Enquanto
as sessões de overdubs da gravação do novo álbum transcorriam, o clima interno
na banda estava a azedar novamente, pois a agenda estava fraca e não houveram
perspectivas a curto prazo para sanar essa carência histórica que essa banda
sempre ostentou.
Foi quando uma pequena luz que surgiu no final do ano de 2013, no
entanto, quando o produtor/lojista, Luiz Carlos Calanca ofereceu-nos uma nova
data a ser cumprida no teatro da Galeria Olido, onde já havíamos tocado uma vez em 2009.
As
condições seriam as mesmas de sempre, na base do "show sem cachê, como
investimento de carreira". Eu sei que não foi culpa do Calanca, um produtor
honesto e dinâmico que eu muito admiro e considero um bom amigo pessoal, mas naquela altura, com cinquenta
e três anos de idade nas costas, a enfrentar pela “bilionésima” vez esse tipo
de situação, foi no mínimo risível, já que de tão acostumado a lidar com isso
na carreira, eu já nem indignei-me mais.
Cachês milionários são pagos a rodo
em inúmeras ações culturais perpetradas pelas secretarias de cultura, municipal
e estadual, para uma privilegiada elite formada por artistas que batem ponto em
eventos múltiplos por elas patrocinados, mas sobre outros que não são os "darlings
do Rei", realmente deveriam contentar-se com a "grande chance" de
apresentarem-se de graça, a investirem na sua carreira.
Pois é, ao seguir tal raciocínio fantasioso, a qualquer momento poderia surgir um mecenas a passear fortuitamente na calçada naquele momento e por uma "mágica" qualquer, talvez ele fosse impelido a adentrar o teatro e ao impressionar-se com a apresentação da nossa banda, resolvesse contratar-nos para
que fizéssemos parte da próxima turnê mundial dos Rolling Stones a abrirmos os seus shows, como se fosse um enredo de filme da "Sessão da Tarde, não é mesmo?
Desta feita, o Luiz
Calanca garantiu-nos que não repetiria o erro de 2009 (ao ter escalado muitas bandas com pouco espaço de tempo) e só produziria o show
com duas bandas. E para melhorar ainda mais a situação, deu-nos carta branca
para indicar a banda que participaria conosco, e nós indicamos o The Suman
Brothers Band.
Alguns dias antes do evento, eu e Xando fomos ao centro da cidade para inspecionarmos
o teatro e o equipamento houvera de fato melhorado, ao dar-nos a impressão de que
poderíamos fazer um espetáculo ainda melhor que o de 2009, pelo aspecto
técnico, pois o fato de haver mais tempo hábil desta vez para a presentação, já foi uma garantia
de melhora.
Fizemos a nossa propaganda maciça pelo padrão da internet à época, assim como
Calanca e o pessoal do Suman Bro's, mas na véspera do show tivemos uma notícia
constrangedora: a Secretaria Municipal de Cultura comunicou que cancelaria o espetáculo e
nem houve uma explicação plausível para tal.
O Calanca ficou enfurecido com tal decisão à revelia, pois
foi o curador do evento e sentiu-se logicamente desprestigiado, totalmente. Com
muita discussão, manteve-se o evento confirmado, mas a Secretaria resolveu antecipar o
início do show em uma hora.
Essa demonstração unilateral da parte da Secretaria foi
mais do que arbitrária, ao agir à nossa revelia, mas revelou-se um empecilho
impressionante para nós que estávamos a quinze dias a nos esforçarmos para
promover a divulgação do show. Além de contrariar o serviço disponibilizado nos
cartazes virtuais espalhados em mais de trinta redes sociais de Internet, sites
e blogs, tornara a correção impossível quando fora anunciada na véspera.
Isso
gerou uma confusão tremenda e muita gente fatalmente perderia o show do The
Suman Brothers Band e grande parte do nosso. Além do mais, a subtrair-nos uma hora inteira,
o que certamente atrapalharia ainda mais o soundcheck, quase sempre caótico em
teatros do poder público e a se pensar na sua burocracia interna massacrante.
