Então, a observar do lado de fora o animado baile popular que ali estava a acontecer, percebi que o Edvaldo Santana aproximava-se e ao me avistar com o estojo do instrumento, logo deduziu que eu seria componente de uma das bandas que fariam aquele show compartilhado. Nos apresentamos, e conversamos animadamente, quando ele me contou um pouco de sua trajetória na música, e mesmo sendo uma conversa rápida e sem grande aprofundamento, eu pude extrair algumas impressões muito boas sobre o seu trabalho, como por exemplo a forma como pensava, a sua luta nas músicas para exprimir letras de conteúdo sociais contundentes etc.
Santana falou-me que após o show de choque que faria naquela tarde/noite, se dirigiria com a sua banda para uma casa noturna da periferia, onde tocaria em um outro show mais para o fim da noite, e deu para notar que ele era mesmo um artista batalhador, daqueles que faziam das tripas coração para viver de música, ainda mais autoral, sem nem uma migalha da atenção da mídia mainstream, sem empresário e sem nenhuma estrutura.
Gostei disso, e de pronto, pensei comigo que o seu perfil parecia o de artistas "malditos" como o Zé Geraldo, por exemplo, que tem uma identidade artística parecida e igualmente sobrevive, mantém fãs e seguidores, sem ter apoio algum, tanto empresarial, quanto fonográfico, e muito menos de mídia mainstream.
A seguir, o guitarrista de sua banda chegou e eu notei que ele estava com dificuldades para estacionar o carro na imensa garagem que a galeria possui, mas por conta de burocracia massacrante, sempre é um inferno conseguir a sua liberação para que os artistas o usem.
Os Blues Riders em ação na Galeria Olido, nesse dia. Áureo é o primeiro à esquerda, a usar uma guitarra Gibson SG
Enfim, sanado esse problema para o rapaz, eu observei que chegou o Áureo, guitarrista dos Blues Riders, uma banda que reputo ser uma das mais batalhadoras do circuito underground de São Paulo, com quase vinte e cinco anos de atividades até aquele momento e uma luta incrível para atingir os seus objetivos.
Muitíssimo gentil, o conheço desde o início dos anos noventa, e foi um prazer revê-lo ali nos bastidores do evento. Os Blues Riders tocariam também. Enfim notei a chegada de Kim Kehl, junto à sua esposa, Lara, acompanhados do tecladista/vocalista e gaitista, Claudio Veiga, que também participaria desse show. E o último de nossa banda que chegou, foi o nosso baterista, Carlinhos Machado.
O Luiz Calanca, dono da loja/selo Baratos Afins, era o curador desse show, e chegou animado com a noitada que prometia ser boa e de fato, o foi mesmo.
O
ambiente era um salão envidraçado que pertencia à Galeria Olido, em contato
com a rua, ou seja, a margear a Galeria pelo lado da rua e dessa forma,
por ser envidraçada, dava vazão para que as pessoas que caminhassem tanto pela
avenida São João, quanto pela Rua Dom José de Barros, pudessem ver o show pelo
lado de fora, a lembrar a estrutura da sala Adoniran Barbosa, do Centro
Cultural São Paulo.
Sem uma boa condição acústica, todavia, o segredo
naquele salão envidraçado era tentar tocar o mais baixo possível, para
minimizar a reverberação que seria inevitável.
Sem tempo algum
para realizar um soundcheck, ainda que rápido, vimos que a única solução
plausível seria deixar a banda do Edvaldo Santana ajeitar a toque de caixa o seu set
up, e assim dar uma passada ridiculamente rápida por uma música apenas, para
iniciar o show imediatamente, visto que as pessoas ligadas à produção da Galeria pressionavam
o curador do evento, Luiz Calanca, para abrir as portas para o público
que se aglomerava no local.
Feito isso, o Edvaldo fez questão
de ser o primeiro artista da noite, pois estava com pressa para se
locomover para o segundo show que faria naquela mesma noite. As portas
se abriram e assim que o Calanca deu o sinal, a banda emitiu os seus primeiros
acordes...
Continua...
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