quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 69 - Por Luiz Domingues

Então nós recolhemos os nossos equipamentos para a ampla coxia da casa e voltamos ao camarim, para respeitar o cronograma original, todavia, tudo já estava atrasado e obviamente já fora possível notar que tornar-se-ia uma bagunça, com direito a inúmeras confusões inerentes. 

Os roadies do Uriah Heep chegaram a seguir, e todo o cronograma foi mudado, pois eles exigiram preparar o som de seus patrões, imediatamente. Ah... a velha subserviência tupiniquim para com os gringos europeus...

Restou-nos então esperar que esses rapazes dessem-se por satisfeitos para que sobrasse algum espaço para que o Pedra e o Salário Mínimo pudessem ter algum tempo disponível. 

No entanto, os roadies do Uriah Heep ficaram por mais de duas horas a perambular para lá e para cá, sem fazer nada muito objetivo, a não ser checar o sinal de cada amplificador. 

O roadie específico de guitarra do Mick Box, um sujeito holandês chamado: "Christos", e que era sósia do guitarrista, Tony Babalu, detectou um ruído nas cabeças Marshall que o Mick Box usaria, e diante do impasse dos técnicos do PA não saberem dar uma explicação para tal situação e muito menos a técnica de som do Uriah Heep, o produtor Marcelo teve um lampejo de criatividade, ao convocar um dos melhores especialistas em ajustes de amplificadores de São Paulo, um rapaz chamado, Lasco (que por sinal é um bom guitarrista, e dava aulas de guitarra, também), que por coincidência, era (é) muito amigo do meu primo, Emmanuel, e este trabalhava em nossa equipe, como roadie.

Contudo, nós só soubemos de tudo quando vimos o Lasco com as suas ferramentas, a desmontar as duas cabeças de amplificador na coxia do teatro. Segundo apuramos, foi uma incompatibilidade de ajuste em relação à corrente elétrica da casa, portanto, corrigido isso, as duas cabeças Marshall pararam de emitir aquele ruído incômodo. 

Enquanto isso, em nosso camarim, "R" pediu-nos licença para sair, e para tal, ele justificou a sua ausência ao levar em consideração que tudo estava "sob controle" (como assim?), e que voltaria a seguir, a nos providenciar um lanche, visto que a produção do evento abandonara-nos e sequer houveram aparecido para verificar se havia água no camarim, e de fato, as geladeiras estavam vazias. 

Ficamos a saber que os outros camarins estavam abastecidos com lanches, bebidas e energéticos, cedidos por patrocinadores do evento, e certamente esse sentimento de desprezo para conosco, incompreensível até então, começou a incomodar-nos. 

Nesse ínterim, alguns membros da nossa comitiva ficaram entediados com essa espera mastodôntica, incluso eu, e assim, voltaram ao palco para ver o andamento da suposta passagem de som do Uriah Heep. 

Nada objetivo ocorria naquele instante, a ocupar um tempo precioso que haveria de fazer muita falta, logo mais para as demais bandas. O Rodrigo Hid, ao verificar que os roadies do Uriah Heep não sabiam tocar teclados, e estes estavam promover uma checagem pobre, ao apertarem uma ou outra nota a esmo do órgão Hammond, ofereceu-se para ajudar, e assim tentar acelerar o processo.

Rodrigo sentou-se ao órgão Hammond, e de imediato, iniciou a execução da canção: "Rainbow Demon", para arrancar suspiros dos técnicos estrangeiros. 

Os roadies gostaram da performance dele para executar tal canção, fidedigna ao disco clássico: "Demons and Wizards" do Uriah Heep, e a passagem do Hammond deslanchou, enfim. 

Uma outra curiosidade, foi perpetrada por eu mesmo, ao flagrar um outro roadie do Uriah Heep a examinar os meus baixos. De longe, eu vi o rapaz a admirá-los, e o gringo chegou a colocar a mão nos respectivos braços dos instrumentos, para senti-los, e com o apoio da sua lanterninha, poder examinar detalhes nos respectivos headstock de ambos. 

Quando deram por esgotada a sua "passagem de som", o tempo disponível para o Pedra e o Salário Mínimo, ficaram exíguos. E como se não bastasse isso, tivemos uma série de aborrecimentos com os técnicos do som terceirizado, pois a má vontade com a qual nos trataram, e o resultado pratico da passagem do monitor, foi desastroso, com tanto descaso com o qual nos trataram.

Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário