Concomitante a essa atividade de montagem do conteúdo das latas
promocionais, a gravadora teve um gesto positivo ao ajudar-nos também na
produção do show de lançamento do CD.
Convenhamos, não era uma
praxe das gravadoras envolver-se em tais produções. Pelo contrário,
lembro-me de ter tido contato com gravadoras nos anos oitenta, e as
conversas de seus executivos convergiam na direção contrária.
Por
exemplo, era comum ao receber material de alguma banda emergente,
preocuparem-se em saber se os seus membros detinham condição sócio-econômica
avantajada, e se possuíam um bom empresário com contatos, em detrimento
de sua música ser boa ou não. Por isso, foi promissor para nós,
que o esforço da gravadora nesse sentido fosse concreto, ao dar-nos
suporte para fazer um lançamento com barulho, e que de certa forma,
justificasse todo a aparato da lata etc.
Claro, foram
muitas as conversas para dar formato. Não seria um show tradicional a realizar-se em uma
casa noturna ou teatro, e fim de conversa. Com todo a aparato da lata e do
livro, o Alexandre Madeira, marqueteiro da gravadora, vislumbrou fazer
algo maior, e que
aproveitasse essa onda toda criada. Ele teve razão, pois seria um
barulho e tanto na mídia, se fizéssemos algo maior, a evocar essa
atmosfera toda.
Marina Yoshie, minha aluna, e que comandou todo o projeto gráfico do CD, seu aparato, e apoio para o show de lançamento.
Então,
nas primeiras reuniões de criação com a banda e a presença da Web
Designer, Marina Yoshie, falaram-se muitas coisas, mas já houve uma
certeza: não seria possível realizar algo pretensioso desse nível, em uma
casa noturna de pequeno ou médio porte. Deveria ser em um teatro, ou casa
de show de grande porte.
Foi então que o marqueteiro, Alexandre Madeira, teve
uma
ideia que poderia lograr êxito: segundo ele, houve uma produtora de
amigos seus que era especializada em realizar mega-festas em chácaras;
sítios, fazendas, e afins. Estavam acostumados a providenciar a
organização de festas com até quinze mil pessoas presentes, tendo diversos
motes temáticos,
inclusive "raves" de música eletrônica. Ótimo, poderia funcionar,
mas desde que adequassem-se ao espírito dos anos sessenta, a ver com o aparato todo, pensei eu. E claro
que seria difícil passar esse conceito para pessoas sem a menor
familiaridade com o assunto.
No entanto, antes de qualquer julgamento
prévio, claro que aceitamos fazer uma observação de campo, a convite do
Alexandre Madeira. Sendo assim, eu e o Deca fomos juntos, em uma noite de sexta-feira de
outubro de 1996, a uma dessas festas organizadas pelos amigos dele. Tal
evento aconteceu em um sítio muito grande, localizado na cidade de Cotia,
que vem a ser uma das trinta e nove cidades que ficam anexas literalmente em São Paulo, a formar a Grande São Paulo. Se tratou de
uma festa a esmo, sem um mote específico, mas inacreditavelmente, havia
ali, milhares de pessoas, e em sua maioria absoluta, jovens de origem
socioeconômica avantajada. Apesar disso, pareciam divertir-se
em um ambiente rústico, com poucas atrações, a não ser um ambiente fechado de
música eletrônica, e um palco ao ar livre, em um campo de futebol, onde uma
banda tocaria ao vivo.
The Central Scrutinizer Band, uma banda especializada em reproduzir o som de Frank Zappa and The Mothers of Invention
Com um P.A. razoável, mas com iluminação muito
insuficiente, surpreendi-me ao tomar conhecimento da banda que tocaria como atração dessa noite:
foi então a "Central Scrutinizer", uma banda cover do "Frank Zappa & Mothers
of Invention". Ora, se vivo, seria bizarro ver um show do Frank Zappa
para uma plateia formada por playboys, imagine uma banda cover...
Sem
preconceito, mas sendo muito realista, tornou-se óbvio que seria no mínimo
interessante como uma atração musical desse quilate (diga-se de passagem,
essa banda era (é) impressionantemente boa, apesar de usar seu talento
para
"covers", ainda que a reproduzir o som de um gênio, como Frank Zappa), seria digerida por doze mil
playboys, sem identidade Rocker alguma.
Ficamos um pouco no ambiente
a assistir e de fato, no campo de
futebol devia haver cerca de mil pessoas presentes, e a apreciar muito a
performance Zappeana dos rapazes. Eu também gostei da perfeição com a qual
executavam diversos temas complexos do mestre.
Independente dessa
revelação surpreendente, é claro que a imensa maioria dos presentes na
festa, estavam a circular pelo sítio e alheios ao som ao vivo. certo, não
era nosso problema, e certamente que não esperaríamos que uma multidão
concentrasse-se no campo de futebol para ver o nosso show, se o nosso
lançamento fosse ser realizado ali, eventualmente. Por outro lado, eu e
Deca
gostamos de observar outros aspectos.
A organização como um todo pareceu-nos
eficiente. Vários pontos que observamos, se mostraram satisfatórios. Houve a presença de muitas barracas a oferecer comidas e bebidas, a segurança pareceu estar sob controle,
com vários profissionais espalhados pelo sítio, e não notamos brigas ou confusões,
com as pessoas aparentemente felizes por estar ali a aproveitar a festa. Eu e Deca,
a representarmos a nossa banda, concedemos o nosso aval e as negociações começaram
para viabilizar o nosso lançamento nesse mesmo sítio, e sob a
administração desse pessoal. Mas antes de ter essa confirmação de
negócio fechado, tivemos um bom compromisso, anteriormente.
Não
tocávamos desde fevereiro daquele ano de 1996, pois passamos por meses,
dedicados à gravação do CD. Mas esse convite foi bastante salutar, pois
envolveria várias questões. Fomos convidados a abrir o show da
banda: "Velhas Virgens", que lançaria o seu novo CD no Olympia, casa de
shows mais famosa naquela época em São Paulo, e o CD deles, fora um lançamento da
nossa gravadora, também. Portanto, seria uma ação boa para todos os
envolvidos.
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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