quinta-feira, 25 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 362 - Por Luiz Domingues


Além da reunião convocada por Miguel, logo no início de janeiro de 1987, para repercutir o show que fizéramos no TBC (já relatada em capítulo anterior), uma atividade informal aconteceu também nos primeiros dias desse mês. Conforme eu já mencionei antes, havíamos visitado o comediante, Agildo Ribeiro, em seu camarim, por ocasião dele estar em cartaz com o seu monólogo, ainda ao final de 1986. Como fora uma visita apenas, ele convidou-nos a assistir o espetáculo em outra ocasião, inteiro, desta feita.

Então, em 9 de janeiro de 1987, eu e Zé Luiz fomos prestigiar o comediante, ao assistirmos o seu espetáculo de humor, no Teatro Paiol, no centro de São Paulo. Beto e Rubens não puderam ir, e além de nós dois a representar a banda, uma micro comitiva de familiares do Zé Luiz também nos acompanhou. Sua irmã, Bete Dinola, (a artista plástica, e responsável pela capa do nosso primeiro compacto, de 1984), sua mãe, Sraª Dinola e Eliane Daic, a Lili, sua namorada e produtora executiva d'A Chave do Sol.

Foi hilário o espetáculo. Em cerca de duas horas, Agildo levou o público à histeria em meio a tantas risadas que provocou, ao contar casos, imitar pessoas famosas e debochar do governo.

Enfim, foi uma performance sensacional e no meu caso, não foi exatamente uma novidade, pois a despeito de nunca tê-lo visto ao vivo no teatro, até então, eu sabia de seu potencial como comediante e ator, desde os anos sessenta, ao vê-lo na TV. Sonia estava eufórica no camarim com o sucesso do Agildo naquele instante, e ali naquele momento, tive a certeza de que a música não seria mesmo o seu forte, e isso explicou muita coisa. Como produtora teatral, ele funcionava muito bem, convenhamos...

De volta aos nossos negócios, uma sinalização de show vendido a um contratante em uma pequena cidade do interior de São Paulo, surgiu para o mês de janeiro de 1987. Enfim, foi algo que o Studio V nos mostrava de concreto. 

Entretanto, antes disso, outro contato surgido por nossos próprios meios foi fechado, para um show no litoral do estado. Tratou-se de um contato surgido no ambiente da gravadora/loja Baratos Afins, e os amigos do Platina tocariam conosco. Seria um prazer, é claro, pois além de termos muita amizade com os seus componentes, desde 1984, achávamos que o trabalho deles tinha muita qualidade técnica, e semelhanças com o nosso.  Por exemplo, ambos os grupos praticavam um Hard-Rock com influências setentistas claras, e caprichavam nos arranjos.


Mesmo assim, no caso deles, estavam mergulhados no Hard oitentista, sob apelo californiano, inclusive no visual, mas na minha ótica, o Platina era uma banda milhas acima do que qualquer banda norte-americana de Hard Rock oitentista. Não havia comparação com o nível instrumental dos irmãos Busic, e do excelente Daryl Parisi, com similares yankees, talvez com a honrosa exceção de Eddie Van Halen, ele pessoa/músico, e não a banda, bem entendido.

Dessa maneira, fomos para a cidade de Itanhaém, no litoral sul do estado de São Paulo, para nos apresentarmos em um clube local. Claro, em pleno verão e dentro de uma cidade praiana, fez um calor de rachar, mas a viagem foi extremamente prazerosa, com descontração.

Alheio à nossa desconfiança manifestada nos últimos dias de dezembro, Toninho viajou conosco, sozinho, sem a presença de Sonia, e nos dizia que muitos shows aconteceriam doravante fora de São Paulo, e que ele seria o road manager nessas viagens, a cuidar de toda a nossa logística. "Tudo bem, que assim seja, amém"... pensamos na época, mas nessa altura, já não nos empolgávamos mais com os delírios "quixotescos" do rapaz e ali mesmo, nesse clube de Itanhaém-SP, seria mais um show cujo contato fora nosso, a cair gratuitamente nas mãos deles. Enfim, apesar disso, o clima esteve agradável nessa viagem e o voto de confiança para o Studio V, ainda mantido.  

O clube em questão se chamava: "Iate Clube". Com boas instalações, mas sem luxo, detinha um salão de festas amplo, onde seria realizado o show. Um equipamento digno estava providenciado para o espetáculo, e o soundcheck foi bem tranquilo.

No camarim, estávamos entre amigos. Dividir um show com o Platina foi um prazer para nós, por tudo o que já descrevi e também pelo fato dos rapazes serem muito simpáticos para conosco, sempre. Muito brincalhões por natureza, e somado isso ao fato de se juntar ao Beto, que também era um piadista nato, eles tornaram o camarim, uma câmara de risadas.


Lembro-me que o Daryl Parisi já estava pronto para subir ao palco e ele mesmo não aguentou e soltou uma piada hilária sobre o figurino que usavam. Bastante carregado no visual de bandas norte-americanas típicas de Hard-Rock oitentista, eles vestiam calças do estilo "collant", com estampas exóticas e muitos panos coloridos e rasgados a esmo, como ornamento nas pernas e braços. Ao falar diretamente para eu mesmo, que estava na porta, disse algo como: -"estas roupas de trapezistas dão trabalho para serem vestidas"... para arrancar gargalhadas generalizadas.

O show deles foi excelente, no seu padrão habitual de qualidade.

A seguir, fomos nós para o palco e fizemos um show muitíssimo mais enxuto do que fizéramos alguns dias antes, no TBC em São Paulo. Por termos dado ênfase à músicas mais conhecidas, e a inserir bem poucas novas, privilegiamos desta feita, um show mais energético do que experimental. Só que houve um problema!

A divulgação do evento fora fraca na cidade e inexistente nas cidades vizinhas. Portanto, o público foi diminuto e circunscrito apenas às pessoas que circulavam pelo clube, a esmo, em uma noite de verão. Portanto, em um salão onde cabia pelo menos mil pessoas, cerca de cento e cinquenta testemunharam a nossa passagem pela cidade. 

Foi um show frio da parte do público, mas nada hostil. Pelo contrário, bateram palmas educadas ao término de cada música, mas claro que ao se revelar um público alvo das duas bandas, não deve ter lhes comovido de forma alguma as canções ali executadas.

Foi portanto um típico show que nada acrescentou artisticamente para nós, e cuja parte interessante que justificou-o, fora apenas e tão somente pelo cachê. Uma pena mesmo, pois o palco foi bom, o pessoal do clube foi muito gentil conosco, houve um equipamento razoável para trabalharmos, a companhia do Platina foi agradabilíssima pela amizade e pela qualidade do seu trabalho (e nesse caso, a tocar com uma ótima banda em um show compartilhado, só agrega), a cidade era/é uma graça pelo seu bucolismo de pequena localidade praiana e o verão estava a pleno vapor, com muitos turistas etc.

Foi assim o primeiro show de 1987. Com cento e cinquenta pessoas presentes, aproximadamente, no Iate Clube da cidade de Itanhaém, litoral sul do estado de São Paulo. 

Continua...

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