Após o encerramento da nossa micro temporada no Centro Cultural São Paulo, ficamos com um hiato de shows, algo raro para o padrão de agenda que havíamos conquistado até então. Todavia, houve uma explicação plausível para tal.
Na falta de um manager (e a Claudia Fernanda atuava mais como produtora de campo ou "road manager" no jargão em inglês do show business), quem capitalizava as oportunidades para a banda e traçava a logística de turnês, era o próprio, Rolando Castello Junior, portanto, essa tarefa era estafante ao extremo, e não dava margem para descanso.
Sendo assim, quando ele parava de trabalhar em prol da construção da agenda, para se dedicar à turnê como músico e artista, o lado empresarial parava e assim, ficava difícil montar uma turnê atrás da outra a lhe ofertar uma continuidade firme. Nessa dinâmica, quando ele retomava os seus esforços como "empresário", um terreno havia sido perdido e a próxima turnê poderia demorar a acontecer.
Portanto, em agosto e setembro de 2002, não realizamos shows, e só voltaríamos à estrada em outubro, aí sim a protagonizarmos uma boa sequência de shows até o final de 2002.
Nesse hiato, demos prosseguimento à mixagem do novo álbum, a enfrentar as sessões, notadamente estranhas, naquele estúdio acoplado à uma igreja evangélica, no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo.
O técnico era um rapaz competente, não vou negar, mas nos cansava com as suas observações sonoras baseadas em música gospel que ele apreciava com entusiasmo, e com a qual estava acostumado a gravar na proporção de 100% da sua clientela e nós, os "seculares", cabeludos e Rockers, éramos os verdadeiros "estranhos no ninho" naquele ambiente.
É bem verdade que o CD Lift Off do Pitbulls on Crack fora masterizado em sistema digital e eu acompanhei tal processo ao lado do saudoso guitarrista e técnico de som, Egídio Conde, em seu estúdio na Vila Mariana, em 1996, contudo, em tese eu nada contribui efetivamente para tal processo que foi inacessível para a minha compreensão e a gravação e mixagem desse referido trabalho houvera sido também feita de forma analógica, com a mixagem tradicional na base da "pilotagem ao vivo a muitas mãos", em meio a uma Era pré-automação de mixer.
Enfim, em termos de mixagem digital, foi a primeira vez e claro, pela novidade absoluta da situação, eu tive que perguntar para o rapaz o que ele fazia, em vários momentos em que me vi perdido.
Um outro problema, foi que aquela captura que dispúnhamos fora bastante prejudicada pela precariedade atroz do estúdio onde a graváramos. Nesse sentido, além de isentar o técnico que operou a captura, Kôlla Galdez, devo mesmo é exaltar o seu esforço, pois se não fosse ele, o áudio teria sido muito pior, visto se tratar de um estúdio precário, antiquado e com péssima manutenção.
Técnico de áudio em gravações e ao vivo & pessoa gentil ao extremo: Kôlla Galdez
Portanto, graças ao Kôlla, aquele foi o melhor áudio possível e infelizmente, ele não conteve o mesmo padrão do álbum anterior, "Chronophagia", que por sua vez também deixava muito a desejar.
Pois é, como é duro ser Rocker no Brasil... sem nenhuma intenção de exacerbar sentimento de vitimismo, mas o fato é que um trabalho daquele quilate artístico, mereceria ter tido um áudio muito melhor.
O rapaz do estúdio onde mixamos, foi profissional, ouviu as nossas reivindicações sobre melhorias, mas dois fatores depuseram contra, aliás, três:
1) A captura inicial feita em outro estúdio,foi muito ruim.
2) O estúdio onde mixávamos era melhor estruturado, mas não era nenhum "Abbey Road", muito, muito longe disso.
3) O rapaz obviamente não entendia a nossa cultura musical.
Foram sessões espaçadas pelas dificuldades de agenda, mas nós finalizamos enfim essa etapa. Porém, mais alguns meses decorreriam até podermos enfim mandar prensar o disco na fábrica. Todavia, o pior havia passado, pois gravar e mixar foi um parto, ao nos consumir mais de um ano de espera.
Fica a lembrança de que o rapaz fez o seu melhor possível diante da obviedade da captura inicial conter muitas deficiências e também por conta dos seus momentos idiossincráticos ao me mostrar gravações de bandas Gospel que ele achava o máximo, e que invariavelmente detinham os "melhores baixistas do Brasil" em ação, em sua avaliação exagerada e fanatizada.
Tudo bem, com todo o meu respeito à arte e a fé desses artistas religiosos, mas só por ouvir aqueles sons gerados através de baixos com seis cordas, mediante aqueles timbres ultra graves que para mim remetem à ruídos intestinais, eu já tinha vontade de me levantar e ir embora...
Pois imagine o meu dilema em ter que convencer o rapaz de que o meu som de Rickenbacker em: "Sendas Astrais", tinha que ser agudo igual ao baixo do Chris Squire nos álbuns do Yes...
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