sábado, 16 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 145 - Por Luiz Domingues

Entretidos com a gravação das novas músicas, nós passamos o mês de setembro e boa parte de outubro a cuidar dessa produção. Sem poder contar muito com o Renato Carneiro que estava a mil por hora envolvido com os Mutantes, a excursionar e logo mais ele voltaria a trabalhar com duplas sertanejas (foi trabalhar com Bruno & Marrone, trabalho esse em que desencadeou uma longa permanência), o Xando tomou a dianteira e resolveu bancar-se como operador de áudio, a tocar a gravação e segundo ele, Renato, nas brechas possíveis viria ao estúdio analisar e se necessário estabelecer correções e dar as orientações.

Confiamos nele, pois nos dois primeiros discos, o Xando acompanhou todo o processo do trabalho do Renato praticamente e como um aprendiz, ele absorvera muita informação. Interessado em entender o mundo do áudio, tecnologia, equipamentos e suas técnicas inerentes, praticamente fez um curso intensivo ao acompanhar tais produções, exaustivamente. 

Então, sem medo e sob um ritmo de cooperação para ajudar modestamente, eu e Rodrigo também colaboramos com ações simples, como dar "play e rec" em eventuais "overdubs" da gravação das guitarras e das vozes do Xando, quando este estaria logicamente impossibilitado de operar, por não uma limitação humana óbvia.

Assim gravamos as músicas que eu citei anteriormente, dessa safra nova que surgira em 2009: "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", "Só", "Pra Não Voltar", "Mira", "Amém Metrópolis" e um Hard-Rock que foi gravado sem letra e título definido, mas que já detinha uma melodia pronta, portanto, arriscamos gravar para não perdermos a produção e a definirmos a letra a posteriori, 

Essa canção ganhou letra e título, enfim, todavia, o seu desfecho eu conto bem mais para frente, pois ela culminou em ser engavetada por um tempo enorme.

Nesse ínterim, nós recebemos um convite da parte da diretoria do Central Rock Bar para mais uma apresentação. Desta feita, não teríamos a presença de bandas amigas, mas sim duas bandas novatas com a incumbência de abrirem o nosso show, sob um sistema bem definido de graduação. 

Bem, as condições da casa não eram as melhores, já expliquei isso amplamente, mas sem nenhuma outra perspectiva de show em vista, a não ser um festival que o Rodrigo havia mandado material desde 2008 e cuja produção dignara-se a nos responder, mesmo depois de que resolvêramos não mais participarmos desse tipo de festival. 

Mas segundo o Rodrigo disse-nos, tal festival não era ligado àquela organização oriunda do centro-oeste do país. Em princípio, pensamos em participar, pois as condições seriam um pouco melhores do que ocorrera em Palmas, mas mesmo assim, não haveria cachê, uma praxe para esse tipo de produção e seria realizado em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. 

O grande chamariz desse festival seria a presença de um artista internacional de peso, no caso, Glenn Hughes, ex-baixista e vocalista do Trapeze e Deep Purple.

Bem, viajar para tão longe, ainda que o transporte fosse pago por eles, não ajudara muito, e ainda mais, o festival tinha um clima meio "Heavy-Metal", portanto, pensamos na realidade com atenção: o que esse esforço poderia render para nós? 

Nessa época o Xando passou por um problema de saúde e teve que repousar uns dias, portanto, mesmo que estivéssemos super motivados a participar do festival, não daria mesmo para irmos e assim cancelamos. Ainda bem que não fomos, pois como dizia um grande guitarrista amigo meu, e que já partiu para desta vida: -"francamente"...

Fechamos então com o Central Rock Bar, e de fato, foi a única perspectiva dali, outubro, até o final do ano em termos de shows e para 2010, haviam possibilidades surgindo de coisas melhores, mas nada oficialmente fechado. Portanto, achamos prudente fazer o show nessa casa, apesar dos pesares já amplamente relatados anteriormente.

As bandas que abririam o nosso show, eram bastante desconhecidas até nos subterrâneos do underground. Tudo bem, todo mundo tem que começar da estaca zero, eu também já passei por essa etapa duríssima de começo de carreira. Chamavam-se: "Soulzeira" e "Neoprimatas". 

Assisti o show de ambas para prestigiá-los, naturalmente. O nome "Soulzeira" já me soou bem e de fato, os garotos demonstravam terem uma influência da Soul Music, mas não com os dois pés dentro da pipa, a esmagarem as uvas da "Motown", como eu gostaria que fosse, porém mais a soarem possuírem influências mais "modernosas" dentro do universo da Black Music. Mas eles tocavam bem, isso já foi um ponto positivo para eles. 

Já a segunda banda de abertura, com sonoridade indie, foi realmente sofrível e espero que tantos anos depois, esses garotos tenham evoluído ou desistido. 

Quando subimos ao palco tímido do Central Rock Bar, confesso, acometeu-me um desânimo generalizado. O nosso show foi feito com o freio de mão puxado, diante das adversidades, mais ainda mediante a percepção da casa com pouco público presente. Aconteceu na noite do dia 17 de outubro de 2009. Não tenho registros visuais desse show, infelizmente. 

