Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 82 - Por Luiz Domingues
Antes de
adentrar na cronologia a enfocar o ano de 2007 para o Pedra, é uma hora
boa para esmiuçar um pouco melhor o álbum de estreia da banda, faixa a
faixa.
Como o
leitor já sabe, esse álbum começou a ser gravado no início de 2005, mas
só veio a ser lançado na metade de 2006, por uma série de fatores alheios à nossa vontade.
Primeiramente,
por que as sessões de gravação ficaram muito espaçadas umas das outras. O nosso técnico de
som e produtor do álbum, Renato Carneiro, trabalhava como técnico de
PA de uma dupla sertaneja mainstream (Zezé Di Camargo & Luciano) e
por cumprir vinte e cinco shows por mês em média, geralmente em rincões distantes do
centro-oeste, norte e nordeste do país, portanto, a sua disponibilidade para estar
em São Paulo foi mínima e mesmo assim, claro que nos poucos dias de
folga, ele detinha os seus afazeres pessoais, fora estar angustiado por viver
longe da esposa e dos filhos em idade escolar, portanto, sobrava pouco
tempo para vir cuidar da nossa gravação e mixagem.
Outro
fator, logo no início da gravação, ainda contávamos com um quinto
membro, o guitarrista Tadeu Dias, que infelizmente deixou a banda de
forma abrupta e forçou-nos assim a apagarmos as suas guitarras e dessa forma obrigar que Xando Zupo regravasse as partes dele, visto que não daria tempo para
o Rodrigo assumir essa tarefa, ou melhor, postergaria ainda mais o processo.
No andamento de tais acontecimentos, com os atrasos
posteriores, claro que o Rodrigo poderia ter feito isso sem prejuízo
algum à banda, em detrimento do tempo hábil para tal.
Tivemos
problemas com o baterista, Alex Soares, infelizmente e que culminou com
a sua saída antes do lançamento do disco, aliás, antes mesmo de sua
finalização técnica.
Até
cogitamos uma regravação com Ivan Scartezini a refazer toda a bateria,
mas seria uma loucura, visto estar tudo pronto, inclusive as partes
vocais e a inserção dos músicos convidados.
Também
tivemos atrasos em relação à arte-final da capa do CD. Até essa parte
resolver-se e incluo nisso a questão do encarte e diagramação do texto,
que também consumiu-nos bastante tempo.
No fim,
atraso consumado, creio que a apresentação visual e o áudio do produto,
corresponderam às expectativas e até superaram-nas em certos aspectos.
Tornara-se
indiscutível a qualidade artística do material composto, os arranjos, a
performance individual de cada instrumentista/vocalista, a química
conjunta, o bom gosto da escolha dos músicos convidados e sua
contribuição e sobretudo, a competência técnica do operador de áudio/produtor, Renato Carneiro.
Nessa feliz conjunção de fatores, creio que o álbum Pedra, ou Pedra I, como foi carinhosamente batizado, logrou êxito em seu intento.
É sem
dúvida, o melhor áudio que eu tive na minha carreira inteira, só
comparado igualmente ao álbum seguinte, Pedra II, que foi gravado nas
mesmas condições e com o mesmo, Renato Carneiro no comando dos botões da mesa de áudio e
um pouco mais abaixo, mas quase de forma imperceptível, vem o álbum "Fuzuê",
lançado em 2015, mas este sem grande intervenção de Renato Carneiro.
Fica a ressalva que por escrever este trecho em 2015, e a ter em conta o
fato de que eu ainda não encerrei a minha carreira musical, posso ter ainda outros discos
tão bons, ou melhores do que os citados em termos de qualidade de
áudio, e assim espero, mas até o presente momento, nesse quesito,
estes permanecem insuperáveis.
O timbre
dos meus instrumentos atingiu o pico de qualidade com esses trabalhos e o
Renato confessou-me tempos depois, que nas suas andanças pela estrada e
a interagir com outros técnicos, colhia elogios rasgados para tais
gravações e especialmente aos timbres de baixo, com distinções nítidas
entre cada modelo que usei, a respeitar e exaltar o máximo de suas
características naturais e com um peso e timbre, verdadeiramente
incríveis.
E ainda
mais quando ele tornou-se técnico de PA dos Mutantes em sua volta, após
2006, e ao excursionar com tal banda pela Europa, impressionou técnicos estrangeiros ao
tocar o som do nosso disco no PA de teatros e shows ao ar livre, e por conta dessas oportunidades, quando
perguntavam-lhe que banda era essa e intrigados por cantarmos em
português
que soava-lhes exótico.
