terça-feira, 9 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 97 - Por Luiz Domingues

E chegou o ano de 1997...

Cinco anos de atividades do Pitbulls on Crack, e um balanço precisava ser feito. Após cerca de sessenta shows; bastante material anexado ao portfólio, dois clips oficiais, muitas aparições na TV, execução maciça através de uma emissora de rádio FM, bem competitiva de São Paulo, uma participação com uma coletânea feita por uma gravadora de médio porte, e um CD lançado por outra, igualmente de médio porte, a conclusão foi de que a carreira da banda estava bem, se analisarmos por parâmetros do patamar underground, logicamente, pois tais números refletem cerca de dois meses de trabalho de uma dupla sertaneja com "esquema" por trás...

Muito bem, o Brasil é assim, e acabamos a nos acostumarmos a lidar com um mercado fechado em monopólios vergonhosos, a deixar as migalhas para serem compartilhadas por centenas de desafortunados (e dos anos 2000, em diante, creio que nem migalhas mais são passíveis de serem encontradas por quem não tem dinheiro e influência)...

Bem, dentro dessa realidade, o Pitbulls on Crack teve números interessantes, apesar de ter formatado a sua carreira a cantar em inglês, ou seja, um verdadeiro contrassenso, se a intenção fora buscar um mínimo de competitividade no mercado nacional. 

O esforço empreendido em torno desses cinco anos, nem foi tão sacrificante assim, visto por outro aspecto, por que o Pitbulls On Crack sempre foi uma banda pautada pelo aspecto: "Low Profile", a beirar o relaxo, até, na forma de se autogerir (no bom sentido do termo, que não se ofendam os demais membros da banda, por favor !). 

Dessa forma, ao considerar o tipo de cuidado pessoal que a banda manteve em seu cotidiano, esses números goram até surpreendentes. O "Canto do Cisne" passara, mas nós não havíamos tido essa percepção, e em janeiro de 1997, a luta continuou, ao menos logo no começo.

E a primeira atividade desse novo ano de 1997, foi a entrevista-show ao vivo, que cumprimos nos estúdios da Rádio Brasil 2000 FM de São Paulo. Essa emissora era uma Rádio Rock, concorrente da 89 FM, mas com bem menos poder de fogo, digamos assim. Apesar disso, o entusiasmo de seu mais prestigiado locutor & produtor, chamado: Osmar Santos Jr. (nada a ver com o locutor esportivo, homônimo), fazia com que a emissora sempre prestigiasse o Rock Nacional, ao programar bandas underground para tocar ao vivo.


 
As duas únicas fotos disponíveis dessa entrevista & show realizado na emissora Brasil 2000 FM. Na primeira acima, eu, Luiz Domingues; Deca e Toni Peres Rodrigues. No canto direito, só em detalhe: Zé Reis. Na foto abaixo, entre Chris Skepis e eu, Luiz Domingues, a fotógrafa, Myrna Zapata, que assistiu-nos no estúdio daquela simpática emissora. As fotos são de seu (Myrna), acervo pessoal

Desta vez, tocamos no dia 27 de janeiro de 1997, com cerca de vinte pessoas a assistir-nos, alguns amigos, e outras pessoas sorteadas pela própria emissora de rádio, para que pudessem ver ao vivo a nossa performance, e ganhar discos de brinde. 


Na mesma época, concedemos entrevistas para algumas revistas do meio musical (Rock Brigade, Cover Guitarra), e jornais menores, incluso um da cidade de Jundiaí-SP, que deslocou um repórter para entrevistar-nos na sede da gravadora. Ainda em janeiro, uma outra grande oportunidade de mídia, foi conceder entrevista para o ótimo programa cultural, "Metrópolis", da TV Cultura de São Paulo. 

