele deu-me a opção de eu ir a uma pizzaria e quando surgiu a ideia, outros também preferiram me acompanhar. Com duas turmas distintas ali formadas, a minha comitiva rumou para uma ótima pizzaria no centro da cidade, e o rapaz exagerou e ao antecipar-se fez um pedido absurdo na monta de oito pizzas grandes, com o argumento que nós levássemos a enorme sobra para comermos na estrada a caminho de São Paulo, a posteriori

Comemos muito bem até nos satisfazermos inteiramente, e levamos vários discos intactos na viagem para dividir com o restante dos companheiros.

O show foi de choque, como é de praxe desse tipo de apresentação inserida em festivais com muitos artistas a se apresentarem. Tocamos por cerca de quarenta minutos, ou seja, um pouco menos que a metade habitual de nosso show, mas com bastante energia e os Rockers locais apreciaram muito, apesar de não haver um grande contingente presente no ginásio.

Em um ambiente daquele tamanho, que comportaria cinco mil pessoas, tranquilamente, deve ter tido cerca de trezentas presentes, aproximadamente. Mas a animação do público presente nos contagiou e apesar das dificuldades sonoras inevitáveis em meio a um ginásio de esportes com teto de zinco, nós apreciamos muito tocarmos ali, e pelo fato do palco conter uma extensão grande de comprimento, utilizamos bem tal recurso cênico, com bastante movimentação, que geralmente não fazíamos, pelo fato de mais tocarmos em pequenas casas noturnas com estrutura de palco muito tímida.

Desde sexta com problemas estomacais, e ao exagerar na pizza, não teve jeito, tivemos que parar em um posto na estrada para comprar anti-ácido por que o meu estômago estava a gritar!

Fora esse desconforto pessoal, a viagem de volta foi absolutamente tranquila e ao passar um pouco da meia noite, estávamos a encostar o ônibus na porta da minha garagem, e a descarregarmos o nosso equipamento. Foi mais uma turnê cumprida, e com três bons shows na bagagem.  Em Indaiatuba, nos apresentamos no dia 1º de dezembro de 2002, com cerca de trezentas pessoas presentes naquele ginásio de esportes.  

A próxima parada, foi de volta àquele mesmo quadrante do estado, desta feita em São Carlos-SP, cidade onde já tínhamos vínculos bem firmados, certamente...

Continua...

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