Certa vez,
um técnico de um festival onde ele operou os Mutantes que apresentaram-se em Liverpool, na Inglaterra, ficou encantado com a
sonoridade e não acreditava que um som de baixo matador daqueles tivesse
sido gravado no Brasil, que ele devia subestimar, naturalmente em seus
conceitos ou preconceitos, como queira o leitor.
Poxa, o som dos meus dois baixos Fender e o meu Rickenbacker a gerar atenção na cidade dos Beatles! Pois nem em sonhos delirantes eu poderia conceber algo
parecido.
Sobre a parte artística, eis o que penso sobre cada faixa:
"Sou mais Feliz":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=kgtwdKgWuOk
Essa canção foi a nossa
aposta mais Pop para esse disco, mas mantivemo-nos orgulhosos de que a canção, seu arranjo, sua letra
e a performance individual de cada um dos componentes, remetiam a uma espécie de Pop
sofisticado setentista, ao nível do trabalho de artistas tais como: "The Doobie Brothers", "Al Stewart", quiçá
até o "Steely Dan", sem querer ser presunçoso, pois é óbvio que eu sei que são artistas de um nível altíssimo de qualidade.
Gravei com
o meu Fender Jazz Bass e busquei o som aveludado e típico das gravações
clássicas de R'n'B e Soul Music dos anos sessenta. A frase da parte A
que eu criei, é repetida em efeito "looping" e privilegia a sustentação rítmica do
riff da guitarra e em minha opinião, imprime muito balanço à canção.
Já
na parte B, optei por improvisar sem limites, a buscar o máximo do
groove da Soul Music e acho que fui feliz nesse passeio livre que fiz e
imortalizou-se na gravação.
Gosto da
melodia, da interpretação do Rodrigo e dos backing vocals, que eu particularmente não
gravei no disco, mas ao vivo, para dar liberdade ao Xando para que ele pudesse
improvisar no seu solo, eu que passei a cumpri-lo doravante.
Acho que o
trabalho de guitarras do Xando é muito feliz em todos os sentidos. O
riff original, que é sua criação e que deu origem à canção, é genial por
si só, mas todo o arranjo que criou é muito bom, incluso na escolha de
timbres e uso e abuso de efeitos de pedais.
Ele só preservou um desenho
rítmico que fora criação do Tadeu Dias, por que é realmente muito bonito,
mas de resto, tudo o que ouve-se ali das guitarras, é de sua criação.
Nos
teclados, o Rodrigo gravou com um piano Fender Rhodes emprestado do
Marcello Schevano e instrumento esse que usamos muito em nosso tempo juntos, os três, a bordo da nave da
Patrulha do Espaço. O que dizer de um timbre clássico de um Fender
Rhodes? É absolutamente fantástico.
"Vai Escutando":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MJiHYRWISdk
Não posso
afirmar que não gosto de alguma faixa desse disco. Não é demagogia, nem
proselitismo, pois eu realmente gosto de todas, mas uma ou outra, acho que gosto
um pouco mais.
É o caso
de "Vai Escutando", muito provavelmente pelo fato dela soar-me mais "Soul
Music" que as demais e eu adoro tal escola da Black Music e certamente que refiro-me à
Soul Music situada entre as décadas de cinquenta e metade da década de
setenta, de uma forma natural.
Gravei com
o baixo Fender Precision e o timbre nessa faixa ficou tão espetacular, que se tornou uma referência para o Renato Carneiro timbrar outras canções não só
desse disco, como do seguinte, para buscar a sonoridade que eu queria do
Fender Precision.
Em suma, um há um "estalo" médio-agudo, mas com um corpo de frequência grave
incrível, a imprimir peso e uma sonoridade agressiva e metálica e
entenda bem o leitor, refiro-me ao aço propriamente dito, no sentido da siderurgia.
Certa
vez, uma produtora musical e amiga minha, insistiu em criticar a linha
melódica dessa canção, ao ater-se ao fato de que a respiração do Rodrigo
na sua interpretação, estava errada. Até acho que ela teve uma certa
razão nessa avaliação e poderia ter sido diferente mesmo, mas não tenho queixa do jeito que
ele burilou essa melodia e a gravou.
