quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 224 - Por Luiz Domingues

 
Assim que eu cheguei na residência do Rolando Castello Junior, logo vi a persona de Claudia Fernanda, que ao me avistar, se mostrou eufórica, ao me dizer que eu ia adorar ter o "Barata" Cichetto na equipe, por que ele era muito boa pessoa e que lhe disse que me conhecia desde 1977, e mediante tal afirmação de sua parte, aumentou ainda mais a minha estupefação, pois realmente eu não me recordava de ter conhecido ninguém com esse nome, nessa época.

Foi quando finalmente o vejo a descer as escadas e descubro que também pela fisionomia, não me recordava mesmo de quem se tratava. Feitas as devidas apresentações, finalmente o Barata esclareceu tudo quando contou-me o ocorrido.

Pois em 1977, paralelo às atividades da minha banda de então, o Boca do Céu, o nosso vocalista, Laert Sarrumor, que editava uma revista em quadrinhos chamada: "Sarrumorjovem" (daí veio o apelido que se tornou o nome artístico dele, doravante: "Sarrumor"), resolveu montar um fã-clube da Janis Joplin, cantora que era e ainda é uma de suas maiores paixões na música. 

Então, ele pediu-me para que eu cedesse o meu endereço residencial para receber as correspondências de futuros membros, e nessa época a internet era só um sonho futurista no desenho dos "Jetsons", portanto, tudo girava em torno das velhas cartas manuscritas ou datilografadas e enviadas pelo correio.

Nesses termos, eu recebi algumas cartas entre 1977 e 1978, e entre elas, as de um jovem freak também apaixonado pela Janis Joplin, chamado: Luiz Carlos Cichetto! A minha boa desculpa para o esquecimento foi óbvia, pois se eu tenho mesmo uma boa memória, reconhecidamente, esse fato fora efêmero ao extremo, pois o tal Fã-Clube não passou disso, e além do mais, a despeito de eu também adorar a Janis Joplin, a ideia do fã-clube foi do Laert e não minha, portanto, eu lia e respondia as cartas, mas não dei muita vazão para isso prosperar. Enfim, o fato é que ele se lembrava de mim, mas eu não dele. 

Daí em diante, desse dia em Santos-SP, até a metade de 2004, ele viajou conosco muitas vezes e acabou por se tornar o meu companheiro de banco de viagem no ônibus, onde conversamos por milhares de Kms percorridos, sobre assuntos de nosso mútuo interesse e foram muitos, além da obviedade do Rock/Contracultura/anos 1960-1970, indo de literatura & cinema, às séries de TV e desenhos animados, e Palmeiras... portanto, com tantos ícones em comum, que iam do Jimi Hendrix ao Ademir da Guia, de Jack Kerouac a Dr. Smith do seriado "Lost in Space", claro que a amizade se fortaleceu e foi muito bom ter a sua presença doravante em nossa comitiva.

Há de se destacar a boa matéria do jornalista, Lucas Tavares, do Jornal "A Tribuna", de Santos, que ao fugir completamente ao estereótipo do vilipêndio, muito pelo contrário, tratou a banda com reverência, ao evocar a sua história e suas metas do então presente. Avis rara, portanto, no meio jornalístico mainstream, tão contaminado e comprometido com a destruição de tais valores.

De volta ao show desse dia, seria uma volta ao Praia Sport Bar de Santos, uma casa onde já havíamos tocado várias vezes em 2000-2001.

Quando chegamos na cidade litorânea, eu passei na banca mais próxima, ali mesmo na Praia do Gonzaga e fiquei contente por verificar que o nosso show estava anunciado em dois periódicos santistas, sendo que na "Tribuna", o maior jornal da cidade e região da Baixada Santista, com matéria grande, com fotos boas etc.

Enquanto os roadies arrumavam o palco, eu fui à padaria da esquina e enquanto esperava na fila para pagar o meu lanche, vi que na minha frente estava o ex-jogador de futebol, Zito, famoso por ter atuado no time do Santos na Era Pelé e ter sido bicampeão mundial com a seleção brasileira, em 1958 e 1962. 

Quando me fitou, eu tomei a iniciativa de cumprimentá-lo educadamente na base do:  -"Boa noite "seu" Zito", no qual ele me retribuiu na mesma educação, mas deve ter ficado estupefato, pois na sua concepção, um cabeludo com visual de hippie, jamais deveria reconhecê-lo, mas o fato é que eu acompanho futebol com vívido interesse desde os oito anos de idade e nunca cortei esse, digamos, "vício", mesmo ao ter mergulhado em um campo cultural tão diferente e de certa forma avesso ao mundo prosaico, conservador e popularesco do futebol. E nem sou santista, aliás, pelo contrário, o "seu" Zito mais atrapalhou o meu time do coração, enquanto jogou...
Xandra Joplin na frente, rodeada por Paulo Zinner (esquerda), e a banda inteira, quando do dia de sua participação a gravar Backing Vocals no álbum: Chronophagia, como nossa convidada, em 2000


Enfim, de volta ao bar, já anoitecia quando encerramos o soundcheck e vi que a ótima cantora, Xandra "Joplin", entrou no recinto e deu de cara com o Barata Cichetto que fez uma grande festa por vê-la. Outra coincidência, Barata a conhecia de longa data, por ser entusiasta de sua performance como cantora cover da Janis Joplin, e fã da Janis Joplin, inveterado que era, ele aplaudia a fidedignidade interpretativa de Xandra em seus shows-Tributo.

O nosso show ocorreu com bastante entusiasmo, ao levar os cento e poucos presentes ao delírio, com muitos fãs da banda presentes.
Bem, já no meio da semana seguinte, voltaríamos à rotina das turnês, com mais uma ida à Santa Catarina, para três shows em três cidades, e que renderam boas histórias.
Continua...

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