O ano de 2013 entrou e o embalo de fim de
ano em 2012, dera-nos uma tranquilidade para pensarmos nas gravações, a finalizar-se
o disco inacabado de 2010, enfim.
Mas os ventos positivos pareceram abrirem
novas
frentes. Logo que o ano virou, recebemos o convite do Sesc Belenzinho
para uma
apresentação em seu belo teatro. Com cachê muito digno, sob um patamar que
achávamos ideal pela nossa qualidade artística, é claro que
interpretamos tal
convite como uma comprovação de que uma nova fase estava a chegar para
nós, pois
uma meta gerencial nossa, desde os primórdios da banda em 2004, foi a de adentrarmos de uma forma definitiva o circuito do Sesc, a nos apresentarmos em suas unidades
periodicamente e de forma sustentável, como muitos artistas médios que
conhecíamos e estavam a usar dessa rotina segura há anos.
Por termos nos apresentado no Sesc
Consolação há bem pouco tempo atrás e logo a seguir, recebermos o convite para
tocar no
Sesc Belenzinho, claro que essa impressão criada pela dedução lógica,
contaminou-nos positivamente.
Mas como sempre, apesar do convite
espontâneo,
haveria um mote, como sempre foi a praxe velada entre os produtores do Sesc na
sua
maneira de trabalhar. Falo sobre a insistência paradigmática em aterem-se aos
famigerados “projetos temáticos”.
E nesse caso, seria uma espécie de
festival nostálgico
sobre os anos setenta e nesse contexto, haveriam shows de bandas dessa
época,
e bandas novas que vibrassem por essa estética.
Por sorte, o programador do
Sesc
Belenzinho foi o mesmo produtor que agendara-nos em 2010 para a unidade do Sesc Vila
Mariana e ele enxergava em nós, a similaridade com a estética setentista.
Mas
honra seja feita, o curador do festival foi o Zé Brasil, líder do
histórico
"Apokalypsis", banda setentista que estava a todo vapor desde a metade dos
anos
2000, com uma volta das suas atividades.
Com a confirmação da data, a Cida
Cunha,
uma pessoa amiga da banda e que muito esforçou-se para ajudar-nos no ano
de
2010, entrou em ação. Aliás, ela já voltara a ajudar-nos em relação ao
show do
Sesc Consolação, ao sinalizar que retomaria a sua função como produtora e
com
pretensões a tornar-se uma empresária, um dia, e sendo assim, ela foi atrás
da
tradicional burocracia massacrante que o Sesc exigia para ali
podermos trabalhar.
Animado com a perspectiva de um show em um teatro de grande
estrutura, o Xando contratou uma equipe de filmagem, a visar produzir um
DVD do
show e com o intuito de postar no YouTube, a seguir.
Tratou-se de
amigos,
no caso o film-maker Capo Neto e que teria como assistente, um velho
amigo
nosso e Rocker histórico, o vocalista Nando Fernandes, muito famoso no
mundo do
Heavy Metal, principalmente e certamente que ele é uma das grandes vozes do Brasil
nesse
segmento.
Nando é um tremendo amigo, que eu conhecia desde os anos
oitenta e até o relacionei em uma história paralela no capítulo dos meus
trabalhos avulsos, a envolver uma gravação que fizemos no estúdio Mosh,
em 1997.
Preparamo-nos para fazermos um bom show, também ao pensarmos nessa
filmagem, mas sem elucubrarmos sobre provermos grandes novidades no set list, apenas a seguirmos o padrão dos
shows anteriores, ou seja, a apresentarmos uma mescla dos dois discos, mais os singles de 2010
e algumas músicas novas que estavam a surgir e foram sendo incorporadas ao
repertório, caso de "Os Teus Olhos", aliás, uma bela canção de
autoria do Rodrigo.
"Longe
do Chão" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Filmagem de Kico
Stone. Eis o Link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=fkiHcip0jvw
"Cuide-se
Bem" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Eis o Link para
assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fBoRlqkAwT4
"Luz
da Nova Canção", no Sesc Belenzinho, no dia 9 de fevereiro de 2013. Eis o
Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zKfgKL8ZFbk
O único senão para esse show do Sesc Belenzinho, foi o fato dele ter sido arrolado para o sábado de carnaval. Tudo bem, nesse tipo de circunstância sempre alguém apressava-se em argumentar que o público de uma banda de Rock não gosta de carnaval e pelo contrário, tocar em um feriado assim tornar-se-ia um trunfo para nós, ao invés de um empecilho.