Gosto
muito do interlúdio funk (acho uma lástima ter que fazer um adendo, pela
inapropriada cooptação da palavra "Funk" para designar o avanço anticultural que assolou a nação fortemente após os anos 2000, mas
quando falo "Funk", é óbvio que não refiro-me a isso, e sim ao
"verdadeiro Funk", derivado nobre do R'n'B e Soul Music clássicas), que
considero bastante sofisticado e o Rodrigo foi genial aos teclados
pelas suas criações, execução e escolha magnífica de timbres,
principalmente no uso do sintetizador Mini Moog.
Ao final, a
ideia de fazer uma citação à música: "Partido Alto" do Chico Buarque, eu achei interessante e forneceu um verniz, é claro, mas na época eu temi ter problemas com
o Ecad e a editora que detém os seus direitos, mas para todos os efeitos, os
créditos estão bem claros no encarte do CD.
"Se Agora eu Pulo Fora":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eh7IgcOzkXU
Falei
sobre gostar de todas as músicas, e é verdade. Falei que também há
algumas que eu gosto um pouco mais, e esta é uma das que gosto um pouco
menos.
É uma
canção curta, intensa e tem força dramática, não nego. A harmonia e a
maneira com a qual a melodia principal delineou-se, são corretas na minha percepção.
O que
não aprecio muito é a letra, que tem uma visão "Bukowskiana" da vida, um viés
que eu detesto. Como espiritualista que sou e absolutamente aquariano em meus ideais,
esse negócio de junkie existencialista a viver em quartinhos fétidos,
escuros e decadentes, para o meu gosto soa-me deveras deprimente e nesses termos, não sou
favorável a ser difusor desse conceito, a glamorizá-lo, ainda que supostamente a intenção não fosse de forma deliberada.
Entretanto eu
gostava de tocá-la ao vivo pela batida da bateria, os acordes soltos e
a ressoarem em notas semibreves para preencher o compasso inteiro, dos bons
solos e das junções bem planejadas e articuladas com "bendings" da parte das duas guitarras.
Gravei com um Jazz Bass para buscar exatamente o timbre "robusto" e típico desse baixo, a privilegiar as semibreves em profusão.
"Me Chama na Hora":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Xv0vFSQLoqU
Como o
Xando queria passar ao ouvinte a ideia do conceito da música anterior, no sentido que ela ficasse unida a esta, como uma
espécie de continuidade da história que desejara contar na letra, muita
gente confundiu e achou que eram uma canção só, mas não, são
independentes, ainda que irmãs em alguns aspectos.
Essa
canção tem uma forte influência de Jazz-Rock na parte A, contém igualmente um
interlúdio "funkeado a la anos setenta", no meio e na parte final, quando
volta à parte A, o Xando sugeriu a inserção de uma percussão de escola
de Samba, ao estilo "Samba Enredo", mesclada sem concessões ao riff
nervoso orientado pelo Jazz-Rock.
Sabíamos
que isso causaria estranheza para muita gente, notadamente fãs e
jornalistas que conheciam-nos, individualmente a falar, por trabalhos pregressos centrados no
Rock, sem concessões. E certamente, que foi uma maneira explícita de
deixar claro aos radicais de plantão, que o Pedra se propunha a ser uma banda de leque
aberto para múltiplas sonoridades e não fechadas somente na pureza do
Rock.
Caio Inácio, percussionista convidado e que gravou a Escola de Samba inteira nessa faixa citada. Click de Grace Lagôa
A
inspiração dele veio de uma música do Lobão, que admirava e a lembrança
desse artista a ser hostilizado pelo público xiita do "Sepultura", ao
apresentar-se acompanhado da bateria da Escola de Samba Mangueira, no
Festival Rock in Rio, de 1991.
Nunca
esqueço-me, um crítico que não entendeu direito a nossa proposta,
escreveu
sobre essa música: -"parece Pink Floyd sendo interpretado pelo Zeca
Pagodinho"... ou seja, uma das críticas mais hilárias e também injustas
que eu já li sobre um trabalho meu.
Gravei com
o baixo Fender Precision e o timbre é matador, tanto nas partes agressivas sob inspiração Jazz-Rock, quanto no groove sempre inspirado em bandas como o "Sly and the
Family Stone", "Funkadelic/Parliamant" e bandas desse campo, portanto ficou
excelente.