Ao sairmos da ilusão dos festivais, mas pressionados pela escassez de oportunidades melhores, o Rodrigo trabalhou por uma oportunidade de show em uma outra cidade e estado. Seria um show compartilhado com uma banda amiga de Joinville-SC, chamada: "Os Depira", formada por ótimos músicos que conhecêramos em nosso tempo com a Patrulha do Espaço, em nossas andanças por ali, eu e Rodrigo.

Com apoio dos amigos, nós conseguimos marcar uma noite compartilhada com "Os Depira" em tal cidade, a tocarmos em uma casa noturna local, chamada: Don Rock. 

O cachê oferecido foi bem baixo e na ponta do lápis, cobriu a despesa da viagem, com uma pequena (modesta mesmo), margem para a banda. Teríamos hospedagem em um hotel de categoria (Hotel Mercury), e refeições, mas no âmbito geral, haveria de ser muito esforço para um resultado bastante duvidoso na prática. Todavia, pressionados pela escassez de perspectivas de apresentações, embarcamos em mais uma loucura.

Fomos para Joinville-SC com o carro do Xando, que era um bólido robusto, com características de "uma quase van", e portanto, com um backline mínimo e a contarmos com apoio dos amigos do grupo de Rock: "Os Depira", ficou tudo acertado. Viagem bem tranquila, com cerca de 635 Km, o que não chega a ser perturbador mediante um carro confortável, lá fomos nós.
Eu, Luiz Domingues, nas ruas de Joinville-SC, assim que chegamos na cidade, no dia 24 de outubro de 2009, a fazer uma gracinha tola para a câmera do Xando. Na frente, Rodrigo e Ivan, a caminharem.

Fomos muito bem recebidos pelos amigos de grupo "Os Depira", na casa em questão ("Don Rock") e ficamos contentes por verificarmos que uma pequena matéria havia sido publicada em um jornal local e de certa forma isso lembrara-me os tempos em que eu e Rodrigo participamos de turnês com a Patrulha do Espaço.

Entretanto, o Pedra não tinha esse nome consolidado, e não gerava expectativa em cidades e estados diversos, caso da Patrulha do Espaço.

Acima, fotos do "Os Depira" em ação, e de seu público a acompanhá-los naquela noite

O show do grupo, "Os Depira" foi ótimo, super energético, mas nós deveríamos levar em consideração, ao compararmos com a reação do mesmo público a posteriori em relação ao nosso show, que essa banda estava a se apresentar na sua cidade, ante os seus amigos e fãs, super acostumados ao seu trabalho, ao conhecerem a sua obra, a cantar os estrebilhos das suas canções junto com a banda, de forma muito natural. 

Chegou nossa vez e começamos a tocar com uma energia forte, mas já na terceira canção, o público foi a retirar-se do local, de uma forma até constrangedora para nós. Chegou-se em um ponto em que não fazia mais sentido levarmos o nosso set list até o seu final e dessa forma melancólica, nós encerramos. 

Os nossos amigos do "Os Depira", contemporizaram, ao dizerem-nos que a reação fora desagradável, mas que era comum ali e que as pessoas estavam bem embriagadas e costumavam ignorarem qualquer banda que não conheciam, a dispersarem. 

Infelizmente, isso chateou-nos, é claro, mas na minha visão particular, foi a bilionésima prova cabal de que o problema não seríamos nós como músicos, tampouco o material que tínhamos e muito menos a banda em si. 

Mas o Xando estava contrariado com tal resultado pífio e fez um comentário a questionar o nosso trabalho e eu discordei ao dizer-lhe que achava normal enfrentarmos situações assim, pelo simples fato de sermos desconhecidos. 

Contudo, nervos à flor da pele, ali começou uma discussão mais acalorada e que na rua agravou-se com o Ivan e o Rodrigo também a entrarem no mérito e todos alterados a tentarem achar culpa e culpados, o que foi na verdade, muito desagradável para todos. 

Já no hotel, com os ânimos mais serenados, todos pediram desculpas uns aos outros pelo destempero coletivo, mas a verdade foi uma só: a escassez de oportunidades estava a minar o aspecto psicológico da nossa banda e esse processo corrosivo, vinha desde 2007, de fato, quando o embalo de 2006 perdera-se e nunca mais o recuperamos plenamente, mas apenas tivemos lampejos de bons sinais para mascarar a situação. 

O show foi no dia 24 de outubro de 2009, no Don Rock, em Joinville, Santa Catarina. Creio que houveram mais ou menos oitenta pessoas no local, no momento em que Os Depira fizeram o seu show, mas depois, durante o nosso...

Na viagem de volta, ainda em Santa Catarina, em um posto de beira de estrada...

Já no dia seguinte, durante a viagem de volta, estivemos bem, uns com os outros, mas o nosso grande problema, permanecera sem solução aparente, contudo, ocorrida poucos dias depois. 

A nossa sorte foi que ainda em outubro, nós receberíamos um convite irrecusável e que teve toda a configuração que tirar-nos-ia do momento de desânimo que atravessámos, e foi mesmo o que aconteceu.

Continua... 

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