quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 173 - Por Luiz Domingues

O ano de 2013 entrou e o embalo de fim de ano em 2012, dera-nos uma tranquilidade para pensarmos nas gravações, a finalizar-se o disco inacabado de 2010, enfim. 
 
Mas os ventos positivos pareceram abrirem novas frentes. Logo que o ano virou, recebemos o convite do Sesc Belenzinho para uma apresentação em seu belo teatro. Com cachê muito digno, sob um patamar que achávamos ideal pela nossa qualidade artística, é claro que interpretamos tal convite como uma comprovação de que uma nova fase estava a chegar para nós, pois uma meta gerencial nossa, desde os primórdios da banda em 2004, foi a de adentrarmos de uma forma definitiva o circuito do Sesc, a nos apresentarmos em suas unidades periodicamente e de forma sustentável, como muitos artistas médios que conhecíamos e estavam a usar dessa rotina segura há anos. 
 
Por termos nos apresentado no Sesc Consolação há bem pouco tempo atrás e logo a seguir, recebermos o convite para tocar no Sesc Belenzinho, claro que essa impressão criada pela dedução lógica, contaminou-nos positivamente. 
 
Mas como sempre, apesar do convite espontâneo, haveria um mote, como sempre foi a praxe velada entre os produtores do Sesc na sua maneira de trabalhar. Falo sobre a insistência paradigmática em aterem-se aos famigerados “projetos temáticos”. 
 
E nesse caso, seria uma espécie de festival nostálgico sobre os anos setenta e nesse contexto, haveriam shows de bandas dessa época, e bandas novas que vibrassem por essa estética. 
 
Por sorte, o programador do Sesc Belenzinho foi o mesmo produtor que agendara-nos em 2010 para a unidade do Sesc Vila Mariana e ele enxergava em nós, a similaridade com a estética setentista. Mas honra seja feita, o curador do festival foi o Zé Brasil, líder do histórico "Apokalypsis", banda setentista que estava a todo vapor desde a metade dos anos 2000, com uma volta das suas atividades.
 
Com a confirmação da data, a Cida Cunha, uma pessoa amiga da banda e que muito esforçou-se para ajudar-nos no ano de 2010, entrou em ação. Aliás, ela já voltara a ajudar-nos em relação ao show do Sesc Consolação, ao sinalizar que retomaria a sua função como produtora e com pretensões a tornar-se uma empresária, um dia, e sendo assim, ela foi atrás da tradicional burocracia massacrante que o Sesc exigia para ali podermos trabalhar. 
 
Animado com a perspectiva de um show em um teatro de grande estrutura, o Xando contratou uma equipe de filmagem, a visar produzir um DVD do show e com o intuito de postar no YouTube, a seguir. 
 
Tratou-se de amigos, no caso o film-maker Capo Neto e que teria como assistente, um velho amigo nosso e Rocker histórico, o vocalista Nando Fernandes, muito famoso no mundo do Heavy Metal, principalmente e certamente que ele é uma das grandes vozes do Brasil nesse segmento. 
 
Nando é um tremendo amigo, que eu conhecia desde os anos oitenta e até o relacionei em uma história paralela no capítulo dos meus trabalhos avulsos, a envolver uma gravação que fizemos no estúdio Mosh, em 1997. 
 
Preparamo-nos para fazermos um bom show, também ao pensarmos nessa filmagem, mas sem elucubrarmos sobre provermos grandes novidades no set list, apenas a seguirmos o padrão dos shows anteriores, ou seja, a apresentarmos uma mescla dos dois discos, mais os singles de 2010 e algumas músicas novas que estavam a surgir e foram sendo incorporadas ao repertório, caso de "Os Teus Olhos", aliás, uma bela canção de autoria do Rodrigo.
 
"Longe do Chão" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Filmagem de Kico Stone. Eis o Link para assistir no YouTube:
http://www.youtube.com/watch?v=fkiHcip0jvw 
 
"Cuide-se Bem" no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=fBoRlqkAwT4 

"Luz da Nova Canção", no Sesc Belenzinho, no dia 9 de fevereiro de 2013. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zKfgKL8ZFbk

O único senão para esse show do Sesc Belenzinho, foi o fato dele ter sido arrolado para o sábado de carnaval. Tudo bem, nesse tipo de circunstância sempre alguém apressava-se em argumentar que o público de uma banda de Rock não gosta de carnaval e pelo contrário, tocar em um feriado assim tornar-se-ia um trunfo para nós, ao invés de um empecilho. 
 
