A música, "Sou Mais Feliz", continuava a tocar com boa profusão em uma estação FM de São Paulo, mas não havia indício de que entrasse na programação de outras estações, por extensão. Realmente, o fato de tocar em uma, já foi extraordinário por si só, ao se considerar que dobrava-se a primeira década do novo século/milênio e a cultura maldita do "jabá", estava para lá de sedimentada, há anos.
Foi ótimo ter sido publicada uma resenha em um jornal mainstream e popular que geralmente abria espaço apenas para manifestações culturais popularescas, mas convenhamos, só na cabeça do desconhecido jornalista que escreveu, para deduzir que nosso objetivo de vida foi seguir os passos do "Jota Quest". Particularmente, acho essa banda muito competente, mas se ele tivesse ouvido o nosso disco mais detidamente e ostentasse, sobretudo, uma cultura musical mais avantajada, não teria escrito essa asneira.
Tivemos mais algumas matérias de revistas, com críticas positivas sobre o CD, e creio que foi só o que aconteceu de positivo nesse final de 2006.
Na Revista Roadie Crew, nº 93, que saiu em outubro de 2006, falaram o seguinte sobre o CD Pedra I:
"Mais
uma banda de Rock pesado em português, estilo que parece ter um grande
renascimento nesses últimos anos. Temos vários exemplos de bandas que
seguem esta linha de som, como Tomada, Carro Bomba, Baranga, 1853,
Exxótica, Mahabanda e agora também o Pedra, que embora mais leve, que
seus companheiros de estilo, não perde a qualidade. O grupo é
formado por Luiz Domingues (Baixo e vocal); Xando Zupo (Guitarra e
Vocal); Pedro Hig (Vocal, Guitarra e Teclado) e Alex Soares (bateria,
convidado para a gravação do álbum).
Para o meu gosto pessoal,
acho que as músicas poderiam ser mais pesadas, mas isso é algo que vai
variar de pessoa para pessoa que ouvir o disco. Destaques para , além da
qualidade da gravação, a guitarra de fundo de "Amanhã de Sonho", que
lembra "Always With Me, Always With You", de Joe Satriani; "Reflexo
Inverso", que me lembrou o April Wine; a "zeppeliniana" (especialmente
pelo Slide Guitar), "Estrada"; e para a minha predileta, "Me Chama na
Hora".
Nota : 7.0
Carlo Antico"
Bem,
claro que sou agradecido ao Antico por ter feito essa resenha, em termos
de boa vontade e principalmente por ter esmerado-se, ao ter colocado um
microscópio para achar aspectos positivos nesse trabalho (não que ele
não seja bom, quando é público e notório que o é), mas a levar-se em
consideração que o resenhista era notadamente um aficionado do
Heavy-Metal.
Portanto, eu achei muito interessante o seu esforço
pessoal para pescar qualidades em meio a um tipo de trabalho que passava
longe de seu rol de predileções, portanto, a denotar um sinal de respeito.
Feita essa ressalva que é muito importante para destacar-se, vamos aos fatos:
1)
Maneirismo típico de críticos musicais do mundo do Heavy-Metal/Hard-Rock oitentistas, ele gastou quase a metade de sua resenha
a enfatizar o fato de nossa banda ter a predisposição artística de
escrever letras em português. Ora, isso só é surpreendente para quem
habita esse nicho fechado e obcecado por essa questão, pois é claro que
usávamos o idioma português como língua oficial em nossas canções e nem
passava pela nossa imaginação, cantar em inglês, fator corriqueiro no métier do
Heavy-Metal.
2) Sob uma falha lastimável na digitação da ficha
técnica, quem é "Pedro Hig?" Na nossa banda, eu conheço o Rodrigo Hid,
conforme consta na ficha técnica do disco e também no release oficial que
seguiu em anexo para a redação dessa Revista.