"Amanhã de Sonho":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=yyQqj1kRKAw
Essa foi
uma ideia que eu tinha em mente desde 2003 e tentara inserir nas composições da
Patrulha do Espaço, a visar fazer parte do álbum "Missão na Área 13", mas não consegui,
infelizmente, o meu intento.
Quando iniciei atividades com o Pedra, mostrei a ideia ao
Xando e ele gostou a burilá-la. Ficou um pouco fora do que eu imaginava
originalmente, mas reconheço que tornou-se uma balada boa, com
potencial Pop e mais um dado muito interessante, depois de lançada
oficialmente, tornou-se uma das mais pedidas nos shows e eu
sinceramente não pensara que tornar-se-ia tão querida do público.
Guardadas
as devidas proporções e sei bem como funciona a cabeça de
produtor/predador do show business mainstream, ela detinha potencial Pop
para invadir as estações de rádio FM, inserir-se em trilha de novela da
TV Globo e cair no gosto boca popular, em larga escala.
Gosto
muito da sua delicadeza generalizada e da performance de todos. Rodrigo
a cantou de uma forma muito poética. A parte B foi criada pelo Xando, e
parece o trabalho do "The Police" na minha ótica. Não gosto dessa banda e de sua
concepção de fazer música calcada em agudos exagerados. O excesso de som
processado do The Police, incomoda-me profundamente, e eu acho que a parte B
dessa canção quase partiu para esse caminho pasteurizado.
Mas há
atenuantes, como o uso de um simulador de mellotron a la "Beatles"
("Strawberry Fields Forever"), que é muito singelo e os backing vocals com
apoio de flanger que soam psicodélicos.
O mote da
letra é interessante ao meu ver. Buscar a visão de uma menina naquela transição
da mudança de corpo na adolescência x hormônios & medo inerente, é
um tema bom, e quando a letra foi concluída pelo Xando, nós brincamos
que essa música cairia como uma luva para acompanhar uma personagem
feminina adolescente da novela "Malhação" da TV Globo. Acho que poderia
mesmo...
Mas também
acho que a letra exagerou um pouco na dose e quase soa piegas,
ao analisar hoje em dia. De qualquer forma, ao considerar que o
Pedra nunca chegou nem perto do mainstream, foi extraordinário notar que
foi provavelmente a mais querida canção da nossa banda entre as mulheres e que também foi elogiada até
por críticos notadamente exigentes e intransigentes, como Régis Tadeu,
por exemplo, que a citou como uma boa balada Pop, com méritos e
qualidade.
"O Dito Popular":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=a7XOjXJf48E
Assim que
eu entrei na banda em outubro de 2004, essa foi uma das poucas canções que o
Xando teve concluída para dar início ao projeto.
Trata-se
de um Funk-Rock bem anos setenta, com ótimo Riff inicial, excelente
refrão, e uma base de solos muito bem engendrada, com forte
identificação Rocker setentista.
Sobre a sua letra,
eu reputo ser uma das melhores do álbum, ao traçar uma colagem de diversos
ditos populares, de uma forma muito bem alinhavada. Tem um senão de
minha parte e que foi objeto de discussão entre eu e Xando, até que ele
insistisse em manter a sua ideia original na gravação: o recurso de um
palavrão com sentido de interjeição.
Seu
argumento foi o da contundência, a expressar a revolta pelo conteúdo de
uma letra com intenções de protesto contra a política e o sistema em
geral, aliado ao fato de que o coloquial despojado cairia melhor.
Eu ao
contrário, encaro o palavrão como chulo e desnecessário, e argumento que
para fazer-se contundente não é necessário baixar o nível do vernáculo e
pelo contrário, sou absolutamente contra o artista que nivela-se pelo
baixo espectro educacional para fazer-se entender pelo povo. Isso é
baixar o nível e assim, o artista colabora com a decadência em favor da
subcultura ou pior ainda, da anticultura.
Penso que falar errado de
propósito ou usar expressões chulas, não dá estofo artístico algum a
ninguém e pelo contrário, só retarda a melhoria do nível educacional e
cultural do povo.
Mas e o
Adoniran Barbosa? Pois é, licença poética e genialidade incontestável,
mas seu caráter prosaico, assim como de Mazaroppi e Luiz Gonzaga, estes foram prosaicos, mas nunca
partiram para o chulo. Enfim.
Outro fator, em tese, se não entendem o que falo, que busquem o dicionário e aprendam uma
nova palavra para enriquecerem o seu vocabulário, mas daí a falar errado para fazer-se entender, é algo que não aceito como argumento.
