Foi quando finalmente o vejo a descer as escadas e descubro que também pela fisionomia, não me recordava mesmo de quem se tratava. Feitas as devidas apresentações, finalmente o Barata esclareceu tudo quando contou-me o ocorrido.
Pois em 1977, paralelo às atividades da minha banda de então, o Boca do Céu, o nosso vocalista, Laert Sarrumor, que editava uma revista em quadrinhos chamada: "Sarrumorjovem" (daí veio o apelido que se tornou o nome artístico dele, doravante: "Sarrumor"), resolveu montar um fã-clube da Janis Joplin, cantora que era e ainda é uma de suas maiores paixões na música.
Então, ele pediu-me para que eu cedesse o meu endereço residencial para receber as correspondências de futuros membros, e nessa época a internet era só um sonho futurista no desenho dos "Jetsons", portanto, tudo girava em torno das velhas cartas manuscritas ou datilografadas e enviadas pelo correio.
Nesses termos, eu recebi algumas cartas entre 1977 e 1978, e entre elas, as de um jovem freak também apaixonado pela Janis Joplin, chamado: Luiz Carlos Cichetto! A minha boa desculpa para o esquecimento foi óbvia, pois se eu tenho mesmo uma boa memória, reconhecidamente, esse fato fora efêmero ao extremo, pois o tal Fã-Clube não passou disso, e além do mais, a despeito de eu também adorar a Janis Joplin, a ideia do fã-clube foi do Laert e não minha, portanto, eu lia e respondia as cartas, mas não dei muita vazão para isso prosperar. Enfim, o fato é que ele se lembrava de mim, mas eu não dele.
Daí em diante, desse dia em Santos-SP, até a metade de 2004, ele viajou conosco muitas vezes e acabou por se tornar o meu companheiro de banco de viagem no ônibus, onde conversamos por milhares de Kms percorridos, sobre assuntos de nosso mútuo interesse e foram muitos, além da obviedade do Rock/Contracultura/anos 1960-1970, indo de literatura & cinema, às séries de TV e desenhos animados, e Palmeiras... portanto, com tantos ícones em comum, que iam do Jimi Hendrix ao Ademir da Guia, de Jack Kerouac a Dr. Smith do seriado "Lost in Space", claro que a amizade se fortaleceu e foi muito bom ter a sua presença doravante em nossa comitiva.
De volta ao show desse dia, seria uma volta ao Praia Sport Bar de Santos, uma casa onde já havíamos tocado várias vezes em 2000-2001.
Quando chegamos na cidade litorânea, eu passei na banca mais próxima, ali mesmo na Praia do Gonzaga e fiquei contente por verificar que o nosso show estava anunciado em dois periódicos santistas, sendo que na "Tribuna", o maior jornal da cidade e região da Baixada Santista, com matéria grande, com fotos boas etc.
Enquanto os roadies arrumavam o palco, eu fui à padaria da esquina e enquanto esperava na fila para pagar o meu lanche, vi que na minha frente estava o ex-jogador de futebol, Zito, famoso por ter atuado no time do Santos na Era Pelé e ter sido bicampeão mundial com a seleção brasileira, em 1958 e 1962.
Quando me fitou, eu tomei a iniciativa de cumprimentá-lo educadamente na base do: -"Boa noite "seu" Zito", no qual ele me retribuiu na mesma educação, mas deve ter ficado estupefato, pois na sua concepção, um cabeludo com visual de hippie, jamais deveria reconhecê-lo, mas o fato é que eu acompanho futebol com vívido interesse desde os oito anos de idade e nunca cortei esse, digamos, "vício", mesmo ao ter mergulhado em um campo cultural tão diferente e de certa forma avesso ao mundo prosaico, conservador e popularesco do futebol. E nem sou santista, aliás, pelo contrário, o "seu" Zito mais atrapalhou o meu time do coração, enquanto jogou...
Xandra Joplin na frente, rodeada por Paulo Zinner (esquerda), e a banda inteira, quando do dia de sua participação a gravar Backing Vocals no álbum: Chronophagia, como nossa convidada, em 2000
Enfim, de volta ao bar, já anoitecia quando encerramos o soundcheck e vi que a ótima cantora, Xandra "Joplin", entrou no recinto e deu de cara com o Barata Cichetto que fez uma grande festa por vê-la. Outra coincidência, Barata a conhecia de longa data, por ser entusiasta de sua performance como cantora cover da Janis Joplin, e fã da Janis Joplin, inveterado que era, ele aplaudia a fidedignidade interpretativa de Xandra em seus shows-Tributo.
O nosso show ocorreu com bastante entusiasmo, ao levar os cento e poucos presentes ao delírio, com muitos fãs da banda presentes.
Bem, já no meio da semana seguinte, voltaríamos à rotina das turnês, com mais uma ida à Santa Catarina, para três shows em três cidades, e que renderam boas histórias.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário