segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 155 - Por Luiz Domingues

Passado o show do Sesc Vila Mariana, logo a seguir e ainda em maio, nós tivemos mais um compromisso de TV de Internet. A produção de uma universidade particular chamada: "Uniban" contatou-nos e propôs que fizéssemos um programa produzido pelos alunos do curso de rádio e TV, chamado, "Musicban".

Aceitamos, naturalmente, pois como eu já salientei várias vezes, foram nulas as chances de aparecermos em programas da TV aberta, portanto, não dispensávamos produções obscuras que abriam-nos as portas, pelo simples fato de que precisávamos da exposição, mínima que fosse, mas certamente também por reconhecermos o esforço dessa difusão nanica, que era semelhante, ipsis litteris, ao nosso esforço como artista a lutar dentro do underground. A trocar em miúdos, identificávamo-nos com a luta desses pequenos empreendedores culturais, tão vítimas das máfias que dominam a difusão cultural mainstream, quanto nós. 

Os seus produtores marcaram a filmagem para um dia útil e foram visitar-nos no estúdio Overdrive. Foi uma longa conversa, com muitas músicas tocadas e quando lançado, foi dividido em duas partes, ao parecer um mini-documentário.

Depois de editado, surpreendeu-nos muito pela qualidade em que apresentou-se e também pela seriedade pela qual a banda foi retratada, ao tornar-se portanto, um documento bonito sobre a trajetória e o trabalho da nossa banda. 

Tal vídeo foi exibido através de um canal universitário, desses que entram em pacotes de TV a cabo como contrapartida obrigatória para as operadoras, mas que são jogados em pontos obscuros da grade geral, e infelizmente, quase ninguém assiste.

Ele foi postado no YouTube e ali ficou alojado por anos, mas nesse instante que eu gostaria de colocá-lo aqui para a degustação do leitor, infelizmente eu não o achei mais nas buscas efetuadas pela internet.

Muito provavelmente ele tenha sido retirado do ar, mas se eu conseguir localizá-lo, de pronto volto à edição do Blog e o posto aqui. 

Ao seguirmos a planificação estabelecida no início de 2010, assim que chegamos ao início de julho, a banda lançou o quarto single/promo, da música: "Só".

Nesse vídeo, o Xando quis introduzir um diferencial, pois nos anteriores, a dinâmica generalizada foi a de se usar fotos e vídeos mesclados para compor as imagens. Apenas em: "Pra não Voltar" houvera uma novidade com a inserção de imagens dos componentes a atuarem sob um "chroma key" ultra improvisado, mas para essa nova peça, ele dissera-se estar constrangido para lançar um quarto clip, nos mesmos moldes dos anteriores e teve razão nesse aspecto.

Portanto, ele propôs uma participação da banda mediante um simulacro de dramaturgia. Terreno mega espinhoso, pela obviedade dele não ser roteirista, diretor e nenhum de nós, atores. Mas foi além, pois filmar em condições precárias, sem iluminação adequada e a se improvisar a própria sala de estar do estúdio para encenar & filmar, teve tudo para fazer dessa produção algo risível. 

Contudo, nós entendemos a preocupação que o afligira, por que realmente foi preocupante lançar mais um vídeo a se usar a fórmula dos anteriores, a despeito da canção ser ótima e também por isso, um clip constrangedor a rebaixaria, involuntariamente.

Eu não compactuo com as ideias & ideais do senhor Charles Bukowski, certamente...
 
Aceitamos colaborar e o Rodrigo faria mais participações nesse vídeo, ao encarnar o personagem protagonista proposto pela letra da música. A se tratar de um tipo de abordagem melancólica, triste e deveras deprimente, foi o tipo de mensagem que eu não gostava/gosto. 

Já falei sobre o quanto tenho aversão à visão "Bukowskiana" da vida, aquela predisposição decadente dos personagens de teatro do Plínio Marcos e influenciados pelo conceito do existencialismo de Jean Paul Sartre, certamente etc. 

Eu tive até um contratempo desagradável com esse tipo de posicionamento, pois o Xando propôs uma cena simples com a banda toda a simular um brinde e obviamente a fazer uso de bebida alcoólica. Quando estava para se filmar, eu afirmei que brindaria com um copo com refrigerante e isso ficaria visível, visto que os demais usariam taças para insinuar estarem a consumir vinho ou outra bebida semelhante.