A equipe de reportagem marcou conosco, na sede da gravadora, e com a "montanha" de latas, como cenário, o famoso repórter, Cunha Junior, foi muito simpático conosco. O problema interno da banda, foi que eu tentava falar sério durante tal entrevista, e os demais caiam nas brincadeiras, e assim, muito do meu esforço para implementar um conceito com o aparato, foi diluído completamente por tais pilhérias, ao se concretizar uma espécie de auto-sabotagem.



O Deca insistia em demolir o conceito Hippie, ao brincar com clichês surrados como: -"eu sou Hippie, por que não tomo banho", e o Chris sempre a alfinetar-me por eu não gostar, declaradamente, da "revolução Punk de 1977"... claro que eram brincadeiras inocentes da parte deles, mas tal tipo de atitude aniquilara a minha tentativa de fazer a banda, e sobretudo o conceito do resgate 1960 & 1970, ser levado a sério e ainda mais a difundir-se tal ideia via mídia. Eis abaixo a entrevista no programa "Metrópolis" da TV Cultura de São Paulo:


Eis o link para assistir no You Tube:
https://www.youtube.com/watch?v=q9SnbIBkmkY


Bem, ao pensar detidamente por outros termos, aquilo foi tudo uma farsa, e o Pitbulls on Crack não teve nada a ver com tal conceito, e nesse aspecto, somente eu estava mesmo a delirar com esse "sonho de resgate". Tanto foi assim, que poucos meses depois, eu saí da banda para fundar o Sidharta, farto de lutar em vão, em uma banda onde tal conceito não tinha nada a ver, na realidade. 


E a primeira apresentação do ano, foi um show coletivo, um daqueles festivais sem sentido, típicos dos anos noventa, com muitas bandas, e mais músicos no camarim, do que público no recinto...

Uma vista geral do Ginásio da Portuguesa de Desportos, no Canindé, em São Paulo, em foto de outro evento, nada a ver com esta narrativa

Graças a um convite do pessoal do "Velhas Virgens", um festival desses, realizado no Ginásio da Portuguesa de Desportos, seguiu essa cartilha noventista, pela qual o Pitbulls on Crack passou por tantas vezes. Foi mais uma noite desoladora e munida por muita reverberação sonora, em meio a um ginásio de esportes vazio, e com um monte de bandas de hard-core; punk, hreavy-metal, e que tais (uma garotada a usar as indefectíveis bermudas, a repetir a exaustão, o bordão típico da época: -"é ducaraio, véio"...). De fato, foi isso mesmo, mas com a conotação às avessas, em minha opinião, no pior sentido da metáfora...


Bem, desta vez, foi um show beneficente, que ocorreu em 22 de março de 1997, a atrair cerca de duzentas pessoas, no ginásio que abrigava de sete a oito mil pessoas, tranquilamente. O meu único prazer nessa noite, foi subir ao palco e ficar a mirar para aquelas arquibancadas vazias, e assim poder relembrar os incríveis shows de Rock; MPB e Jazz que eu ali assistira nos anos setenta. De "Rick Wakeman" a "Joe Cocker"; de "Mutantes" a "Gilberto Gil", "Hermeto Pascoal", "Novos Baianos", "Chick Corea", "John Mclaughlin", "O Terço", "Jards Macalé", e tantos e tantos outros.

Bem, momento muito particular meu, ao relembrar tais fatos ocorridos entre 1975 e 1978, e agora eu estava ali, em cima do palco, a tocar, como sonhara naqueles anos setenta. Porém, isso foi uma reminiscência fugaz, pois a realidade ali naquele momento, não se mostrou como a ideal. Eu gostaria de tocar no ginásio da Portuguesa de Desportos, sim, porém sob outras circunstâncias, e não com aquela deprimente companhia de incautos com postura anti-Rocker. 

Enfim, foi mais um prenúncio de que 1997 não traria grandes avanços para o Pitbulls on Crack, e pelo contrário, apontaria a decadência do que construíramos ao longo dos cinco anos de existência da banda. E claro, a banda em si e tampouco os meus companheiros, sob o âmbito individual e pessoal, não tiveram culpa alguma nesse processo. Foram os últimos estertores...

Continua...

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