Foi um mero detalhe, mas gerou discussões acaloradas, no bom sentido, porém acabou por prevalecer a opção pelo palavrão explícito.
Sempre
cantei ao vivo, a respeitar tal opção e a proferir um sonoro palavrão ao microfone,
sem nunca deixar de fazê-lo pela dignidade artística da banda, mas nunca
gostei disso.
Então, está lá: -"e aí Fodeu"... paciência.
Gravei com
o baixo Fender Precision, e acho que consegui um timbre muito vibrante, a lembrar
bastante o som do "Trapeze" e consequentemente, o som do "Deep Purple" da
formação Mark IV. É puro "Come Taste the Band", na minha opinião.
Sendo a
primeira música que trabalhamos, por conta de ter sido o primeiro clip ainda
em 2005, um ano antes do disco ficar pronto, portanto e ela chegou a tocar um pouco na
Brasil 2000 FM e veiculada com muita profusão em programas da Rede NGT
de TV, além de uma efêmera participação na MTV.
Comemoramos também as
seis exibições no canal Multishow, ao final de 2005, ao dar-nos a falsa
expectativa de que explodiria em índices mais abrangentes.
Sinceramente,
ela reunia todas as condições para tornar-se popular no campo mainstream, apesar
da sonoridade Rock, com solos agressivos e não coadunados com a
mentalidade mumificada dos donos do poder no Show Business. Em minha
ótica, é uma ótima música, com muitos atrativos.
"Madalena do Rock'n Roll":
Eis o Link para ouvir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=G1yvX8cLdPM
Essa
música o Xando tinha guardado de tempos remotos, quando ainda nem
pensava no projeto do Pedra. Trata-se de um riff muito bom, que de certa
forma lembra a sonoridade bluesy do Led Zeppelin à época do Led
Zeppelin II, de 1969.
A letra
foi construída em torno de boatos de que pessoas que gostavam da minha
atuação e do Rodrigo com a Patrulha do Espaço, estariam desapontadas, pelo fato de que nós
dois havíamos deixado a banda e unido-nos ao Xando para compor o Pedra.
Foi portanto, fruto de uma ciumeira descabida e absolutamente inoportuna, pois
tais pessoas não levaram em consideração que a nossa saída da Patrulha do Espaço fora
inevitável e que o Pedra apareceu como opção a posteriori, sem nenhuma conexão direta com a saída.
Ao estabelecer uma analogia horrorosa, mas que serve para ilustrar, é como se uma
pessoa fosse odiada por vizinhos que ficaram a sabero que ela casara-se de
novo, sem saber que o casamento anterior estava encerrado e a nova
esposa não foi a causadora da dissolução do casamento anterior.
Foi baseado
nessa premissa que o Xando escreveu essa letra a alfinetar pessoas em geral
que pensam e agem dessa forma, ao criticarem as demais sem conhecer os fatos
de sua realidade, ou seja, a cometerem o pecado do prejulgamento. Isso sem deixar de mencionar o "muro das
lamentações" em que se colocam e pior ainda, ao não suportarem a alegria
alheia em detrimento de seus fracassos pessoais.
Gravei com
o baixo Rickenbacker e desta feita, o Renato Carneiro teve mais dificuldades,
mas isso não foi novidade ao se tratar desse instrumento que poucos
sabem extrair o seu som, no Brasil.
A sua briga com os choques que as frequências
médio-agudas em profusão desse instrumento, sua marca registrada, mantinham
com os teclados, notadamente o piano acústico que o Rodrigo usou, foi grande,
mas com boa vontade ele chegou a um bom termo.
Para quem
conhece bem a sonoridade típica de um Rickenbacker, é fácil de
identificar o seu timbre característico e como no meu arranjo pessoal eu usei
bastante o recurso do "glissando" (ato de escorrer o dedo sobre a
corda, para fazer com que várias notas deslizem, a serem tocadas ao mesmo
tempo e que fiquem difusas, sem definição harmônica/melódica mais ortodoxa), que
tratou de acentuar ainda mais o timbre lindo dele.
Gosto
bastante das guitarras do Xando, especialmente as suas intervenções com o
slide. A melodia é boa e o Rodrigo, rasgou a voz com muita
qualidade.
