domingo, 24 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 163 - Por Luiz Domingues

O primeiro compromisso desse nível, ou seja, com caráter póstumo para a banda, foi bastante desagradável para o meu caso, pois o fato de ter aceito a resolução dos demais e estar resignado, não significou que eu estivesse de acordo com a decisão tomada à minha revelia. 
 
Encontramo-nos no estúdio Overdrive e juntos fomos ao estúdio da TV Comunitária, para participarmos do derradeiro programa de TV que faríamos juntos. Tratou-se do simpático programa: "Em cartaz", apresentado pelo ótimo, Atílio Bari, um raro comunicador culto e muito bem-intencionado. 

        O Pedra em foto promocional de 2008. Foto: Grace Lagôa 

Foi no dia 3 de fevereiro de 2011 e pelo caminho, no carro do Xando, os meus três amigos conversavam animadamente sobre os seus respectivos planos pessoais e eu permaneci quieto a pensar no quanto o fato do Pedra haver finalizado a sua trajetória não incomodava-os e pelo contrário, eu fui o único que achei tal resolução errônea.
 
Participamos do programa e pelo vídeo que vimos a posteriori, acho que eu consegui disfarçar bem que estava chateado, a manter uma postura profissional ao máximo, apenas. E nessa altura dos acontecimentos, a caminhar para os cinquenta e um anos de idade e quase trinta e cinco de carreira, não poderia ser de outra forma.
Acima, eis a parte 1 do programa "Em Cartaz". 
 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Aq0ORIGz1Nc
Acima, a parte 2 do programa "Em Cartaz".  
 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ibs0UVqWppo

Acima, a parte 3 do programa "Em Cartaz".  
 
Abaixo, o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=mzBER5AYj5M

Tais vídeos postados acima, mostram apenas as músicas que tocamos ao vivo naquele esquema semi acústico e com o Ivan a usar um instrumento de percussão, um simulacro de bongô, que na verdade, mais se configurava como um enfeite do que instrumento, mas nas suas mãos criativas como percussionista, ele conseguiu usá-lo de forma convincente e isso chega a ser engraçado. Se um dia eu arrumar o vídeo completo, a conter a conversa com Atílio Bari, posto no YouTube, certamente.
            Uma visão geral do maior salão do Melograno Bar 

O último ato dessa banda ocorreria no Bar Melograno, em abril de 2011, mas mesmo assim, de forma capenga, melancólica, infelizmente. 
 
Passou fevereiro e março de 2011, com as inevitáveis consultas de muitas pessoas pelas redes sociais, a desejarem saber se fora verdade que a banda havia encerrado as suas atividades, expressões de lamentos etc. 
 
Mas haveria um último compromisso a ser cumprido e pela carga emocional nele envolta, foi quase impossível recusá-lo, mesmo ao ter em vista que a banda estava acabada. Seria uma apresentação curta, a caracterizar um show de choque em uma casa noturna chamada: "Melograno Bar", um estabelecimento bem montado, ao menos na sua parte social (bem entendido, a parte estrutural para apresentações musicais era muito limitada), localizado no bairro da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, local em que o meu amigo e ex-companheiro de Boca do Céu e Língua de Trapo, Laert Sarrumor, era o curador de um projeto chamado, "Harmonizasom", ao elaborar a programação semanal, a priorizar a inclusão de artistas da MPB, alguns deles famosos e a maioria, emergentes, além de fazer shows regulares de um combo do Língua de Trapo alternativo e reduzido em uma versão "pocket", chamado: "Os Três do Língua", composto por Laert, Serginho Gama e Cacá Lima a apresentarem-se de forma acústica e intimista, a interpretarem músicas do Língua de Trapo. 
 
Nesse contexto, Laert convidara o Pedra ainda em 2010 e houveram dois componentes emocionais nesse convite: primeiro, o fato de que ele mantinha um grande apreço pelo trabalho da nossa banda e posso dizer que de todas as bandas por onde passei, fora as em que trabalhamos juntos, o Pedra foi a que ele mais gostou e incentivou abertamente, ao nos dar muita força, sempre que foi possível. 
 
O segundo elemento, foi que por conta de uma namorada que o Rodrigo teve nessa época e que era (é) muito amiga do Laert e também da sua esposa, Marcinha Oliveira, além dos outros componentes do Língua de Trapo, chamada, Luciana Pandolfe, o Laert tornara-se muito amigo dele, Rodrigo, também. 
 
Diante dessa carga emocional criada por uma teia de amigos em comum, foi impossível recusar o convite e assim, quando a data foi confirmada, o Rodrigo contatou-me, assim como também o Ivan Scartezini e eu confirmei a minha presença. 
 
A ideia foi realizar um set de choque e acústico, nos moldes do que fizéramos em fevereiro no contexto do programa "Em Cartaz", sem nenhuma complicação maior e sem a necessidade de realizar ensaios prévios. 
 
Entretanto, ficamos sabendo que o Xando alegou que não teve interesse em participar. Dessa forma, eu, Ivan e Rodrigo fizemos um melancólico show de choque, acústico e esvaziado sem a presença do Xando, como última apresentação da banda, e portanto, curiosamente sem a presença de seu membro fundador e aglutinador primordial. 
O Pedra desfalcado de Xando Zupo e sob uma apresentação intimista, ultra simplificada e lastimavelmente a demarcar a sua última, ao menos de sua primeira fase (25 de abril de 2011), ou seja, ali ninguém imaginaria que houvesse uma "volta". Foto: Sandra Lozano

Continua...

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