Mas
também haveria a questão de que muita gente que não aprecia o carnaval, aproveita
o feriado para viajar, ou seja, um argumento forte e plausível, também.
Paciência,
absorvemos o fato sem problemas e em nada diminuiu a nossa animação para
fazermos o melhor show possível. Chegamos ao Sesc, um pouco antes do horário
estabelecido, mas apesar daquela unidade ser nova em folha e gigantesca,
mais uma vez os engenheiros & arquitetos pensaram em tudo e de fato se trata de uma unidade
deslumbrante a atender os moradores do bairro, mas a verdade é que tais projetistas pouco pensaram na estrutura
para receberem artistas.
O fato de não haver um estacionamento reservado, com
acesso fácil aos dois teatros ali presentes, foi para lamentar-se e isso acontece
em quase todas as unidades, devo observar com pesar. Então, quando tentamos
parar no estacionamento aberto ao público em geral e a sermos cobrados por isso,
outro absurdo, fomos informados que a garagem estava lotada e que deveríamos aguardar em
fila.
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Claro que essa confusão já foi estressante ao extremo, pois nós estávamos com quatro carros
particulares abarrotados de equipamentos e tal aborrecimento foi surreal pelo incômodo
gerado, e sem contar o fator segurança e a perda de tempo logístico que
prejudicara-nos tremendamente em uma situação assim.
Por fim, abriram uma “exceção”
e indicaram-nos uma entrada de serviço, para descarregarmos os carros mas que era exígua e da qual, não seria possível estacionarmos definitivamente nesse pequeno pátio que servia apenas para a retirada de lixo da
unidade. Tal espaço continha um elevador de serviço enorme, desses de padrão de
elevador de carga de aeroportos, do tamanho de um container e ali descarregamos
com certa pressão da parte de funcionários, por não ser uma prática usual no
seu protocolo.
Nenhum funcionário tratou-nos mal, mas foi impressionante como
algo que deveria ser a rotina da unidade, foi tratado como um fato extraordinário,
fora do padrão de serviço deles e gerara uma tensão desconfortável e que
respingou sobre nós.
Por fim, quando eu já retirava o meu carro, um funcionário
"aconselhou-me" a não deixá-lo naquela face da unidade, situada na Rua
Tobias Barreto, que dá de frente com o cemitério da Quarta Parada. Segundo ele,
havia muita ocorrência de roubo de automóveis ali... ora, sei que o rapaz era
só um funcionário, mas como não ficar chateado em ir trabalhar em um lugar
daquele tamanho e não haver uma mísera vaga de estacionamento assegurado para o
artista fazer o seu show despreocupado?
E claro que eu sabia que em frente ao
cemitério da Quarta Parada havia uma bandidagem básica, pronta a atacar as pessoas
que visitavam tanto o Sesc quanto o próprio cemitério. Enfim, resignei-me e parei
ali mesmo a confiar que horas depois, eu sairia à rua e veria o meu bólido intacto, a
esperar-me...
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, em 9 de fevereiro de 2013. Fotos de Gace Lagôa
Já
preocupado em chegar ao palco e começar a supervisionar a montagem do palco,
nesse dia tivemos uma equipe de apoio ligeiramente mudada. Daniel
"Kid" não pôde trabalhar conosco e assim, contamos somente com
Samuel Wagner da equipe de roadies tradicionais, e dois novos componentes:
Ivan Pieri e Jurandir "Jura".
No caso do Ivan Pieri, tratou-se de
uma amigo de longa data e que também era músico (baixista), e que especializara-se
na profissão de roadie e naquela altura, trabalhava com artistas do mainstream,
ligados ao Pop Rock bem popularesco, como Sandy & Junior e também a banda do filho de Fábio
Junior, o Fiuk.
No caso do "Jura", este era ainda mais experiente.
"Jura" era roadie e braço direito de Guilherme Arantes desde os anos
setenta e fora roadie dos Secos & Molhados no seu auge de 1973 1974 e
recuava até antes, por ele ter sido roadie nas montagens teatrais de "Hair"
e "Jesus Christ Superstar".
Ele foi comigo no carro, a contar-me histórias incríveis de sua vivência com
esses trabalhos e claro que eu gostei muito de ouvir as suas reminiscências
espetaculares.
