sábado, 6 de junho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues


Eis a transcrição ipsis litteris, da resenha que eu escrevi para o fanzine: "In Rock Signo Vinces" :


"Meu Caro Nelson Maia Netto, desta vez você me passou uma "bola quadrada".  Mas, prometo me esforçar para não perdê-la e, se possível, marcar um golaço para o "In Rock Signo Vinces". Bem, a metáfora procede, pois é mesmo duro ter que comentar um novo disco do Deep Purple em pleno alvorecer de 1994.Preconceito? Não...

Simplesmente é um fato concreto que a volta de um grande dinossauro, nunca supera em termos de qualidade e brilhantismo de sua fase áurea. O mundo é dinâmico e se apresenta em ininterrupta mutação e daí, fica mesmo muito difícil recriar na sua totalidade, o clima de uma época já passada. A grosso modo, eu não gosto da "volta" do Deep Purple, a partir  de 1984. Acredito mesmo que o melhor teria não ter havido esse ressurgimento e que nas nossas memórias se perpetuassem as doces lembranças de uma sólida e bela carreira, construída do fim dos anos 1960, ao meio dos anos anos 1970.

Infelizmente isso não aconteceu e apareceu uma nova fase da banda, marcada pelo álbum "Perfect Strangers" e outros que se seguiram, culminando neste último lançamento, intitulado : "The Battle Rages on"... que saiu na metade de 1993. Em hipótese nenhuma seria um mau disco, se ele tivesse sido gravado por qualquer banda Hard inglesa ou americana da atualidade, entretanto, por se tratar de um Deep Purple, a cobrança é inevitável por motivos óbvios. Não dá mesmo para engolir uma obra menor de uma banda formada por músicos e compositores que deixaram sua marca na história do Rock, com geniais monumentos tais como: "Machine Head", "Deep Purple In Rock" etc.

O disco é burocraticamente chato do começo ao fim.  Para iniciar, uma pergunta que está engasgada na garganta de todo fã antigo do Deep Purple: O que houve com Ian Paice? No auge do Deep Purple, ele esbanjava uma técnica invejável que o alçou à condição de um dos melhores bateristas do Rock e até um pouco mais, pois ele rivalizou com diversas feras do Jazz-Rock, tais como Billy Cobham, Alphounse Mouzon e Lenny White. E o que temos visto desde 1984? Um Ian Paice "bate-estaca", tocando grotescamente como se fosse um bateristazinho pop qualquer. Neste último disco, Paice prossegue tocando mediocremente, como se fosse a mais entediante e horrível obrigação, gravar mais um álbum do Purple.

Outro escondido nesse "The Battle Rages on" é o velho Jon Lord. Somente na faixa "Solitaire", ele consegue mostrar-se um pouco, embora seja uma lástima que esta canção mais pareça uma balada new wave dos anos 1980, cantada por algum grupinho de caras com cortes de cabelo esquisitinhos e usando roupas extravagantes.

Alguns lampejos do velho Purple são sentidos ainda que bem discretamente em faixas como "Talk About Live"; "Nasty Piece of Work" e "One Man's Meat" (nesta última, uma surpresa: Ian Paice toca congas). Alguma coisa de blues em "Ramshacle Man", a torna razoável e "A Twist the Tale" prova que Ritchie Blackmore gosta mesmo é do Rainbow.

"Anya" e "Time to Kill" são "de doer".

Outra coisa desagradável é que em quase todas faixas, o vocal do Ian Gillan é dobrado. Tudo bem, ele também tem todo o direito de envelhecer, mas que é chato, é.

Ponto alto do disco : A capa. Trata-se de uma ilustração muito bonita. Estão vendo? É mesmo muito triste comentar um novo disco do Deep Purple e chegar a conclusão de que o melhor de tudo é a capa. Nos anos 1970, geralmente as capas eram simples, fotos ou desenhos dos membros da banda, mas o som que eles faziam... quanta diferença!

Nelson, eu tentei mas, infelizmente, não deu para fazer o gol, pois o Deep Purple deu um "bicão" na bola e ela bateu na bandeira do escanteio...

Quer saber da real? assistir jogo de "masters" é "chato pacas". É bem melhor ver os tapes dos velhos jogos, quando eles estavam no auge de sua forma".


Continua... 

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