segunda-feira, 22 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 349 - Por Luiz Domingues


Como uma última ocorrência a relatar sobre o mês do outubro de 1986, cito o lançamento de mais uma edição do fanzine do Fã-Clube, desta vez o número 6. Nesta altura, já tínhamos a estrutura do Studio V, e o nosso roadie, Eduardo Russomano, a trabalhar conosco, também nos afazeres do fã-clube. Portanto, ele colaborou bastante na elaboração deste número, mas a despeito disso, nada avançamos em relação ao lay-out do jornal-zine.

Esperávamos um avanço nesse sentido, com o Studio V a nos auxiliar a usarmos um serviço profissional de diagramação, copy-desk e quiçá ao rodá-lo em gráfica, com qualidade superior, mas Sonia alegou que não seria o momento para dar esse salto, e que no futuro, certamente que o faria como uma necessidade aos planos da banda... claro, claro. Portanto, o jornal saiu nos mesmos moldes simples com o qual estávamos acostumados.

Talvez a única novidade, tenha sido a inclusão do logotipo do Studio V, como uma marca de nossa ligação profissional com tal produtora, mas quase três décadas depois (a escrever e publicar em 2015), chega a ser irônico constatar que o escritório nos prometia "mundos e fundos" e na prática, nós é que o promovemos, com os nossos parcos recursos...

Sobre o jornal em si, logo no primeiro box, anunciamos justamente a nossa união com tal produtora, que ironia. 
1) Chave Empresário - Em tom solene, alardeávamos que trabalharíamos com empresários de "alto gabarito", para citá-los nominalmente, inclusive a acrescentar um elemento que não foi muito presente nesses primeiros meses em que ficamos associados ao escritório, mas que a partir de dezembro, ficaria mais próximo, o marqueteiro, Arnaldo Trindade.

2) TV - Falamos sobre o comercial da Mesbla Alternativa, que Rubens, Beto e Zé Luiz haviam feito meses atrás, e também sobre a aparição em um programa jornalístico da TV Pioneira (afiliada da TV Bandeirantes), em Teresina, Piauí.

3) Rádio - Comentamos sobre a sétima vez em que participamos do programa: "Balancê", da Rádio Globo/Excelsior de São Paulo. E nessa altura, tal atração já não contava com a apresentação de Fausto Silva, mas de Oscar Ulysses, locutor esportivo que despontava na época - hoje é bem famoso em São Paulo- e que vem a ser irmão do também famoso, Osmar Santos). Citamos o fato de que a música veiculada na entrevista fora: "Saudade", a demonstrar que as canções novas da Demo-tape norteavam os nossos esforços de massificação naquele instante. No programa de Sonia Abrão, na Rádio Tupi, tocamos, "Sun City", No Riff Raff, programa pesado da 97 FM, nos demos ao luxo de executar três músicas extraídas de uma fita K7, oriundas de um show ao vivo: "Pesadelos", "Ufos", e"Que Falta me faz baby", ao denotar uma intenção de soar mais pesado aos ouvintes mais fechados para um nicho específico de ouvintes. E a entrevista concedida para a emissora Poty FM de Teresina, a dar ênfase à nossa primeira visita ao Nordeste.

4) Revista - Foram comentários sobre as últimas publicações que haviam saído falando de nós, e comentários sobre publicações que estávamos a esperar e nesse quesito, invariavelmente frustrávamos os nossos leitores e à nós mesmos, pois muitas não vingavam, caso da "Bizz Heavy", cuja história eu já relatei anteriormente.

5) Repertório - Falamos sobre o fechamentos de novas músicas, a destacar: "Pesadelos", uma música pesada que não constou da nova demo-tape e não figurou muito do set list dos shows ao vivo, posteriormente. Além de "Desilusões", que fez parte da nova demo e a considerávamos "com balanço", e "Lírio de um Pantanal", que acabou por se tornar uma das mais queridas do público, e justificou-se tal sucesso quando foi incluída no LP "The Key", que gravaríamos no ano de 1987;

6) Fofoca - Mais demonstrações de bravatas ao estilo "Zeca Jagger", a enfocar os componentes da banda em situações extra-musicais, principalmente: Beto andara de limusine quando de sua viagem à Nova York no primeiro semestre. Rubens estava para anunciar a aquisição de mais uma guitarra. E eu, Luiz, frequentava shows de Rock de outras bandas. Zé Luiz, bem mais modesto nesta sessão glamourosa, "arrebentava" em sua nova atividade paralela como professor de bateria, e os quatro, juntos, foram juntos à exposição de Salvador Dali, no MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo).

Foi tudo verdade, ainda que eu glamorizasse a situação, a aumentar certas coisas...

7) Shows que rolaram - Uma geral sobre os shows que fizéramos de julho até ali, e já relatados aqui.

8) Fãs - Mais fãs que nos enviavam solicitações de amizade com outros fãs, e os seus respectivos endereços residenciais para receberem correspondência.

9) Perfil de Chave - A sessão criada para trazer mais particularidades de cada membro, trouxe desta vez, o Beto Cruz como enfocado. Falamos sobre a sua viagem à Nova York e os shows que lá assistiu ao lado dos músicos da banda brasileira, "Cérbero", que lá estavam a tentar a sorte, bravamente no mercado musical norte-americano. Sobre os shows, Beto de fato foi acompanhado desses rapazes do "Cérbero", aos shows de bandas pesadas norte-americanas, como "Raven" e "Anvil". Falamos também sobre equipamentos que ele trouxe da América do Norte.

10) Fã-Clubes - Tradicional seção onde destacávamos a colaboração de alguns fã-clubes e fanzines que nos apoiavam, e ao divulgarmos os seus respectivos endereços postais, retribuíamos a gentileza. Predominavam fã-clubes de Heavy-Metal, como a "Associação Demolition", que com esse nome poderia ser confundida com uma empresa de demolições prediais, eu diria, mas a sua diretoria era gentil para conosco.

E assim ficou o conteúdo desse fanzine nº 6, lançado em outubro de 1986, ainda modesto no seu lay-out, mas escrito e produzido sob intensa euforia, de nossa parte. 

Eu escrevi todo o texto, e Zé Luiz mais uma vez cuidou do lay-out geral, mas com Eduardo Russomano, o nosso funcionário exclusivo, a ajudar bastante.

Um toque subliminar salta aos olhos e explicaria fatos desagradáveis que ocorreriam muitos meses depois, na metade de 1987: o fato do Zé Luiz, mesmo empolgadíssimo com as perspectivas da nossa banda, como todos nós, ter anunciado aulas particulares, demonstrara que havia uma pressão familiar que lhe pesava sobre os ombros. A necessidade de ganhar dinheiro, mais rapidamente do que parecíamos que iríamos ganhar com um "quase certo" estouro na carreira, lhe obrigou a tomar tal providência. 

Não houve nada de errado nisso, a priori, mas pareceu um prenúncio de que a nossa euforia quebraria inteiramente, a seguir...

Continua...

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