Então nós recolhemos os nossos equipamentos para a ampla coxia da casa e voltamos ao camarim, para respeitar o cronograma original, todavia, tudo já estava atrasado e obviamente já fora possível notar que tornar-se-ia uma bagunça, com direito a inúmeras confusões inerentes.
Os roadies do Uriah
Heep chegaram a seguir, e todo o cronograma foi mudado, pois eles
exigiram preparar o som de seus patrões, imediatamente. Ah... a velha subserviência tupiniquim para com os gringos europeus...
Restou-nos então esperar que esses rapazes dessem-se por satisfeitos para que sobrasse algum espaço para que o Pedra e o Salário Mínimo pudessem ter algum tempo disponível.
No entanto, os roadies do Uriah Heep ficaram por mais de duas horas a perambular para lá e para cá, sem fazer nada muito objetivo, a não ser checar o sinal de cada amplificador.
O
roadie específico de guitarra do Mick Box, um sujeito holandês chamado:
"Christos", e que era sósia do guitarrista, Tony Babalu, detectou um
ruído nas cabeças Marshall
que o Mick Box usaria, e diante do impasse dos técnicos do PA não
saberem
dar uma explicação para tal situação e muito menos a técnica de som do
Uriah Heep, o produtor Marcelo teve um lampejo de criatividade,
ao convocar um dos melhores especialistas em ajustes de amplificadores de
São Paulo, um
rapaz chamado, Lasco (que por sinal é um bom guitarrista, e dava aulas de
guitarra, também), que por coincidência, era (é) muito amigo do meu primo,
Emmanuel, e este trabalhava em nossa equipe, como roadie.
Contudo, nós só soubemos de tudo quando vimos o Lasco com as suas ferramentas, a desmontar as duas cabeças de amplificador na coxia do teatro. Segundo apuramos, foi uma incompatibilidade de ajuste em relação à corrente elétrica da casa, portanto, corrigido isso, as duas cabeças Marshall pararam de emitir aquele ruído incômodo.
Enquanto isso, em nosso camarim, "R" pediu-nos licença para sair, e para tal, ele justificou a sua ausência ao levar em consideração que tudo estava "sob controle" (como assim?), e que voltaria a seguir, a nos providenciar um lanche, visto que a produção do evento abandonara-nos e sequer houveram aparecido para verificar se havia água no camarim, e de fato, as geladeiras estavam vazias.
Ficamos a saber que os outros camarins estavam abastecidos com lanches, bebidas e energéticos, cedidos por patrocinadores do evento, e certamente esse sentimento de desprezo para conosco, incompreensível até então, começou a incomodar-nos.
Nesse ínterim, alguns membros da nossa comitiva ficaram entediados com essa espera mastodôntica, incluso eu, e assim, voltaram ao palco para ver o andamento da suposta passagem de som do Uriah Heep.
Nada objetivo
ocorria naquele instante, a ocupar um tempo precioso que haveria de fazer muita
falta, logo mais para as demais bandas.
O Rodrigo Hid, ao verificar que os roadies do Uriah Heep
não sabiam tocar teclados, e estes estavam promover uma checagem pobre,
ao apertarem uma ou outra nota a esmo do órgão Hammond, ofereceu-se para ajudar, e assim tentar
acelerar o processo.
Rodrigo sentou-se ao órgão Hammond, e de imediato, iniciou a execução da canção: "Rainbow Demon", para arrancar suspiros dos técnicos estrangeiros.
Os roadies gostaram da performance dele para executar tal canção, fidedigna ao disco clássico: "Demons and Wizards" do Uriah Heep, e a passagem do Hammond deslanchou, enfim.
Uma outra curiosidade, foi perpetrada por eu mesmo, ao flagrar um outro roadie do Uriah Heep a examinar os meus baixos. De longe, eu vi o rapaz a admirá-los, e o gringo chegou a colocar a mão nos respectivos braços dos instrumentos, para senti-los, e com o apoio da sua lanterninha, poder examinar detalhes nos respectivos headstock de ambos.
Quando deram por esgotada a sua "passagem de som", o tempo disponível para o Pedra e o Salário Mínimo, ficaram exíguos. E como se não bastasse isso, tivemos uma série de aborrecimentos com os técnicos do som terceirizado, pois a má vontade com a qual nos trataram, e o resultado pratico da passagem do monitor, foi desastroso, com tanto descaso com o qual nos trataram.
Continua...
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