3) Gostei da
honestidade do resenhista ao afirmar que para o seu gosto pessoal, o
trabalho deveria ser mais pesado. Isso deixa claro que o nosso trabalho
não fazia sentido para ele, a grosso modo, mas por isso mesmo, louvo a
sua extrema boa vontade em resenhá-lo, quando em seu lugar, alguém sem a
mesma lisura e consideração, teria descido o malho na obra, a usar de
sua idiossincrasia "metálica" ou na melhor das hipóteses, o nosso disco
teria sido preterido pelo editor, a julgá-lo fora de propósito para
aquela publicação (o que de certa forma, é uma verdade). Bem, claro que
ele era leve demais para o gosto do rapaz, em suma.
4) Cada
pessoa faz uma leitura conforme as suas lentes pessoais, isso é fato da
vida. As associações que ele estabeleceu entre algumas canções nossas e o
trabalho de artistas internacionais, foi mera visão dele e nada teve a ver
com a realidade. Onde ele lembrou do guitarrista "Joe Satriani", digo que
esse referido músico não foi referência para nenhum de nós, em hipótese
alguma.
No meu caso em particular, só sei que ele existe, mas daí a conhecer alguma música sua, existe um abismo. Em outro caso, respeito o trabalho do "April Wine", mas não é nem de longe uma banda que admire, tampouco meus companheiros.
A associação mais próxima que fez, foi com o "Led Zeppelin", mas mesmo assim, se fosse um jogo de "Batalha Naval", o seu tiro teria acertado a água, pois no caso da canção "Estrada", a influência mais correta ali é o "Southern Rock" de bandas como "Allman Brothers Band", "Lynyrd Skynyrd", "Foghat", "38 Special", "Marshall Tucker Band", "Alabama", "The Doobie Brothers" e congêneres.
E por fim, uma surpresa: ao afirmar que a sua canção predileta era "Me Chama na Hora", denotou que absorveu a batucada de samba explícita que existe na música. Nesse caso, nada mau para um fã de Heavy-Metal, que tende a ser fechado em suas convicções.
Discos de Heavy-Metal na mesma seção de resenhas ganharam notas mais altas, o que foi normal, ao se tratar de uma típica revista especializada no nicho. Mas uma nota "7", para um disco de uma banda nada a ver com esse mundo, foi excepcional, eu diria.
Hoje em dia, eu não perderia o meu tempo em encaminhar um trabalho do Pedra para tal publicação. Deixo a ressalva que não tenho nada contra ela e pelo contrário, tenho até um grande amigo em sua equipe de redação, o excepcional jornalista, Antonio Carlos Monteiro.
Contudo, o Pedra não pertence a esse mundo e ter um trabalho ali resenhado não ajudava-nos em nada, sob uma primeira instância. Em segundo lugar, podia até causar um incômodo, pois a despeito de sermos deslocados naquele mundo, pela amizade e respeito que nutriam por nós, claro que iriam resenhar tudo o que enviássemos, mas sempre a estabelecerem ressalvas como o Carlo Antico cometeu, para explicar ao seu leitor tradicional que uma banda como o Pedra era um alienígena ali para eles, mas tinha o seu valor etc.
Essa
é a realidade e fica sempre a questão do respeito mútuo para
profissionais que dignam-se a falar de nós, apesar das disparidades
entre o trabalho e os propósitos da publicação em si. Portanto, saúdo e
louvo a revista "Roadie Crew" e Carlo Antico por essa resenha.
O grande embalo
inicial estava a diminuir, sem dúvida, e claro que hoje em dia, é muito
fácil de enxergar tal dificuldade que estávamos a viver, pelo
distanciamento histórico. Na época, sentíamos uma queda, mas
relevávamos, ao atribuir tal fato ao inevitável "fechamento do Brasil", que
ocorre de dezembro a março, sob um costume enraizado desde 1500...
"Pedra
Desde
já, reconheça-se o mérito de um grupo nacional que decide, em seu disco
de estreia, enveredar por uma atmosfera setentista sem soar datado e
cheirando a patchuli. Só que o fato de seus integrantes não serem
marinheiros de primeira viagem - a banda foi formada a partir de uma
verdadeira debandada da lendária Patrulha do Espaço, de onde vieram os
guitarristas Xando Zupo e Rodrigo Hid (que também toca teclados) e o
baixista Luiz Domingues - certamente pesou na hora de transformar este
disco em uma bela e agradável surpresa. Desenvolvendo um paciente,
acurado e competente trabalho de composição e arranjo, a banda mostra
que quando criatividade, bom gosto e conhecimento musical se unem à
técnica, se fecham os caminhos que levam à indiferença. Há ecos
psicodélicos dos Allman Brothers em determinados licks de "Me Chama na
Hora" e nos quase sete minutos de "Reflexo Inverso", em que Xando e
Rodrigo dão demonstrações de eficiência ao tecer uma teia harmônica
muito bem cerzida. "Misturo Tudo e Aplico" e a ótima "O Galo já Cantou"
são daquelas canções que poderiam estar em um disco do Trapeze de Glenn
Hughes, o mesmo acontecendo com o Rockão "Madalena do Rock'n Roll".
Até
mesmo aquilo que seria o ponto fraco em muitos grupos do gênero - as
baladas -, o Pedra se dá bem na delicadeza Rocker de "Amanhã de Sonho". Ainda vamos ouvir falar muito deste grupo..."
RT
Bem
o "RT" em questão é o jornalista Régis Tadeu, e nesse caso, não só um
dos maiores conhecedores de música e Rock do jornalismo musical
brasileiro, como bem famoso por ser muito exigente.
Foi muito boa a sua resenha, mas como era algo típico da crítica musical brasileira, o início da reflexão do jornalista, é marcado pela insistência em bater na tecla do que é "datado" e no nosso caso, exalta-se o fato de que soávamos setentistas, mas sem o aroma de "Patchouli", ou seja, deveríamos ficar contentes com o fato de termos passado nesse teste de detecção de naftalina?
Que curioso, na mentalidade do jornalista, isso deveria ser uma conquista a ser louvada como um mérito e sem desmerecê-lo de forma alguma, pois eu sei que a sua intenção foi boa, mas a trazer uma outra reflexão a baila, eu pergunto: quando os jornalistas musicais vão libertar-se dessa preocupação com o tempo? Acredito que muito melhorariam no exercício de seu trabalho, se finalmente convencessem-se de que música é atemporal.
Nos demais aspectos levantados, foi uma crítica muito positiva, a exaltar pontos que sobressaíram-se segundo sua percepção pessoal e eu reconheço que com conhecimento de causa.
A citação do "The Allman Brothers" em relação a música: "Me Chama na Hora", não bate com a minha percepção pessoal, pois acho que "Estrada" cabe melhor na comparação estilística, mas isso em nada desabona a crítica dele ao meu ver.
Claro que por tratar-se de uma publicação dirigida a guitarristas e aspirantes, o foco centrou-se mais na performance de Xando e Rodrigo. Natural, que fosse assim.
A comparação com o "Trapeze" foi muito honrosa, naturalmente, e o fato de ter elogiado a canção "Amanhã de Sonho" do jeito que ele fez, denotou que em outras avaliações de outros artistas, talvez não tivesse tanta paciência com baladas. Ponto para nós, portanto.
A frase final, talvez tenha sido a mais emblemática da resenha e representa tudo o que um artista quer que um jornalista fale de seu trabalho: "Ainda vamos falar muito desse grupo".
Ou seja, tem o peso de uma profecia, proferida da parte de quem
geralmente usa como trunfo profissional acertos em avaliações para o
futuro. Em suma, apreciamos e agradecemos a resenha muito positiva. Por outro
lado, já trabalhávamos em músicas novas, que avolumavam-se, a se insinuarem a
vontade para pensarmos já em um eventual segundo disco. E assim encerrou-se o ano de
2006..
Nenhum comentário:
Postar um comentário