Fomos ao "Sítio do Espanhol", local do show, no período da tarde.
Quando chegamos, vimos que haviam muitos funcionários empenhados em preparar o local para o evento. Os portões abrir-se-iam para o público às 18:00 horas, mas por volta das 15:00 horas, nós já estávamos lá, à disposição da produção, para o soundcheck.
Se por um lado, foi bom ver tanta gente a trabalhar para fazer a festa acontecer, por outro, foi decepcionante verificar que das ideias originais, quase nada, ou nada, literalmente, houvera sobrado para ser efetivamente colocada em prática. Toda a estrutura parecia a de uma festa comum, e a nossa presença foi que se transformara em um estorvo...
O primeiro golpe, veio quando fomos ver o palco e o equipamento do nosso show. Tratava-se de um minúsculo palquinho, que não diferenciava-se muito de uma barraca de pastéis de feiras livres (com todo o respeito às barracas de pastéis nas feiras...). O equipamento ali montado revelara-se modestíssimo, e claramente inadequado para alimentar o som em um campo de futebol ao ar livre. Somente as primeiras fileiras formadas por pessoas, com muita sorte, receberiam o som com a equalização razoavelmente inteligível, e vinte metros adiante, estas ouviriam uma maçaroca sonora, à mercê do vento que soprasse na hora do show.
Já havia caído uma boa chuva na madrugada anterior, e o campo estava bem enlameado. Convenhamos, seria um anticlímax até para fãs de uma banda consagrada, e o que dizer de nós, nesse caso?
Uma outra péssima notícia chegou-nos e particularmente para o meu gosto: o marqueteiro da gravadora abordou-me, e a aparentar estar muito preocupado, contou-me que a banda australiana agendada para participar do mesmo evento, contactara-o, e que um acidente acometera o seu baixista. Então, mesmo com o tal músico a vir com a comitiva, estava sem condições para tocar. Nessa circunstância, o marqueteiro desejava que eu tocasse no lugar dele.
Claro que eu não achava adequado tocar, por todos os motivos plausíveis e já elucidados neste relato. Mas o sujeito parecia apavorado, mais uma vez a denotar que apostara todas as suas fichas nessa banda estrangeira, como atração principal, e o fantasma de um possível cancelamento, causara-lhe calafrios.
Argumentei em contraposição de que não fazia nem ideia do que se tratava o som do tal de "Honey Island", e o rótulo de "Surf Music", seria vago, pois no meu conceito isso evocava artistas como: "Link Wray"; "Dick Dale", e "Beach Boys", mas certamente que esses sujeitos rezavam outra cartilha e o que chamavam como "Surf Music", devia ser um Pop-Rock com raízes oitentistas, se não houvesse o gênero do "Ska", entre eles.
Bem, essa conversa atormentou-me por horas (e convenhamos, ficar mais incomodado do que eu já estava, ao verificar a festa em profundo processo de fugir completamente de seus propósitos, foi na verdade, um fator a mais para lamentar-se). E chegou em um ponto, onde eu cheguei a aceitar "passar vergonha", para tocar um som completamente obscuro para os meus propósitos, mas ao final da longa noite que seguiu-se, isso culminou por não confirmar-se (ainda bem).
Continua...
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