O Calanca estava
muito chateado, mas com o espírito de que o horário antecipado fora uma grande
trapalhada amadorística imposta-nos goela abaixo, mas foi um mal menor diante da
possibilidade real de que o show houvesse sido cancelado sumariamente, como
desejavam. Paciência, ele teve razão, foi melhor absorver esse prejuízo a engolir um
cancelamento, no que teria sido muito pior.
No dia do show, mobilizamo-nos para chegarmos cedo ao local, já a se prever a
morosidade para abrirem o teatro e os técnicos chegarem e colocarem-se à nossa
disposição. Desta vez, teríamos Molina & Sprada para operar a iluminação e o som,
respectivamente e isso deu-nos um alento e tanto.
Contudo, o técnico de iluminação
ficou bem incomodado com a presença do Molina e chegou a procurar o diretor
do teatro para "reclamar" da situação, o que foi uma das articulações mais
bizarras que eu já vi, pois de que planeta esse sujeito veio onde um
profissional que trabalha exclusivamente para um artista não possa atuar, ao abrir
caminho para uma reclamação absurda dessas, com o elemento a arvorar-se como um
"intocável" ali na estrutura do teatro? Já o rapaz do som agiu bem mais profissionalmente e
atendeu bem o Renato Sprada, ao dar-lhe todo o tipo de apoio para poder operar o
equipamento.
Com Will Dissidente, o hiper animado empreendedor cultural, durante o soundcheck do Pedra no Teatro Olido, em 2013
Eu recebi
uma agradável visita no camarim e já sabia que essa pessoa ali apareceria na
hora do soundcheck, pois avisara-me pela Rede Social Facebook. Tratou-se de
Will "Dissidente", o rapaz que administra o Blog A Chave do Sol, que
é um verdadeiro museu da minha ex-banda dos anos oitenta. Ele teve
compromissos e não assistiu o show do Pedra, mas foi bem prazeroso receber a sua
visita ali.
Com o Sprada a operar o PA, nós tivemos a certeza de que o show conteria
a pressão de show de Rock e com Molina a comandar a iluminação, claro que o visual esteve
garantido. Se bem que ele avisou-nos que graças ao clima péssimo que encontrara
com o iluminador do teatro, nada disposto a colaborar com ele, não haveria meio para
fazer o melhor que ele sempre queria operar para nós. Mesmo limitado por fatores
alheios à sua vontade, Molina foi sempre excelente, muito acima da média de um
iluminador comum.
A convivência com o The Suman Brothers Band nos camarins foi ótima. Amigos de ótima qualidade e agora a contar com Diogo Oliveira, nosso amigo e
parceiro, em sua banda como componente, melhor ainda.
O The Suman Brothers Band em ação no show compartilhado com o Pedra no Teatro Olido em 2013
O nosso soundcheck foi bom e quando entregamos o palco para os irmãos Suman
fazerem o seu apronto, o Victor usou o meu baixo Fender Precision e caiu-lhe
tão bem pela sonoridade da sua banda, que ele o utilizou no seu show, também. De
fato, acho o estilo de Victor Suman, muito parecido com o do saudoso Rick
Danko e não por acaso, The Band era mesmo uma forte referência para o trabalho deles e coincidentemente,
eles iriam tocar uma releitura de uma música da The Band e que eu adoro,
chamada: "Cripple Creek”.
Quando estava a encerrar-se o soundcheck, já
estava quase na hora de se abrir a porta para o público entrar e isso comprovou a
nossa tese de que a antecipação inventada pela Secretaria de Cultura, fora um
grande erro, pois não havia muita gente na fila, exatamente por que a maioria
esmagadora contava com o horário de uma hora mais tarde, conforme anunciado na
divulgação que fizéramos.
Não quero parecer um sujeito intransigente sempre a reclamar dos erros da mídia, mas convenhamos... de onde a jornalista que redigiu essa nota tirou a ideia de que eu, Luiz Domingues, fosse um "ex-componente do Tomada?" No "press release" que fornecemos é evidente que essa informação não constou. Pesquisa no Google? É claro que em lugar algum isso seria
afirmado. Enfim, uma falha lastimável.
