domingo, 7 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 59 - Por Luiz Domingues


Em meio ao segundo semestre de 1994, eis que a minha tropa de Neo-Hippies estava solidificada. A minha sala de aulas já não era apenas um ambiente didático para aspirantes a aprender um instrumento musical, e/ou sonhadores em adentrar em uma carreira artística, mas na verdade, um micro-Centro Cultural, com ações concretas estabelecidas em torno do intercâmbio de informações. 

Daí em diante, espontaneamente, eles começaram a imprimir fotos que achavam na Internet, com imagens de ícones contraculturais, os mais diversos, e levar à sala de aulas, para que dessa forma, fôssemos a anexá-las ao mural, que ficou pequeno, e que a extrapolar, passou a ocupar todas as paredes do ambiente, doravante. Tornou-se, na verdade, uma autêntica tenda Hippie, e não foi mais incomum que ali acendessem incensos, também... 

Claro, fugiu um pouco do controle, e vez por outra eu controlava um pouco tal ímpeto, justamente para não deixar que o propósito original desvirtuasse-se, para perder o foco didático das aulas. Fora importante manter o padrão de qualidade das aulas a todo custo, evidentemente.
Eu, Luiz Domingues, a ocupar a minha histórica cadeira de "professor", com a "mítica" esferográfica na boca, pronta para ser usada para anotações nos cadernos dos alunos, entretanto, muitas vezes usada como "baqueta", para imprimir percussões que eu fazia a utilizar a própria cadeira, no afã de dar sustentação rítmica aos exercícios que propunha aos alunos... quem foi meu aluno, sabe bem desse recurso prosaico que eu usava, mas que invariavelmente, funcionava em meus propósitos didáticos...

No entanto, creio que mesmo em dias marcados por certos excessos de euforia, protagonizados por até dezoito adolescentes dentro da sala, eu conseguia controlar a balbúrdia... 
Alguns dos alunos e agregados das quintas, que por anos, frequentaram a saudosa sala da Rua Castro Alves...

A quinta-feira tornou-se o dia de pico nesse sentido, e quando o último aluno partia, às 21:00 horas, eu estava exausto...

Ao mudar de assunto, tirante aquela fase já relatada, onde a minha sala de aulas tornou-se um balcão de vendas de CD's, por muitas vezes eu visitei lojas de discos, acompanhados de alunos e agregados. Ao parecer uma verdadeira excursão escolar, tal prática mostrava-se mesmo como uma atividade extracurricular.

Além da diversão garantida em conduzir esses garotos para tal expedição empolgante, ou seja, a sua incursão pelo mundo dos discos, acho que essa prática ainda se provara como uma atividade lúdica e fundamental para quem gostava de música. Quando penso nisso, confesso que tenho saudade do tempo em que visitar uma loja de discos era parte fundamental do processo, como um ritual a apontar para um verdadeiro culto à música. 

Zé Carlos, proprietário da excelente loja: "Nuvem Nove", que marcou época para muitos colecionadores de discos

Levei-os muitas vezes à histórica loja, Nuvem Nove, que era uma das mais completas e aconchegantes de São Paulo, e completamente fora do circuito da famosa "Galeria do Rock", no centro da capital paulista. Muito bem localizada. no coração do bairro Itaim-Bibi, na zona sul de São Paulo, era a típica loja montada por apaixonados pelo Rock, e durante muitos anos, teve como funcionários, verdadeiros especialistas no assunto. 
O jornalista, Bento Araújo, editor da Revista Poeira Zine
Outro ex-funcionário da Nuvem Nove, o crítico de cinema e expert também em Rock, e música em geral, Sérgio Alpendre


Um exemplo dessa expertise ali à disposição nos balcões, foi o jornalista, Bento Araújo, o editor da genial revista: "Poeira Zine", que eu conheci ali na Nuvem Nove, e também o renomado crítico musical e cinematográfico, Sérgio Alpendre.

Além desses especialistas a trabalhar ali como funcionários, a presença de muitos jornalistas, músicos famosos, e colecionadores de discos com conhecimento enciclopédico sobre o assunto, fazia da Nuvem Nove, uma loja muito especial a ser frequentada.

E de fato, ali, por muitas vezes, eu levei a minha tropa de Neo-Hippies, que fizeram grandes compras, e absorveram os conhecimentos das pessoas ali presentes, nas animadas rodinhas onde o assunto sempre foi o Rock, principalmente das décadas de 1950; 1960 & 1970.

Uma outra loja onde os levei várias vezes, foi a Gramaphone, também ali no mesmo bairro (Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo).

Essa, era mais sisuda, e com linha mais tradicional de loja com "feitio de shopping" e público comportado, não Rocker. Mas o seu acervo era bom, e os preços ali praticados, interessantes. 

Só tive um pequeno problema na Gramophone, uma vez. Quando entrei com esse bando de garotos, o gerente incomodou-se, e eu notei que ele instruiu os funcionários para ficarem atentos...
Certamente, ele temera por furtos e/ou vandalismo, por puro preconceito, mas não me senti ofendido. Até entendi a posição dele em torno da temeridade velada, e como não passou desse velado receio, não tenho o que me queixar. E ao final, os seus temores devem ter se tornado um grande alívio, pois os meus alunos e agregados, fizeram uma boa compra e o caixa da loja "tilintou" muitas vezes naquela tarde...

Por fim, particularmente eu ficava muito contente por vê-los a comprar grandes álbuns, de grandes bandas. Foi um reforço extracurricular e tanto para eles.

Continua...

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