Naquele momento, profundamente desgostoso com a condução que dava-se ao clip, e ao verificar Rodrigo a ser filmado em deprimentes closes a fumar e beber, por interpretar um sujeito derrotado na vida, o fato foi que eu não quis fazer parte dessa mensagem, ao vincular a minha imagem pessoal a tais princípios que abomino. 

Parece um precisosismo, um devaneio mesmo, porém, eis que eu recusei-me a participar dessa forma e o Xando chateou-se, ao não entender o cerne da questão sobre o meu incômodo na sua plenitude, mas a interpretá-lo como um ato de má vontade minha com a produção em si, e por conseguinte, com a banda.

Sei que radicalizei, e isso fugira completamente às minhas características normais de ser uma pessoa razoável e nunca criar problemas, aliás, pelo contrário, sempre ser colaborativo ao máximo, mas nesse dia, eu achei desagradável abonar esse tipo de mensagem, ainda que fosse um fato consumado, pois tratava-se do teor da letra da música, já irreversivelmente lançada dessa forma. 

Diante do impasse, o Xando cancelou a ideia da cena do brinde, mas mesmo assim, o clip é permeado por essa abordagem, principalmente pelas cenas que o Rodrigo fez como um ator amador. 

Sei que uma banda sem recursos como a nossa não teria condições de contratar uma equipe profissional de filmagem, atores profissionais e um diretor ao nível do Eduardo Xocante, que tanto ajudou-nos em 2005 e 2006, respectivamente.

Sei igualmente que a intenção e o esforço do Xando foram extraordinários para se montar esse clip e sei também que se tornara inevitável a abordagem, pelo teor da letra.

Todavia, naquele instante, eu não fui subserviente a algo que não acreditava e abonava e daí, graças ao imbróglio criado de minha parte, atípico por sinal, ficou um clima tenso entre todos, notadamente entre eu e Xando.
Bem, ainda a falar sobre o clip, uma ideia surgiu de total improviso: alguém sugeriu (acho que foi o próprio Rodrigo), uma tomada com o personagem principal, no caso interpretado por ele mesmo, a tocar piano.

O nosso amigo, o baixista do Tomada, Marcelo Bueno, estava presente nesse instante e propôs-se a filmar tal cena, em uma loja especializada em pianos que ficava (ainda fica, 2016), em uma rua bem próxima do estúdio Overdrive. 

Então, eles arriscaram ao irem à loja, ao abordarem o seu proprietário que foi simpático, a autorizar a filmagem em seu estabelecimento. Filmagem amadorística, mediante uma mini câmera DVD, sem iluminação extra, certamente, no entanto, em menos de uma hora, ambos já estavam de volta ao estúdio Overdrive com muitas imagens capturadas que o Xando tratou de importar para o programa de edição do seu PC, imediatamente. 

Bem, acho que está bem explicado a minha desavença contra abonar cigarros e bebidas alcoólicas.

Apesar de conter tais imagens que não são do meu agrado, acho que o clip ficou bom e ao se considerar a precariedade total dessa produção, o resultado final é heroico. 

Lembro-me que o único recurso de iluminação disponível, foi o de uma luz de apoio para fotografia, equipamento cedido-nos pela Grace Lagôa. Tal equipamento era bom para a produção fotográfica, mas inadequado para filmagens, portanto, auxiliou parcialmente, apenas. 

Bem, discordâncias éticas a parte, a música é belíssima e anula completamente qualquer má impressão que possa gerar-se nos parâmetros que eu observei.

O vídeo clip oficial da música: "Só"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ODBo1ShmZ88 


Eu divulguei com bastante afinco entre os meus primeiros contatos virtuais e a resposta foi excepcional. Até em fóruns a gerirem-se comunidades formadas por fãs de bandas sessenta-setentistas, a música recebeu elogios rasgados, notadamente fãs dos Beatles que reconheceram nela, uma aura semelhante ao trabalho do "Fab Four", o que deixou-me imensamente feliz. 

Em agosto, teríamos mais um programa de TV obscuro para participar, mas claro que iríamos com o mesmo ânimo se fosse no algo grandioso para exibirmo-nos para 100 milhões de pessoas.

Continua...

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