Mais uma vez
o Xando mobilizou uma tropa de amigos para capturar imagens a visar produzir um
vídeo do show completo com muitas possibilidades para uma eventual edição.
Medida correta, ao meu ver, embora isso gerasse gastos para uma banda que tinha
dificuldade para gerar receita.
O show do The Suman Brothers iniciou-se e
todos nós assistimos da coxia. Estava muito bom o som de onde ouvíamos e a
banda estava sob uma performance matadora. Sinceramente senti-me no auditório “Fillmore”,
a assistir a “The Band” tocar para que em seguida o “The Allman Brothers Band” entrasse em
cena e eu a tocar com Greg Allman, Dickey Betts & Cia. Cheguei a falar isso para o Calanca, que concordou e apreciou o meu devaneio
Rocker e do qual ele compartilhou das mesmas ideias, certamente.
O The Suman
Brothers Band terminou o seu ótimo show e sim, a versão de "Cripple
Creek" da The Band, que eles executaram, foi adorável. Só não estive a gostar do público que se mostrou em pequeno número e claro, a amaldiçoar os
energúmenos que mudaram o horário do show na véspera, a sabotá-lo
completamente.
"Cuide-se Bem" no Teatro
Olido em 14 de novembro de 2013.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1lecg4Myh98
https://www.youtube.com/watch?v=1lecg4Myh98
"Longe do
Chão" no Teatro Olido em 14 de novembro de 2013.
Eis o Link para assistir
no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wr9N63hRyYE
https://www.youtube.com/watch?v=wr9N63hRyYE
Subimos ao palco e o público havia melhorado, mas não lotava o teatro e pelo
contrário, apresentava-me a visão de muitas cadeiras vazias em vários pontos do auditório. Não deixei que essa visão desalentadora prejudicasse a minha
performance pessoal, mas claro que eu pensei que além da confusão de horário, o
baixo comparecimento foi quase uma afronta às duas bandas.
Tratara-se de um
show realizado em um sábado no período da tarde, o ingresso foi gratuito, o teatro esteve bem
arrumado, som e iluminação de bom nível, duas bandas de muita qualidade artística,
localização do teatro no centro velho de São Paulo, cercado por duas estações de metrô muito próximas e
dezenas de linhas de ônibus e finalmente, aconteceu em um dia quente de primavera, sem
possibilidade de chuva e pelo contrário, a se revelar como um dia super ensolarado... ora, por que
aquele teatro não esteve totalmente lotado e com gente do lado de fora
a tentar entrar?
Pedra em ação no Teatro Olido em 2013. Fotos 1 a 4: Grace Lagôa
Bem, conjecturas a parte, o show foi cumprido com uma energia incrível. Segundo o meu velho amigo, Rubens Gióia, que esteve ali presente, foi um autêntico "Concerto de Rock", como nos velhos tempos. José Luiz Dinola também foi visitar-nos, mas não assistiu nem uma música, por que traído pela antecipação do horário, chegou no fim, quando já estávamos no camarim a recebermos os amigos e fãs.
Mais
uma vez eu isento o Luiz Calanca totalmente pelos desmandos perpetrados da administração pública e de
fato, ele também fora vítima, ao ter ficado muito aborrecido com os
acontecimentos desagradáveis que sabotaram o show, mas justiça seja feita e não estou
a contemporizar a estupidez que foi essa antecipação do horário, a gerar tal anticlímax, todavia, o
público desapontou-nos, com antecipação ou não.
Claro, no domingo posterior, a página do Facebook
da banda e nos perfis pessoais de todos os membros, ficaram lotados com pessoas a afirmarem que
haviam perdido o show das duas bandas e que queriam saber onde seria
o próximo e que dessa vez, não perderiam, ou seja, um fenômeno típico de internet, foi
um misto de preguiça com escárnio, que virou comportamento padrão para
muitos.
Aconteceu em 9 de novembro de 2013, no Teatro da Galeria Olido, em São
Paulo. E cerca de duzentas pessoas sentaram-se para assistir e ouvir a nossa
performance.
Show completo do
Pedra no Teatro Olido, em 9 de novembro de 2013.
Eis o Link para assistir no
YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DEVtfzCfjh0
Continua...
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