A parte
dos solos, mantém uma dose de experimentalismo muito interessante, e isso foi uma
ideia do Rodrigo, que imprimiu acordes dissonantes e notas jogadas a
esmo, nos teclados, a intercalarem-se com as partes soladas a apresentar musicalidade
"normal", digamos assim, principalmente no uso do órgão Hammond. Ficou bastante
perto do trabalho do "Hermeto Paschoal" e intrigante ao meu ver.
"Reflexo Inverso":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=_ZM1lABj_EE
é muito
interessante essa canção que contém muitas nuances e por ter várias
partes, é interpretada como uma peça de Rock Progressivo por muitos fãs e
críticos, que identificam-na como a uma suíte tipicamente progressiva.
Não está errada não essa avaliação e eu tendo a concordar com ela, em
linhas gerais.
A parte "A" da canção tem muita influência de música brasileira.
Dá para
identificar fácil o "Clube da Esquina" de "Milton Nascimento" &
Cia,
tem também a "Elis Regina" e pasmem, acho que uma dose de "Ivan Lins" na
conjunção
harmônica da canção.
Mas ela muda radicalmente a seguir e traz o
elemento Rock, ainda que a evocar o dito Rock Rural setentista. Ali
passeiam as influências de artistas como: "Sá/Rodrix & Guarabyra", "O Terço" e "Beto Guedes",
certamente.
O final
épico, com vocais fortes e "tecladeira" setentista a todo vapor,
realmente lembra muito o som d'O Terço em seus melhores momentos da carreira.
Gravei com
o Rickenbacker novamente e gosto bastante da sonoridade ali inserida. E claro,
por gravar com esse baixo, se diziam que parecia uma suíte Prog-Rock
setentista, Prog tornou-se, definitivamente, com o Chris Squire que
habita as minhas memórias afetivas setentistas, a soltar os seus lampejos impiedosamente sobre o track!
A letra
é muito boa, ao estabelecer um jogo de espelho e máscaras, e assim buscar questões
subjetivas e de certa forma doloridas das entranhas do ser humano, aqui
eu não tenho ressalvas, mas só elogios.
"Misturo Tudo e Aplico":
Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=u_B0kqLIJCg
Talvez o
único exemplar genuinamente Hard-Rock do disco, e acredito, que para
muitos fãs de trabalhos anteriores meus, do Rodrigo e do Xando, tal
canção representou a real expectativa que nutriram sobre o resultado de
nosso trabalho. Para muitos, o disco inteiro deveria soar dessa forma,
acredito.
Bem tudo
ali soa robusto, como é de esperar-se de um Hard-Rock estilo setentista,
Há o "timbrão" de teclados setentistas, notadamente o órgão Hammond a se evocar mestres Hard-Rock
como Jon Lord, Ken Hensley e Vincent Crane, por exemplo. O riff forte de
guitarra, baixo pesado etc.
O trompetista Robson Luis, o nosso convidado especial na gravação do álbum e que criou o clima de "mariache" mexicano para essa faixa. Click de Grace Lagôa
Gosto
bastante de tudo, incluso a inusitada intervenção de uma mini
"orquestra" de trompetes ao final, ao se evovar melodias "mariaches" e naquela
época as "paletas" mexicanas ainda não haviam tornado-se moda no
Brasil.
Não aprecio a
letra. Mais uma citação à vida junkie, mas sob um viés vazio, de
mentalidade oitentista baseada na absoluta falta de propósito, uma marca
registrada daquela geração sem ideais. Se ao menos falasse em algo
minimamente válido como o conceito do "Open Mind" sessentista, no viés
da busca de um escape, ou mesmo a visão cinquentista e "Beatnick" em torno do
mergulho
em uma busca frenética e sem pontuação ortográfica, pelo sentido da vida
fora do sistema, a deixar-se levar pela vida na estrada, ainda vá lá,
mas junkie sem sentido algum, realmente não dá... dê-me licença e
procure dar um outro rumo à sua vida, senhor junkie sem eira nem
beira, pois eu não aplaudo isso.
Atuei novamente com o baixo Fender Precision e busquei inspiração em bandas setentistas
mais "duras" do Hard britânico, como "Budgie", "Sir Lord Baltimore", "Toad"
etc.
"Estrada":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=UpqyLBbHDjM
Gosto muito dessa canção, que foi a primeira colaboração que o Rodrigo trouxe à banda, assim que ele ingressou, ao final de 2004. Muitas pessoas a consideram como uma exemplo de Hard-Rock sob estilo britânico, mas eu penso nela como Southern Rock norte-americano.
