sábado, 20 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 341 - Por Luiz Domingues


Superada essa barreira idiotizada, formada por adolescentes abduzidas por marketeiros/formadores de opinião, entramos enfim no recinto. Produtores do programa nos conduziram ao camarim, e ali tivemos a constatação de que o tratamento seria completamente diferenciado entre os astros hispânicos e as bandas reais. Todas as bandas ficaram juntas, alojadas em um camarim simples, apenas com água disponível para todos. Somente ali descobrimos quem seriam os outros participantes convidados. Uma das bandas foi o Hanoi-Hanoi, banda Pop-Rock, que fez um pequeno sucesso mainstream naquela década. 

          O Hanoi-Hanoi em foto promocional dos anos 1980

Tratava-se da banda do excelente, Arnaldo Brandão, ex-baixista d'A Bolha, grande banda de Rock setentista, além de ter sido baixista da banda de apoio de Caetano Veloso no final dos anos setenta. Tremendo baixista que eu admirava por essa ficha pregressa, mas apesar dessa reverência que eu nutria, o Hanoi-Hanoi não me despertava nenhuma motivação, contudo, pois parecia uma banda formada de ocasião, para aproveitar o modismo do BR-Rock oitentista, e na prática, se provou ter sido assim mesmo, ipsis litteris.

Conversamos um pouco com esses colegas, mais na base dos cumprimentos, e fizemos uma ou outra brincadeira sobre a "grande" atração do programa, os indefectíveis menudos, aqueles fantoches manipulados por marketeiros.

A outra banda se colocava quase no mesmo patamar que o nosso, em termos de status, mas dali em diante daria um salto vertiginoso em sua trajetória, a destacar-se do underground, e assim chegar ao mainstream. Em conversa ainda permeada pela humildade, um rapaz louro, com forte sotaque gaúcho, nos apresentou os seus companheiros. O nome da banda nos soou exótico, e na hora, a minha impressão pessoal foi de que se tratava de uma banda satírica, devido ao seu estranho nome: "Engenheiros do Hawaí". 


Engenheiros do Hawaí em seus primórdios, e na formação que dividiu o camarim conosco no Anhembi

O rapaz citado, foi o então desconhecido, Humberto Gessinger, que devo admitir, se colocou de uma forma comunicativa e humilde, apesar de que na época, não haveria mesmo motivo para nenhuma demonstração de soberba, pois a banda era só emergente na ocasião. Porém, sinceramente, pelo que pude detectar ali, o rapaz fora sincero e não demonstrava nenhuma afetação, e por conta disso, eu torço para que no trato pessoal ele tenha mantido tal postura, quando a banda alcançou o mainstream, pouco tempo depois.

Eles foram chamados ao palco, e voltaram a rir muito da histeria com a qual lidaram, mas segundo contaram-nos, o frenesi fora inofensivo e motivado apenas pela motivação das garotas em torno dos chicos internacionais, e isso até os divertira.

A Chave do Sol no camarim do Teatro Mambembe, em julho de 1986. Da esquerda para a direita : Rubens (de costas); Beto, Eliane Daic (nossa produtora), eu, Luiz Domingues, e um rapaz desconhecido (de costas)

Continua...  

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