Teríamos o reforço do "mago da luz", Wagner Molina,
a cuidar da nossa iluminação e a operação do som, ficaria a cargo de Renato
Sprada, um técnico que eu admiro muito e cujas histórias eram tão espetaculares
quanto as do "Jura", em termos de lembranças dos anos setenta.
O
técnico do Sesc, estava a se portar de uma forma extremamente simpática e solícita, até que em um
dado instante, cravou-me uma pergunta insólita: -"cara, você não é o
"Tigueis" que tocava n'A Chave do Sol, nos anos oitenta?" Eu disse-lhe
que sim (esse apelido que persegue-me) e aí já deduzi que eu deveria tê-lo
reconhecido também, mas infelizmente eu não conseguia lembrar-me com clareza. Foi quando ele
falou-me: -"sou o Lito, fui o guitarrista do "Máscara de
Ferro"...
Pedra em ação no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Lembrava-me dessa banda, que militava no mundo do Heavy-Metal brasileiro oitentista
e notabilizara-se por caprichar no seu visual, com os seus membros a apresentarem-se vestidos como
cavaleiros medievais e por usarem como cenário tais motivações, como um belo castelo
cênico incluso etc.
Que agradável, se o clima de cooperação já esteve bom antes, depois dessa, a
camaradagem intensificou-se ainda mais. O soundcheck e a afinação da luz, foram
muito boas, igualmente.
Com a dupla Molina & Sprada a trabalharem juntos e em sintonia,
a garantia de que o show seria bonito foi enorme. Ainda mais ao terem a cooperação
dos técnicos do Sesc, e no caso, o amigo Lito.
Recebemos a informação por parte
da Cida Cunha que já havia uma boa fila na entrada do teatro, o que animou-nos,
naturalmente.
No camarim, o clima esteve ótimo. Com a certeza de que o show seria
bom, apenas relaxamos e aguardamos a chamada para adentrarmos ao palco.
Só houve um pequeno momento de apreensão, quando o Lucas, filho caçula do Ivan Scartezini, sumiu por alguns
instantes pelos bastidores. Ele tinha cinco para seis anos nessa época e claro
que naquela cenotécnica enorme, se mostrou um ambiente muito perigoso para um menino
tão pequeno, inclusive com a presença de uma enorme escada íngreme que dava
acesso aos camarins.
Mas o garoto apareceu enfim, para o alívio de seus pais, Ivan e
Beth Scartezini e excitado pelo ambiente, claro que o menino desejara explorar tudo
ali, naturalmente.
Público já acomodado no auditório, os três sinais clássicos
do teatro soaram, as luzes apagaram-se e nós subimos ao palco.
Pedra no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Iniciamos com "Megalópole", mediante uma pegada bem nervosa, a arrancarmos
palmas entusiasmadas da plateia. O show foi a evoluir e a recepção do público
a se mostrar ótima, a responder com grande entusiasmo.
Renato Sprada colocou pressão sonora de
show de Rock. Era a marca registrada dele, um técnico de orientação Rocker que
era (é).
A filmagem de Capo Neto e Nando Fernandes ficou ótima e mostra a banda
sob uma forma muito boa, a dar o recado com ênfase e convenhamos, com um palco bem
estruturado, iluminação e som de primeira, tudo ajuda, inclusive o bom astral que a
banda estava a atravessar naquele momento.
Após o show, tivemos uma
receptividade excelente no “lounge” de entrada, visto que o Sesc não permitiu
visitas ao camarim. Laert Sarrumor & Marcinha Oliveira, Zé Brasil & Silvia
Helena, Tony Babalu & Suzi Medeiros, o poeta Julio Revoredo & Regina
Célia, além de muitos outros amigos.
Contávamos que esse sucesso todo abrisse-nos de vez as portas do Sesc, mas não
foi o que ocorreu, quando no decorrer do tempo, ficou claro que assim como no
Sesc Consolação em 2012, o fato de tocarmos no Sesc Belenzinho em 2013, não
caracterizou uma sequência definitiva dentro dessa instituição, mas que foram apenas
meras oportunidades sazonais.
Sesc Belenzinho, 9 de fevereiro de 2013, com
cerca de duzentas pessoas na plateia (não lotou, mas consideramos um bom
público pelo fato de ter sido um sábado de carnaval e ter caído uma tempestade na
cidade, nesse dia).
O show completo do Sesc Belenzinho em
9 de fevereiro de 2013. Produção de Capo Neto e Nando Fernandes.
Eis o
Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=58rCSpin0cY
Nenhum comentário:
Postar um comentário