Foi quando o ano de 2011 amanheceu no
horizonte e no dia combinado para a retomada das atividades da banda, eu
cheguei e toquei a campainha da residência do Xando, quando estranhei o seu
semblante, que estava a denunciar algo estranho. Quando eu lhe disse: -"boa tarde, está tudo bem?"
Ele sorriu e a sua
expressão facial foi quase a denotar comiseração, mas ao mesmo tempo, de um indisfarçável
alívio recôndito. Fiquei atônito, ao não compreender e nessa altura, estive
mesmo absolutamente alheio ao que ocorreria.
Luiz Domingues & Xando Zupo em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
Ele respondeu que os demais colegas já estavam ali presentes e que logo eu saberia o que estava a ocorrer. Quando entrei, vi que todos estavam alegres, como se algo bom tivesse ocorrido e só faltara eu, para tomar conhecimento da notícia supostamente positiva.
Ele respondeu que os demais colegas já estavam ali presentes e que logo eu saberia o que estava a ocorrer. Quando entrei, vi que todos estavam alegres, como se algo bom tivesse ocorrido e só faltara eu, para tomar conhecimento da notícia supostamente positiva.
Luiz Domingues com o Pedra no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010, com Ivan Scartezini ao fundo. Foto: Grace Lagôa
Foi quando o Xando tomou a palavra e a enumerar as suas insatisfações pessoais com o rumo da banda e posturas de todos em relação a isso, anunciou-me que eles haviam decidido encerrar as atividades da banda, cansados que estavam.
Foi quando o Xando tomou a palavra e a enumerar as suas insatisfações pessoais com o rumo da banda e posturas de todos em relação a isso, anunciou-me que eles haviam decidido encerrar as atividades da banda, cansados que estavam.
Fiquei bastante
surpreendido, pois mesmo ao ter o pleno conhecimento que a banda vivia sob uma gangorra emocional
desde 2007, na minha concepção as insatisfações pessoais jamais poderiam
suplantar a nossa obra e se houve uma certeza que se tornara impecável na nossa
relação, se tratava justamente do resultado artístico que criáramos nesses anos todos.
Rodrigo Hid em ação com o Pedra em programa televisivo ao vivo, em agosto de 2010. Foto: Grace Lagôa
Contudo,
a cada tentativa de argumentação minha nesse sentido, o Xando e com intervenções
dos demais, foram a rebater os meus apelos para que não se tomasse essa resolução
naquele instante.
Mesmo superado o choque inicial pela notícia e acrescento
que fiquei também bastante chateado por estar a ser comunicado por último e
com a nítida sensação de que os três já haviam decidido isso bem antes, pela
sensação que tive ao vê-los altivos, sem nenhuma comoção, e pelo contrário,
a aparentarem alívio e felicidade pela decisão tomada.
Fiquei duplamente
chateado, portanto, pois mesmo cônscio que o clima interno na banda não era dos melhores
e haviam diferenças de mentalidade e até de apreço cultural muito acentuadas,
principalmente entre eu e Xando, eu considerava que tudo fosse superável e a obra
suplantava tudo.
Xando Zupo em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana, 7 de maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
Consegui ao final da conversa, pedir-lhes alguns dias para
que se ponderasse melhor sobre tal decisão e o Xando no seu afã típico de querer anunciar
publicamente o final oficial de nossas atividades o quanto antes na internet,
culminou em ceder ao meu apelo e uma outra reunião foi marcada para poucos dias
depois.
Hoje em dia, eu sei que essa postergação foi absolutamente inútil, pois a decisão
estava tomada de forma irreversível da parte dos três, e talvez eles tenham ficado
com compaixão em relação ao meu pedido, para aceitar simularem que pensariam no
caso.
O Pedra em foto panorâmica durante apresentação no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
Eu não estava nem um
pouco preocupado com a minha situação pessoal, pois o Pedra não era vital para a
minha manutenção pessoal e pelo contrário, se tratara de uma banda deficitária pela
agenda fraca que sempre teve e o seu merchandising também era inócuo. Não foi essa a questão.
