Uma proposta interessante surgiu para dividirmos um show com os nossos amigos do "Tomada", no Centro Cultural São Paulo.
A se tratar de um dos poucos espaços que ainda abriam as portas para artistas autorais do fora do âmbito mainstream, o Centro Cultural São Paulo foi sempre uma garantia de poder proporcionar-nos um espetáculo digno, com boa infraestrutura de som, iluminação & instalações, mas depunha contra o fato de exigir dos artistas uma burocracia massacrante.
E um outro
fator desagradável e que já remontava há anos, o espaço apesar de ser
maravilhoso arquitetonicamente a se mencionar e estar super bem localizado,
com uma estação de metrô acoplada às suas instalações, o fato foi que não costumava
mais atrair as multidões de outrora, mesmo com artistas consagrados do
mainstream ali a apresentarem-se. Inexplicável fenômeno, mas a realidade
foi essa e já fazia tempo que apresentava-se essa dinâmica desagradável ali.
Independente disso, o Pedra já havia tocado em tal espaço várias vezes e dessa forma, foi mais uma oportunidade certamente e que seria ótima para nós, mesmo ao se configurar como um show compartilhado, portanto a nos obrigar a reduzir o nosso set list em quarenta ou quarenta e cinco minutos no máximo.
Sem perspectivas para outros shows tão cedo em nossa cidade, claro que aceitamos dividir a noite com o Tomada. Além do mais, os rapazes que formavam tal banda, eram amigos de longa data e portanto, o clima de camaradagem seria total nos camarins e na cooperação nos esforços de divulgação e backline compartilhado mutuamente.
No soundcheck desse show, tudo correra bem quando começamos a fazer os trabalhos preliminares de preparação do nosso set up. Tocaríamos por último, portanto realizávamos a praxe do soundcheck invertido para que o Tomada aprontasse-se, e o seu set up ficasse arrumado para o seu show, inicialmente.
Eu estava a caminhar pelo palco, a esperar o trabalho de conclusão da microfonação
toda ser testada e o meu equipamento pessoal já estava todo preparado. Foi quando
de repente eu ouvi um grito horripilante da parte do Xando, mas
ao conhecê-lo e por saber que tem espírito brincalhão, por uma fração de
segundos achei ser uma galhofa de ocasião de sua parte para brincar com o Renato Carneiro que
estava a interagir com o técnico do teatro nesse momento.
Aliás, eu e todo mundo, pensamos inicialmente tratar-se de alguma brincadeira entre os dois, todavia, algumas frações de segundo depois, todos perceberam que houve algo grave a ocorrer, pois ele estava no chão, a se contorcer e a gritar, com um microfone Shure SM 58 grudado em sua mão!
Instaurou-se
o pânico e a gritaria com várias vozes a darem voz de comando ao mesmo
tempo e a maioria a clamar para que o técnico da casa desligasse o
disjuntor geral que alimentava o palco inteiro de energia elétrica.
Gary Thain, baixista do Uriah Heep, levou um choque violento no palco, durante um show em 1974, isso foi um fato histórico e triste na história do Rock.
Foi quando o Renato Carneiro, muito experiente em operar PA's gigantescos e alimentados por verdadeiras usinas de eletricidade, fez o mais óbvio e que ninguém pensou. Eis que ele puxou o cabo do microfone com força, pela parte emborrachada e o destruiu, a interromper a corrente elétrica. Tudo bem, que o CCSP colocasse o prejuízo na conta do Pedra, depois...
No camarim
do CCSP, em 16 de maio de 2009. Da esquerda para a direita: Xando
Xupo, o jornalista Thomas Lagôa e Luiz Domingues. Foto de Grace Lagôa
Tudo isso
foi uma agonia que durou cerca de dez segundos, não mais que isso, mas pareceu ter
durado horas, principalmente para o Xando que sofreu e assustou-se muito,
naturalmente.
Chamaram o eletricista do Centro Cultural e cogitou-se cancelar o show, pois tal incidente motivara a preocupação do técnico de som, mas foi uma questão de energia e obviamente que se tornou perigoso para todos.
A
enfermeira plantonista do Centro Cultural foi chamada e examinou o Xando
superficialmente, a lhe medir a pressão arterial e batimento cardíaco. Uma
pequena queimadura em sua mão foi produzida, incômoda, mas sem uma gravidade maior.
Terminada uma checagem inicial, o eletricista alegou que não haveria mais riscos, mas todos ficamos apreensivos. Depois do ocorrido, histórias começaram a serem contadas e deram-nos conta que através de um recente show do Golpe de Estado ali apresentado, o guitarrista Hélcio Aguirra fora vítima de um choque também.
Em suma, o Centro Cultural estava com problemas e não demorou poucos meses, tal complexo cultural fechou as suas portas para uma grande reforma, mais do que necessária.
De volta ao ambiente do soundcheck, o Xando ficou mais calado, ao perder a sua costumeira maneira
expansiva para comunicar-se e brincar com todos. O susto foi grande e não
foi para menos, com aquela corrente elétrica a passar pelo seu corpo e a torrá-lo, literalmente.
