Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 87 - Por Luiz Domingues

Bem, a festa passou a degringolar nesse ponto, e paulatinamente foram a aumentar as restrições às nossas ideias, que eram temáticas em essência. Em um dado instante, a situação se tornou ridícula para nós, pois ficara evidente que tornáramo-nos um mero coadjuvante em nosso próprio show de lançamento. Toda a "badalação" ficara concentrada para a banda internacional que trariam para o evento, para ser headliner.

Tal banda chamava-se: "Honey Island" e que seria uma dissidência do famoso, "Spy  vs. Spy", ou a ser bem realista, uma obscura banda australiana, supostamente orientada pela estética da Surf Music. Segundo o Alexandre e os seus amigos, seria uma banda ideal para o evento, por conta do público habitue de suas festas, adorá-la, costumeiramente.

Muitas vezes, fenômenos assim acontecem no mundo da música. Ou seja, artistas com nenhuma visibilidade midiática, surpreendem por deter um público numeroso. Nos anos setenta, um artista popularesco, chamado: Amado Baptista, vendia milhões de discos, apesar de não aparecer com regularidade na TV e para intensificar, mal tocava nas estações populares de Rádio AM, contudo, mantinha uma agenda lotadíssima de shows. Isso aconteceria normalmente com o "Honey Island"? Segundo os organizadores do "nosso" show de lançamento, seria a solução para atrair um grande público.

Ora, se recordarmos a narrativa desde o início a explicar a concepção desse espetáculo, eu mencionei o fato de que eu, Luiz e o Deca, fomos ao tal sítio, previamente para avaliar o seu padrão de organização. A grande atração da festa foi uma banda cover, a reproduzir em termos de "tributo" o som de um artista hermético como Frank Zappa! Se nessas circunstâncias a festa atraíra algo em torno de doze mil pessoas, qual seria o temor desses organizadores?

Pareceu-nos uma desculpa esfarrapada da parte desses elementos, e então, começamos a achar que se dependesse deles, só faltaria nos excluirem do evento. Mas às vésperas do espetáculo, algo ainda pior aconteceria! Por pressão da gravadora, uma recém-contratada banda, estava a ser "encaixada" à nossa revelia na festa.

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Foi uma banda chamada: "Tiroteio", que praticava um som semelhante ao dos "Virgulóides", banda esta que estava a estourar no mainstream naquele momento. O grande trunfo que o Tiroteio tinha, foi o fato de seu líder, um rapaz chamado: Sérgio "Boneca", ter tido uma música sua gravada pelos Titãs, e estes, assumidamente "apadrinharem-no", artisticamente. 

Nem é preciso dizer, a aposta da gravadora, foi que esse "Tiroteio" abocanhasse uma fatia do mercado, a amealhar público dos Virgulóides. A estética do trabalho deles, era uma espécie de continuação da saga iniciada pelos Raimundos, ou seja, a misturar o som rude do Punk-Rock, a ritmos brasileiros, no caso do "Tiroteio", foi o "Sambão Joia", mais popularesco. 

Em suma, a revelar-se como um grupo formado por sujeitos de bermudas; cheio das malandragens de periferia, com a ruindade musical suprema do Punk Rock como condição sine qua non e uma tentativa de assassinato do Samba, como modus operandi. 

Conheci os rapazes e pessoalmente eles eram gentis, portanto, eu não teria motivo para nutrir qualquer contrariedade pessoal para com eles, aliás, muito pelo contrário, porém, as ideias deles, em termos de música/estética, se mostravam abomináveis. Incluir tal banda, com a sua tosquice e proposta estética adversa à nossa, foi mais um duro golpe para o nosso show de lançamento.

Continua...