Tanto o
riff inicial quanto as partes "B" e "C", remetem-me à tradição dessa
escola estilística. Gosto muito dessa construção das três partes e dos
arranjos feitos coletiva e individualmente.
A base de guitarra do
Rodrigo, com apoio de caixa "Leslie", é uma maravilha aos meus ouvidos
sessenta-setentistas. Gosto bastante das intervenções do Xando com
slide, também.
Na parte
"C", onde também baseou-se a sessão de solos, eu soltei a mão e busquei o
som de Fender Precision do baixo de Berry Oakley e Lamar Williams, dois
baixistas que passaram pelo "The Allman Brothers Band".
Melódicos e
com muito senso de preenchimento rítmico, imprimiram tal conceito para
esse estilo e eu adoro a sua resolução. São muitas notas colcheias, a preencherem bem cada
compasso e para esse tipo de música, mais é mais!
A letra é
sui generis, eu diria, pois apesar dessa sonoridade toda em torno do Southern-Rock, não buscou elementos rurais como é típico dessa escola, mas
investiu na relação Homem-Mulher. Acho uma boa letra, bem construída, e
com algumas colocações que até surpreendem para quem prestar atenção.
A minha
singela contribuição ao arranjo geral, foi a sugestão de inclusão de
Backing vocals na parte final. Por três vezes, Rodrigo, eu mesmo (Luiz
Domingues), e Xando, cantamos: "Uh Uh Uh", a usarmos a técnica de falsete e
a minha inspiração foi explícita no trabalho do "Mad Dogs and the Englishmen", com "Joe
Cocker; Leon Russell & Cia", naquela brejeirice maravilhosa do Blues
de New Orleans em ação.
"O Galo Já Cantou":
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IcKU1fLgg_c
Claro que eu gosto da sonoridade Rock' n' Roll crua e nua dessa música. Como fã
inveterado dos "Rolling Stones", como não apreciar? E gosto bastante da
quebra insólita desse conceito dentro da música, quando sob uma parte "C"
muito inesperada, o Pop quase tropical a invade e fornece-lhe um colorido muito
grande.
As duas
guitarras trabalham de forma muito sincronizada o tempo todo. Aprecio
muito o timbre forte do baixo Fender Precision e acho boa a inserção
de um exótico efeito "fade in", quando as pessoas pensam que a música acabou,
mas ela volta. E muita gente deve ter assustado-se se demorou para dar
"stop" no CD player após um longo espaço de silêncio, pois a música
retorna,
"do nada".
E assim, eu encerro as minhas impressões sobre as faixas desse álbum.
Acrescento
que a atuação do baterista Alex Soares é comedida no disco e isso foi
um dos motivos pelos quais gerou-se uma discórdia e ele culminou em deixar a
banda e assim ter sido creditado como "convidado" e não membro oficial
(embora a principal razão, e eu já falei mas vou frisar, deu-se quando
ele saiu, pois o material gráfico estava prestes a ficar pronto e a solução
foi suprimi-lo, após a sua saída oficial da banda).
Uma menção
não citada em lugar algum, mas é importante deixá-la aqui, um amigo meu
e do Rodrigo, desde o tempo em que estávamos a atuar com a Patrulha do Espaço,
chamado curiosamente também Rodrigo Oliveira (o Rodrigo Hid chama-se
Rodrigo de Oliveira Hid oficialmente, no seu RG), deu-nos um apoio e
tanto, ao emprestar-nos o seu PC ao estúdio Overdrive e dessa forma a acoplar o seu HD onde
ele mantinha "plugins" de um programa sensacional de timbres de teclados
vintage e assim colaborou bastante para que os timbres dos teclados
desse disco, soassem ao máximo com sonoridades sessenta-setentistas.
Thiago Skloaude foi o responsável pelo lay-out da capa e o próprio Rodrigo Hid cuidou das lâminas internas do encarte. Fábio Mulan deu o suporte na diagramação do texto do encarte As pontuais colaborações de músicos convidados, enriqueceram o trabalho, não tenho dúvida. Gratidão a Caio Inácio e Robson Luis.
Em suma,
ao valer-me de tudo o que já disse anteriormente, considero este como um trabalho excelente e
do qual orgulho-me bastante como peça artística, e também como produto
comercial de alto padrão no mercado da música.
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