domingo, 7 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 69 - Por Luiz Domingues



O outro caso escatológico que vou contar, foi ainda mais hilário, no sentido de que revelou-se um plano premeditado e diabólico! 

Eis que um dia, tocou a campainha de minha casa em um horário em que eu não esperava nenhum aluno. Quando fui ver quem era, percebi que era um aluno, e o guitarrista de sua banda, agregado de minha sala de aulas e amigo, também.

Estavam eufóricos, e queriam contar-me algo que parecia hilariante. E era...ainda que a se tratar de algo abominável...

Bem, preciso retroagir, pois o momento em que apareceram na minha casa, foi na verdade, o imediato ato pós-realização da travessura. Bem, ocorreu que esse meu aluno arquitetou um plano diabólico que começara um mês antes, em sua residência. Ele defecou dentro de uma caixa de papelão, dessas ornadas para abrigar presentes de aniversário. 


Guardou esse material dentro de um compartimento inacessível para investidas de sua mãe ou de empregadas domésticas, e esperou por um mês inteiro, até iniciar a fase "B" de seu plano. Depois disso, ele prosseguiu a contar-me que recolheu a caixa, e ao verificar o estado de seu interior, haviam ali, larvas a rastejar, a se constituir em um autêntico cenário Dantesco... 
Então, ele lacrou a caixa com aquele material infame, e a revestiu com um papel de embrulho para presentes, e com o requinte da crueldade na sua premeditação, escreveu um lacônico cartão de parabenização. Chamou então o seu amigo, com o qual quis compartilhar o momento sublime de sua galhofa, e este, aceitou de pronto a cumplicidade do ato. Então, subiram a minha rua, que era uma ladeira muito íngreme, e cerca de três quarteirões acima, próximo a uma padaria famosa do bairro, tocaram a campainha de uma residência, e deixaram a caixa sobre o seu muro. 

Abrigaram-se atrás de uma árvore de grande porte, e ficaram a espreita para observar o resultado. Segundo eles, uma senhora apareceu no portão, e atônita com o pacote, leu o cartão de felicitações, olhou para a rua, à procura de algum sinal, e ao não ver ninguém nos arredores, adentrou novamente a sua residência, com o infame pacote às mãos. 
Os meninos comemoravam o êxito da operação, com gargalhadas descomunais, quando um rapaz bem mais jovem que a senhora, apareceu rapidamente do interior da casa, com a tampa da caixa em mãos, e a exercer uma espécie de olhar furioso, a denotar violência.
Nesse momento, os dois meninos galhofeiros saíram rapidamente dali, a disfarçar, e foram direto para a minha casa, com o objetivo de contar-me sobre a sua performance.

Claro que eu ri muito da travessura, pois a despeito do seu caráter infame, foi algo engraçado, em uma primeira análise, no entanto, no alto dos meus trinta e cinco anos de idade na ocasião, eu ponderei o quanto eu ficaria indignado se a campainha de minha casa tocasse um dia, e um presente desses fosse deixado para a minha mãe. Enfim, essa história foi tragicômica...


Continua...

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