terça-feira, 9 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 91 - Por Luiz Domingues

Justiça seja feita, mesmo ao sinalizar tudo ao contrário, na prática, ao menos nos crachás, fomos a banda a ocupar a posição "headliner" do nosso próprio show de lançamento do CD...

Fomos ao "Sítio do Espanhol", local do show, no período da tarde.
Quando chegamos, vimos que haviam muitos funcionários empenhados em preparar o local para o evento. Os portões abrir-se-iam para o público às 18:00 horas, mas por volta das 15:00 horas, nós já estávamos lá, à disposição da produção, para o soundcheck.


Se por um lado, foi bom ver tanta gente a trabalhar para fazer a festa acontecer, por outro, foi decepcionante verificar que das ideias originais, quase nada, ou nada, literalmente, houvera sobrado para ser efetivamente colocada em prática. Toda a estrutura parecia a de uma festa comum, e a nossa presença foi que se transformara em um estorvo...

O primeiro golpe, veio quando fomos ver o palco e o equipamento do nosso show. Tratava-se de um minúsculo palquinho, que não diferenciava-se muito de uma barraca de pastéis de feiras livres (com todo o respeito às barracas de pastéis nas feiras...). O equipamento ali montado revelara-se modestíssimo, e claramente inadequado para alimentar o som em um campo de futebol ao ar livre. Somente as primeiras fileiras formadas por pessoas, com muita sorte, receberiam o som com a equalização razoavelmente inteligível, e vinte metros adiante, estas ouviriam uma maçaroca sonora, à mercê do vento que soprasse na hora do show.

Já havia caído uma boa chuva na madrugada anterior, e o campo estava bem enlameado. Convenhamos, seria um anticlímax até para fãs de uma banda consagrada, e o que dizer de nós, nesse caso?
 

Uma outra péssima notícia chegou-nos e particularmente para o meu gosto: o marqueteiro da gravadora abordou-me, e a aparentar estar muito preocupado, contou-me que a banda australiana  agendada para participar do mesmo evento, contactara-o, e que um acidente acometera o seu baixista. Então, mesmo com o tal músico a vir com a comitiva, estava sem condições para tocar. Nessa circunstância, o marqueteiro desejava que eu tocasse no lugar dele. 

Claro que eu não achava adequado tocar, por todos os motivos plausíveis e já elucidados neste relato. Mas o sujeito parecia apavorado, mais uma vez a denotar que apostara todas as suas fichas nessa banda estrangeira, como atração principal, e o fantasma de um possível cancelamento, causara-lhe calafrios.

Argumentei em contraposição de que não fazia nem ideia do que se tratava o som do tal de "Honey Island", e o rótulo de "Surf Music", seria vago, pois no meu conceito isso evocava artistas como: "Link Wray"; "Dick Dale", e "Beach Boys", mas certamente que esses sujeitos rezavam outra cartilha e o que chamavam como "Surf Music", devia ser um Pop-Rock com raízes oitentistas, se não houvesse o gênero do "Ska", entre eles. 

Bem, essa conversa atormentou-me por horas (e convenhamos, ficar mais incomodado do que eu já estava, ao verificar a festa em profundo processo de fugir completamente de seus propósitos, foi na verdade, um fator a mais para lamentar-se). E chegou em um ponto, onde eu  cheguei a aceitar "passar vergonha", para tocar um som completamente obscuro para os meus propósitos, mas ao final da longa noite que seguiu-se, isso culminou por não confirmar-se (ainda bem).
Continua...

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