Com um incentivo desse porte, ou seja, a oportunidade de sermos retratados em uma reportagem com várias páginas na maior revista semanal do país, é claro que não poderíamos perder a chance.
Dessa
forma, o Xando teve a ideia ótima de contactar o nosso amigo Junior
Muelas, o baterista d'A Estação da Luz, banda sensacional de São José
do Rio Preto-SP, e propôs-lhe dois shows compartilhados no interior de São
Paulo, baseado no fato de que o Muelas mantinha contatos na cidade e poderia auxiliar-nos nessa tarefa
de nos providenciar condições mínimas para tocarmos.
Foto promocional do espetacular grupo, "A Estação da Luz"
A
contrapartida seria a oportunidade para "A Estação da Luz" tocar conosco
e mesmo sendo um dos shows em sua própria cidade, portanto onde estavam
habituados a apresentarem-se, seria uma oportunidade boa de fazerem um
show com uma banda da capital e mesmo a estarem no mesmo patamar de
grandeza, nós tínhamos muito mais mídia agregada e isso seria bom para eles como contrapartida.
E no caso de um segundo show em outra cidade interiorana, a vantagem seria óbvia para as duas bandas.
Fora isso, a grande motivação mesmo seria a presença do jornalista e de seu repórter fotográfico juntos conosco e que mesmo indiretamente haveria de notar para a banda dele, também, e claro que isso animou Muelas, ao pensar na oportunidade que também respingaria em sua banda.
Sobre a
casa onde tentar-se-ia fechar um show, além do Muelas ter contato com
seus mandatários e costumeiramente ali apresentar-se com a sua banda,
houveram possibilidades ótimas para as nossas duas bandas.
Em primeiro lugar, tratara-se de uma casa de espetáculos atípica no interior de São Paulo, por abrir as suas portas com frequência para artistas autorais fora do patamar mainstream, ou seja, um caso raro ao se tratar da mentalidade generalizada da parte de proprietários de casas noturnas.
O segundo ponto, foi que a casa mantinha uma ótima estrutura de equipamento de som e iluminação, portanto, seria possível fazermos um espetáculo de qualidade em seu palco.
E uma
terceira vantagem, foi que tal casa detinha uma filial em outra importante
cidade interiorana de grande porte, no caso, Ribeirão Preto-SP. Portanto, a matriz de São
José do Rio Preto geralmente proporcionava a possibilidade de agendar-se
automaticamente um segundo show na filial de Ribeirão Preto.
Tal casa chamava-se: "Vila Dionísio" e além de abrir as suas portas para artistas do underground, esse estabelecimento também promovia shows de artistas de médio porte e até alguns que já detinham espaço significativo no mundo mainstream e naqueles dias já não gozavam dessa prerrogativa.
Bem, para agendar os shows do Pedra, não foi uma negociação fácil pela obviedade de não sermos artistas alojados no patamar mainstream, portanto, para se convencer os dirigentes da casa a usar a fortuita argumentação de que éramos uma "boa banda" e com discos "legais" e elogiados em órgãos especializados, não foi garantia de nada.
E nessa
altura, nem pensávamos em pleitear um cachê digno, mas estávamos
convencidos de que se conseguíssemos apenas a verba para cobrir as despesas
operacionais, já estaria bom demais.
Foto a esmo, não é de nossa apresentação, apenas a ilustrar como era o espaço próximo ao palco
Muelas
tinha consciência plena de todas as dificuldades inerentes nessa
negociação e ao usar do seu poder de influência com os proprietários ele argumentou como uma cartada definitiva e logrou êxito, o aspecto da própria reportagem aventada.
Ou seja, o fato de que um jornalista da Revista Veja estaria a cobrir os shows com total foco a visar uma reportagem e que fatalmente as duas casas seriam citadas e retratadas em fotos, nas páginas da maior revista brasileira.
Diante de
tal perspectiva alvissareira, os dirigentes convenceram-se de que valeria a
pena contratar-nos e assim, graças aos esforços do Xando e de Junior
Muelas, que foi incisivo como agente de campo e hábil negociador.
Habemus turnê... a fumaça branca espalhou-se no céu da Vila Mariana... faríamos dois shows no interior de São Paulo, nas cidades de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, a compartilhá-los com a ótima banda, "A Estação da Luz".
Ligamos então para o jornalista, Sérgio Martins e demos-lhe a boa nova que tínhamos os shows marcados e portanto, estávamos prontos para o mote de sua reportagem. Ele já havia viajado com uma mega estrela mainstream em meio a uma etapa de sua turnê cheia de mordomias pantagruélicas, havia concluído uma matéria com um artista mediano e popular, no caso, o grupo de pagode "Inimigos do HP", a viajar em um ônibus confortável e agora teria que enfrentar a dureza de uma banda com infraestrutura muito aquém das que experimentara, a sofrer dentro de uma apertada van, com o sol a pino do verão interiorano paulista e para cobrir uma banda com equipe modestíssima de apoio etc.
Bem, foi exatamente o que ele desejara, já que a reportagem continha como pauta expor as diferentes realidades do show business brasileiro.
Continua...
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