sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 178 - Por Luiz Domingues

Daí em diante, nós tivemos mais um longo hiato em que as velhas tensões consumiram-nos novamente. Sempre que ficávamos sem perspectivas, tal tensão crescia e o clima azedava no interno da banda, lastimavelmente. 
De minha parte, eu sou péssimo nas relações públicas. Portanto, a minha ajuda nesse campo poderia resumir-se a passar contatos que estava a conhecer por estar a atuar em outras bandas com muito maior giro para tocar ao vivo, no entanto, foram contatos em sua maioria para um circuito onde o Pedra não encaixava-se e sempre que eu sugeria alguma coisa, era de pronto rechaçado, sob a argumentação de que tais estabelecimentos sugeridos não apresentavam estrutura adequada para a nossa banda. Os meus interlocutores tiveram razão em observar isso, mas infelizmente foi o que eu tive a oferecer naquele momento.
A minha ajuda mais significativa esteve a ocorrer na internet em que já mais familiarizado com esse universo e a atuar naquela ocasião em mais de trinta redes sociais simultaneamente, eu fazia muita divulgação de nossa banda, a angariar simpatias múltiplas, a agregar mais admiradores & fãs, além de eventualmente arregimentar entrevistas, caso da entrevista que eu arrumei na Rádio CBN, graças a esse tipo de contato, mais entrevistas em Blogs etc. 
Mas eu entendia a insatisfação generalizada, embora não concordasse com a visão que forjara-se, a se considerar a hipótese de haver desinteresse em dar suporte à banda e o quanto a irritabilidade gerava-se ao pensarem dessa forma. 
Entendia também a sensação ruim de se trabalhar sozinho por longos períodos (no caso do Xando), no sentido de que por nenhum dos demais terem conhecimento mínimo de operação do equipamento, para prover a gravação e mixagem, isso deixava-o isolado nesse trabalho, que é por natureza, monstruosamente maçante, a subtrair-lhe horas e horas de sua vida. 
Nessa lógica, enquanto ele desgastava-se tremendamente dentro do estúdio, ao perder semanas, meses até, e portanto a abaixar significativamente a sua qualidade de vida, ficara a impressão de que não havia contrapartida alguma dos demais e isso potencializara-se pelo fato de todos estarem envolvidos em trabalhos paralelos a agravar portanto, a percepção de que havia desleixo e descaso da parte dos demais componentes. 
Não entrarei no mérito dos demais, pois aqui eu retrato a minha autobiografia e o ponto de vista é meu, portanto, ao falar do meu caso apenas, foi desagradável para a minha percepção que quando resolveram acabar com a banda em 2011, como eu ficaria pessoalmente doravante, não foi levado em consideração naquela ocasião pelos colegas que tomaram tal decisão com firmeza absoluta. Esse foi um ponto. E eu tive que aceitar a decisão e tocar a vida para frente. 
Nessa nova ocasião, a banda voltara, mas eu tive, sim, outros trabalhos e não abriria mão deles, predisposição que deixei clara desde o início da conversação sobre uma "volta", portanto, não poderia aceitar isso como um ato deliberado de minha parte para prejudicar o Pedra, mas foi como uma contingência da vida, dadas as novas circunstâncias configuradas. 
Para resumir, não foi aceitável que ninguém imputasse culpa, uns aos outros pelas dificuldades gerenciais que a banda atravessava, mas eu entendia, valorizava e fui solidário ao Xando na questão que já enfatizei, ou seja, pelo fato de que ele esteve mesmo a trabalhar sozinho e alucinadamente nessa produção no tocante ao trabalho de estúdio. 
Eu nunca deixei de reconhecer isso e pelo contrário, achava que essa sobrecarga foi injusta, opressiva e no caso dele que tinha uma personalidade ansiosa por natureza, estava a lhe fazer um mal terrível. Por outro lado, sendo eu e os demais, Hid & Scartezini, completamente leigos nessa seara da gravação profissional e digital de áudio, nós nada poderíamos fazer para auxiliá-lo. 
Com a falta de apoio que tivemos do Renato Carneiro, que tão bem trabalhou nos discos anteriores e nesse instante a estar impedido de ajudar-nos por conta de estar o tempo todo na estrada a operar o som de uma dupla sertaneja mainstream (Bruno & Marrone), tal contingência precipitou essa carga inteiramente sobre os ombros de Zupo. 
Uma lástima, portanto para a banda e para ele, pessoalmente. Uma solução humana para tirar-lhe desse inferno, teria sido contratar um técnico, mas com um caixa sempre baixo, devido à dificuldade em agendarmos shows com regularidade sustentável, essa hipótese ficara quase inviável e houve um componente a mais. 
Exigente, e isso foi compreensível, não seria qualquer profissional que ele aceitaria, portanto, não seria uma resolução tão fácil, mesmo se houvessem recursos e não haviam. 
Uma tentativa de resolver-se tal situação desconfortável deu-se quando eu e Rodrigo sugerimos a participação de Kôlla Galdez, um técnico amigo nosso, e que operara a gravação do CD ".Compacto" da Patrulha do Espaço, em 2001. 
De fato, ele foi contatado e ajudou o Xando um pouco, ao cumprir trabalhos de automação de mixagem, todavia, isso não aliviou muito a carga pesada sobre a qual Xando estava a ser submetido. 
Portanto, eu deixo claro mais uma vez que entendo que sob a ótica dele, houvesse uma sensação que o impelia a nutrir muita insatisfação em relação à situação, mas a equação dessa lógica que formulada, esteve baseada em elementos errôneos, e pior, não ajudara a solucionar os problemas estruturais da banda. 
Enfim, o clima pesou e a gravação e finalização desse processo foi a arrastar-se, pois o Xando estava sobrecarregado, muito cansado e a sua ansiedade natural estava a minar o seu psicológico, ao nutrir assim, mágoa generalizada, mas também ao não levar em consideração os problemas estruturais da nossa banda e a sua histórica inadequação para atuarmos em um circuito fora do mainstream, entrarmos no circuito mediano ao estilo Sesc, ou para que pudéssemos arregimentar um empresário minimamente preparado para ofertar-nos perspectivas melhores, como fatores gritantes que amarravam essa banda, tradicional e infelizmente.
Além disso, não levara-se em consideração que os nossos pequenos esforços de colaboração, principalmente de parte do Rodrigo e da minha parte, representou o melhor que poderíamos oferecer naquele instante. 
Continua...

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