Eu apenas fiquei muito chateado por deixar a banda finalizar a sua
carreira com um disco inacabado, ao dar-nos uma sensação de derrota,
desnecessária ao meu ver, pois se houve um sinal claro de desgaste e isso aconteceu mesmo, bastaria
tirarmos férias da banda por um tempo indeterminado, com cada um a buscar um novo rumo, mas sem necessariamente anunciar um final oficial das atividades através das redes sociais. A minha maior
contrariedade foi essa naquele momento.
Outra foto do Pedra no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
Mas acrescento mais uma discórdia de minha parte, pois eu não nego, foi também por
ter sentido-me preterido na decisão tomada de acabar com a banda, pois ficou-me
nítido que os demais já haviam decidido isso sem a minha presença e quando
eu cheguei ao estúdio para o primeiro encontro de 2011 para retomar os ensaios, eles estavam
decididos, altivos e a exibirem uma alegria que denotara alívio, o que contrastou
com a minha surpresa e choque pela notícia que deram-me.
Na segunda reunião e
ao reafirmarem a sua decisão, desta vez eu não fiquei surpreendido e nós mais
conversamos sobre questões técnicas a respeito dessa decisão, a falarmos sobre o
site, discos que sobraram no estoque etc.
Ivan Scartezini a atuar com o Pedra numa apresentação ao vivo num programa de TV em agosto de 2010. Foto: Grace Lagôa
Mesmo conformado, eu ainda não estava
satisfeito como eles, pois achei um erro anunciar o fim das atividades da
banda, oficialmente. Tudo bem que cada um partisse para buscar o seu caminho individual, mas na minha
concepção, se a banda marcasse um período indeterminado de férias e teoricamente a se manter "viva" não
teria sido diferente da situação que enfrentávamos desde 2007, com longos períodos de
escassez de apresentações ao vivo.
Portanto, se aparecesse uma oportunidade, teria sido o caso de apenas reagruparmo-nos e em dois ou três ensaios
nós eliminaríamos a ferrugem acumulada e colocar-nos-íamos em forma para subirmos em um palco.Além
disso, não se descartaria a hipótese de que alguns meses depois, com a mente mais arejada, nada impedir-nos-ia de reencontrarmo-nos para finalizar o
disco inacabado.
Mas eles não consideraram tal hipótese e realmente permaneceram fechados com a ideia de
se anunciar um final oficial de forma pública.
Houveram pendências, no
entanto, com situações finais para resolvermos ainda. O baixista do
Tomada,
Marcelo “Pepe” Bueno, entrara com um edital da Lei Rouanet para a
produção de
uma micro festival a ser realizado em São Paulo, com quatro bandas:
Tomada,
Pedra, Carro Bomba e Baranga. Tal edital fora aprovado e publicado no
Diário Oficial da União, mas daí a sair do papel dependia de muitos
fatores.
Com o fim da banda e se ele concretizasse-se, pelo fato de termos
assinado documentos dessa licitação, nós não poderíamos deixarmos de atuar.
Portanto,
o Xando fez essa ressalva e todos aceitaram tocar, caso o show fosse
confirmado,
e sem importar quando exatamente, à mercê de um futuro em aberto.
O ótimo comunicador, Atílio Bari, um raro apresentador culto e com nobres propósitos na TV brasileira
Mais uma questão pendente, um programa de TV
Comunitária, o simpático: "Em Cartaz" do apresentador & ator, Atílio
Bari estava marcado para nós para o início de fevereiro e comprometemo-nos a cumpri-lo,
mesmo com a banda extinta.
E houve um terceiro compromisso também há
muito
tempo ventilado: um show a ser realizado em um bar chamado: "Melograno", em meio a um projeto
com curadoria do Laert Sarrumor, meu antigo companheiro do Língua de
Trapo e Boca do Céu.
Chateado com essa resolução de finalização do trabalho, mas resignado, aceitei o desfecho e certamente que
coloquei-me à
disposição da banda para os compromissos "póstumos".
Continua...
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