Mas também haveria a questão de que muita gente que não aprecia o carnaval, aproveita o feriado para viajar, ou seja, um argumento forte e plausível, também.
Paciência, absorvemos o fato sem problemas e em nada diminuiu a nossa animação para fazermos o melhor show possível. Chegamos ao Sesc, um pouco antes do horário estabelecido, mas apesar daquela unidade ser nova em folha e gigantesca, mais uma vez os engenheiros & arquitetos pensaram em tudo e de fato se trata de uma unidade deslumbrante a atender os moradores do bairro, mas a verdade é que tais projetistas pouco pensaram na estrutura para receberem artistas. 
O fato de não haver um estacionamento reservado, com acesso fácil aos dois teatros ali presentes, foi para lamentar-se e isso acontece em quase todas as unidades, devo observar com pesar. Então, quando tentamos parar no estacionamento aberto ao público em geral e a sermos cobrados por isso, outro absurdo, fomos informados que a garagem estava lotada e que deveríamos aguardar em fila.
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Claro que essa confusão já foi estressante ao extremo, pois nós estávamos com quatro carros particulares abarrotados de equipamentos e tal aborrecimento foi surreal pelo incômodo gerado, e sem contar o fator segurança e a perda de tempo logístico que prejudicara-nos tremendamente em uma situação assim. 
Por fim, abriram uma “exceção” e indicaram-nos uma entrada de serviço, para descarregarmos os carros mas que era exígua e da qual, não seria possível estacionarmos definitivamente nesse pequeno pátio que servia apenas para a retirada de lixo da unidade. Tal espaço continha um elevador de serviço enorme, desses de padrão de elevador de carga de aeroportos, do tamanho de um container e ali descarregamos com certa pressão da parte de funcionários, por não ser uma prática usual no seu protocolo. 
Nenhum funcionário tratou-nos mal, mas foi impressionante como algo que deveria ser a rotina da unidade, foi tratado como um fato extraordinário, fora do padrão de serviço deles e gerara uma tensão desconfortável e que respingou sobre nós. 
Por fim, quando eu já retirava o meu carro, um funcionário "aconselhou-me" a não deixá-lo naquela face da unidade, situada na Rua Tobias Barreto, que dá de frente com o cemitério da Quarta Parada. Segundo ele, havia muita ocorrência de roubo de automóveis ali... ora, sei que o rapaz era só um funcionário, mas como não ficar chateado em ir trabalhar em um lugar daquele tamanho e não haver uma mísera vaga de estacionamento assegurado para o artista fazer o seu show despreocupado? 
E claro que eu sabia que em frente ao cemitério da Quarta Parada havia uma bandidagem básica, pronta a atacar as pessoas que visitavam tanto o Sesc quanto o próprio cemitério. Enfim, resignei-me e parei ali mesmo a confiar que horas depois, eu sairia à rua e veria o meu bólido intacto, a esperar-me...
Pedra em ação no Sesc Belenzinho, em 9 de fevereiro de 2013. Fotos de Gace Lagôa
Já preocupado em chegar ao palco e começar a supervisionar a montagem do palco, nesse dia tivemos uma equipe de apoio ligeiramente mudada. Daniel "Kid" não pôde trabalhar conosco e assim, contamos somente com Samuel Wagner da equipe de roadies tradicionais, e dois novos componentes: Ivan Pieri e Jurandir "Jura". 
No caso do Ivan Pieri, tratou-se de uma amigo de longa data e que também era músico (baixista), e que especializara-se na profissão de roadie e naquela altura, trabalhava com artistas do mainstream, ligados ao Pop Rock bem popularesco, como Sandy & Junior e também a banda do filho de Fábio Junior, o Fiuk. 
No caso do "Jura", este era ainda mais experiente. "Jura" era roadie e braço direito de Guilherme Arantes desde os anos setenta e fora roadie dos Secos & Molhados no seu auge de 1973 1974 e recuava até antes, por ele ter sido roadie nas montagens teatrais de "Hair" e "Jesus Christ Superstar". 
Ele foi comigo no carro, a contar-me histórias incríveis de sua vivência com esses trabalhos e claro que eu gostei muito de ouvir as suas reminiscências espetaculares. 