Mesmo assim, ele insistiu em não ir ao médico e não cancelar sob hipótese alguma a nossa participação. Atitude de uma hombridade ímpar e muito corajosa, sem sombra de dúvida.
Ao descansar no camarim, foi a refazer o seu ânimo, mas mesmo com toda a boa vontade para prosseguir, a verdade foi que o episódio lamentável estragou-lhe o dia. Ele tocou sem transparecer nada ao público e até brincou com o ocorrido ao microfone, mas a verdade é que isso tirou o seu humor habitual.
O Tomada tocou e eu assisti grande parte de seu show pela famosa escada que dá acesso ao camarim. Foi um show energético e nessa época, a banda estava em grande fase com uma formação que continha muita química e uma garra de palco incrível, com Lennon Fernandes e Marcião Gonçalves nas guitarras.
Eu já sabia pelo
Marcelo Bueno que eles haviam convidado um pessoal que os estava
a sondá-los para conversar sobre a questão do suporte digital, venda de músicas
virtualmente etc. Gentil como sempre, ele indicara-nos também para essa
turma de jovens empreendedores, mas nós não havíamos recebido nenhum
contato formal da parte deles.
Leia uma resenha desse show, no site "Alquimia Rock Club", assinada pelo jornalista Fabiano Cruz:
http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/391/
Fizemos o
nosso show e apesar do problema com o Xando e pela paranoia que ficamos
em não tocarmos nos microfones e sobretudo não encostarmos os lábios quando
fôssemos cantar, nós quatro, foi um show muito bom.
Pedra no CCSP em 2009. Luiz Domingues no destaque. Acervo de Fabiano Cruz
A minha
lembrança desse show foi a de uma das nossas melhores performances ao
vivo, tamanha a sinergia que conseguimos estabelecer com o público,
apesar de estarmos internamente abalados com a história do choque no
soundcheck.
Os jornalistas Bento Araújo, Régis Tadeu e Sérgio Martins assistiram-nos e o Bento contou-nos que o Régis Tadeu que é um crítico muito exigente, se mostrara encantado com a nossa performance ao vivo. Ele conhecia o som dos discos do Pedra e inclusive escrevera resenhas ótimas ao nosso respeito, mas ao vivo, creio que nós o surpreendemos pela coesão musical, intensidade e sinergia, e segundo ele disse aos seus demais colegas, fazia anos que não via uma banda soar assim ao vivo.
Na segunda-feira subsequente ele mandou-nos um e-mail para anunciar que programaria entrevistas e até a exagerar, disse que enfocar-nos-ia nas suas quatro revistas que editava.
Isso nunca aconteceu de fato, mas eu sei que o
mundo do jornalismo é volátil e alguma obstrução ocorreu e quando
poderia ter acontecido, tal entusiasmo dele deve ter arrefecido-se, sem
problemas e sem mágoas, absolutamente, sei como isso funciona.
Ainda a tocar, já estávamos no ato do "bis", quando eu percebi que a reação do público super calorosa e a corresponder à percepção dos três jornalistas importantes que eu citei, deve ter impressionado o pessoal da tal proposta de mídia digital que comparecera ali no teatro para ver o Tomada, pois eu os mirei a apontar para nós e rapidamente a evadirem-se da parte do mezanino superior de onde assistiram os shows.
Rodrigo Hid no destaque. Acervo de Fabiano Cruz
Não deu
outra, assim que chegamos ao camarim com o show finalizado e a recebermos
os amigos e fãs, fomos abordados por esse pessoal.
Ao passarem por cima de
qualquer protocolo de aproximação e tampouco a estabelecerem "joguinhos" sociais
dissimulados, eles foram direto ao assunto: gostaram do nosso som,
impressionaram-se com a interação que nós tivéramos com o público e queriam contratar-nos
também para o seu projeto.
"Se você for a Fim" no Centro Cultural São Paulo em 16 de maio de 2009
https://www.youtube.com/watch?v=TMJ9PQlhH4I
"Sou Mais Feliz" no Centro Cultural São Paulo, em 16 de maio de 2009
https://www.youtube.com/watch?v=AgS0U1ekN98
Eu nunca havia visto uma abordagem tão direta assim e... calma... primeiro digam-nos quem são vocês, o que pretendem, que poder de fogo tem em mãos... ou seja, o básico do básico do manual da prudência...
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=AJoC2fc_h7U
Lembro-me
que eram todos muito jovens, a aparentarem serem universitários recém
formados, três ou quatro rapazes e uma moça.
De positivo, além da extrema objetividade, foi o fato de que demonstravam estarem extremamente motivados com o seu projeto. Isso foi ótimo, claro, jovens empreendedores com vontade de fazer algo no mercado para lograrem êxito e a ganharem muito dinheiro, foi no mínimo um fato positivo. Contudo, do que tratara-se afinal a sua proposta?
Noite de 16 de maio de 2009, Centro Cultural São Paulo com duzentas pessoas no recinto e show compartilhado com os amigos do Tomada...
https://www.youtube.com/watch?v=Te8B4gQ4XmU
Continua...
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