Teríamos o reforço do "mago da luz", Wagner Molina, a cuidar da nossa iluminação e a operação do som, ficaria a cargo de Renato Sprada, um técnico que eu admiro muito e cujas histórias eram tão espetaculares quanto as do "Jura", em termos de lembranças dos anos setenta. 
O técnico do Sesc, estava a se portar de uma forma extremamente simpática e solícita, até que em um dado instante, cravou-me uma pergunta insólita: -"cara, você não é o "Tigueis" que tocava n'A Chave do Sol, nos anos oitenta?" Eu disse-lhe que sim (esse apelido que persegue-me) e aí já deduzi que eu deveria tê-lo reconhecido também, mas infelizmente eu não conseguia lembrar-me com clareza. Foi quando ele falou-me: -"sou o Lito, fui o guitarrista do "Máscara de Ferro"...
Pedra em ação no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Lembrava-me dessa banda, que militava no mundo do Heavy-Metal brasileiro oitentista e notabilizara-se por caprichar no seu visual, com os seus membros a apresentarem-se vestidos como cavaleiros medievais e por usarem como cenário tais motivações, como um belo castelo cênico incluso etc. 
Que agradável, se o clima de cooperação já esteve bom antes, depois dessa, a camaradagem intensificou-se ainda mais. O soundcheck e a afinação da luz, foram muito boas, igualmente. 
Com a dupla Molina & Sprada a trabalharem juntos e em sintonia, a garantia de que o show seria bonito foi enorme. Ainda mais ao terem a cooperação dos técnicos do Sesc, e no caso, o amigo Lito. 
Recebemos a informação por parte da Cida Cunha que já havia uma boa fila na entrada do teatro, o que animou-nos, naturalmente. 
No camarim, o clima esteve ótimo. Com a certeza de que o show seria bom, apenas relaxamos e aguardamos a chamada para adentrarmos ao palco. 
Só houve um pequeno momento de apreensão, quando o Lucas, filho caçula do Ivan Scartezini, sumiu por alguns instantes pelos bastidores. Ele tinha cinco para seis anos nessa época e claro que naquela cenotécnica enorme, se mostrou um ambiente muito perigoso para um menino tão pequeno, inclusive com a presença de uma enorme escada íngreme que dava acesso aos camarins. 
Mas o garoto apareceu enfim, para o alívio de seus pais, Ivan e Beth Scartezini e excitado pelo ambiente, claro que o menino desejara explorar tudo ali, naturalmente. 
Público já acomodado no auditório, os três sinais clássicos do teatro soaram, as luzes apagaram-se e nós subimos ao palco. 
Pedra no Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Iniciamos com "Megalópole", mediante uma pegada bem nervosa, a arrancarmos palmas entusiasmadas da plateia. O show foi a evoluir e a recepção do público a se mostrar ótima, a responder com grande entusiasmo. 
Renato Sprada colocou pressão sonora de show de Rock. Era a marca registrada dele, um técnico de orientação Rocker que era (é). 
A filmagem de Capo Neto e Nando Fernandes ficou ótima e mostra a banda sob uma forma muito boa, a dar o recado com ênfase e convenhamos, com um palco bem estruturado, iluminação e som de primeira, tudo ajuda, inclusive o bom astral que a banda estava a atravessar naquele momento. 
Após o show, tivemos uma receptividade excelente no “lounge” de entrada, visto que o Sesc não permitiu visitas ao camarim. Laert Sarrumor & Marcinha Oliveira, Zé Brasil & Silvia Helena, Tony Babalu & Suzi Medeiros, o poeta Julio Revoredo & Regina Célia, além de muitos outros amigos. 
Contávamos que esse sucesso todo abrisse-nos de vez as portas do Sesc, mas não foi o que ocorreu, quando no decorrer do tempo, ficou claro que assim como no Sesc Consolação em 2012, o fato de tocarmos no Sesc Belenzinho em 2013, não caracterizou uma sequência definitiva dentro dessa instituição, mas que foram apenas meras oportunidades sazonais. 
Sesc Belenzinho, 9 de fevereiro de 2013, com cerca de duzentas pessoas na plateia (não lotou, mas consideramos um bom público pelo fato de ter sido um sábado de carnaval e ter caído uma tempestade na cidade, nesse dia).
O show completo do Sesc Belenzinho em 9 de fevereiro de 2013. Produção de Capo Neto e Nando Fernandes.  
Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=58rCSpin0cY 
Continua...

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