sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 177 - Por Luiz Domingues

Enquanto as sessões de overdubs da gravação do novo álbum transcorriam, o clima interno na banda estava a azedar novamente, pois a agenda estava fraca e não houveram perspectivas a curto prazo para sanar essa carência histórica que essa banda sempre ostentou. 
Foi quando uma pequena luz que surgiu no final do ano de 2013, no entanto, quando o produtor/lojista, Luiz Carlos Calanca ofereceu-nos uma nova data a ser cumprida no teatro da Galeria Olido, onde já havíamos tocado uma vez em 2009. 
As condições seriam as mesmas de sempre, na base do "show sem cachê, como investimento de carreira". Eu sei que não foi culpa do Calanca, um produtor honesto e dinâmico que eu muito admiro e considero um bom amigo pessoal, mas naquela altura, com cinquenta e três anos de idade nas costas, a enfrentar pela “bilionésima” vez esse tipo de situação, foi no mínimo risível, já que de tão acostumado a lidar com isso na carreira, eu já nem indignei-me mais. 
Cachês milionários são pagos a rodo em inúmeras ações culturais perpetradas pelas secretarias de cultura, municipal e estadual, para uma privilegiada elite formada por artistas que batem ponto em eventos múltiplos por elas patrocinados, mas sobre outros que não são os "darlings do Rei", realmente deveriam contentar-se com a "grande chance" de apresentarem-se de graça, a investirem na sua carreira. 
Pois é, ao seguir tal raciocínio fantasioso, a qualquer momento poderia surgir um mecenas a passear fortuitamente na calçada naquele momento e por uma "mágica" qualquer, talvez ele fosse impelido a adentrar o teatro e ao impressionar-se com a apresentação da nossa banda, resolvesse contratar-nos para que fizéssemos parte da próxima turnê mundial dos Rolling Stones a abrirmos os seus shows, como se fosse um enredo de filme da "Sessão da Tarde, não é mesmo? 
Desta feita, o Luiz Calanca garantiu-nos que não repetiria o erro de 2009 (ao ter escalado muitas bandas com pouco espaço de tempo) e só produziria o show com duas bandas. E para melhorar ainda mais a situação, deu-nos carta branca para indicar a banda que participaria conosco, e nós indicamos o The Suman Brothers Band. 
Alguns dias antes do evento, eu e Xando fomos ao centro da cidade para inspecionarmos o teatro e o equipamento houvera de fato melhorado, ao dar-nos a impressão de que poderíamos fazer um espetáculo ainda melhor que o de 2009, pelo aspecto técnico, pois o fato de haver mais tempo hábil desta vez para a presentação, já foi uma garantia de melhora. 
Fizemos a nossa propaganda maciça pelo padrão da internet à época, assim como Calanca e o pessoal do Suman Bro's, mas na véspera do show tivemos uma notícia constrangedora: a Secretaria Municipal de Cultura comunicou que cancelaria o espetáculo e nem houve uma explicação plausível para tal. 
O Calanca ficou enfurecido com tal decisão à revelia, pois foi o curador do evento e sentiu-se logicamente desprestigiado, totalmente. Com muita discussão, manteve-se o evento confirmado, mas a Secretaria resolveu antecipar o início do show em uma hora.
Essa demonstração unilateral da parte da Secretaria foi mais do que arbitrária, ao agir à nossa revelia, mas revelou-se um empecilho impressionante para nós que estávamos a quinze dias a nos esforçarmos para promover a divulgação do show. Além de contrariar o serviço disponibilizado nos cartazes virtuais espalhados em mais de trinta redes sociais de Internet, sites e blogs, tornara a correção impossível quando fora anunciada na véspera. 
Isso gerou uma confusão tremenda e muita gente fatalmente perderia o show do The Suman Brothers Band e grande parte do nosso. Além do mais, a subtrair-nos uma hora inteira, o que certamente atrapalharia ainda mais o soundcheck, quase sempre caótico em teatros do poder público e a se pensar na sua burocracia interna massacrante. 
O Calanca estava muito chateado, mas com o espírito de que o horário antecipado fora uma grande trapalhada amadorística imposta-nos goela abaixo, mas foi um mal menor diante da possibilidade real de que o show houvesse sido cancelado sumariamente, como desejavam. Paciência, ele teve razão, foi melhor absorver esse prejuízo a engolir um cancelamento, no que teria sido muito pior.  
No dia do show, mobilizamo-nos para chegarmos cedo ao local, já a se prever a morosidade para abrirem o teatro e os técnicos chegarem e colocarem-se à nossa disposição. Desta vez, teríamos Molina & Sprada para operar a iluminação e o som, respectivamente e isso deu-nos um alento e tanto. 
Contudo, o técnico de iluminação ficou bem incomodado com a presença do Molina e chegou a procurar o diretor do teatro para "reclamar" da situação, o que foi uma das articulações mais bizarras que eu já vi, pois de que planeta esse sujeito veio onde um profissional que trabalha exclusivamente para um artista não possa atuar, ao abrir caminho para uma reclamação absurda dessas, com o elemento a arvorar-se como um "intocável" ali na estrutura do teatro? Já o rapaz do som agiu bem mais profissionalmente e atendeu bem o Renato Sprada, ao dar-lhe todo o tipo de apoio para poder operar o equipamento.
Com Will Dissidente, o hiper animado empreendedor cultural, durante o soundcheck do Pedra no Teatro Olido, em 2013 
Eu recebi uma agradável visita no camarim e já sabia que essa pessoa ali apareceria na hora do soundcheck, pois avisara-me pela Rede Social Facebook. Tratou-se de Will "Dissidente", o rapaz que administra o Blog A Chave do Sol, que é um verdadeiro museu da minha ex-banda dos anos oitenta. Ele teve compromissos e não assistiu o show do Pedra, mas foi bem prazeroso receber a sua visita ali.  
Com o Sprada a operar o PA, nós tivemos a certeza de que o show conteria a pressão de show de Rock e com Molina a comandar a iluminação, claro que o visual esteve garantido. Se bem que ele avisou-nos que graças ao clima péssimo que encontrara com o iluminador do teatro, nada disposto a colaborar com ele, não haveria meio para fazer o melhor que ele sempre queria operar para nós. Mesmo limitado por fatores alheios à sua vontade, Molina foi sempre excelente, muito acima da média de um iluminador comum.
A convivência com o The Suman Brothers Band nos camarins foi ótima. Amigos de ótima qualidade e agora a contar com Diogo Oliveira, nosso amigo e parceiro, em sua banda como componente, melhor ainda. 
O The Suman Brothers Band em ação no show compartilhado com o Pedra no Teatro Olido em 2013
O nosso soundcheck foi bom e quando entregamos o palco para os irmãos Suman fazerem o seu apronto, o Victor usou o meu baixo Fender Precision e caiu-lhe tão bem pela sonoridade da sua banda, que ele o utilizou no seu show, também. De fato, acho o estilo de Victor Suman, muito parecido com o do saudoso Rick Danko e não por acaso, The Band era mesmo uma forte referência para o trabalho deles e coincidentemente, eles iriam tocar uma releitura de uma música da The Band e que eu adoro, chamada: "Cripple Creek”. 
Quando estava a encerrar-se o soundcheck, já estava quase na hora de se abrir a porta para o público entrar e isso comprovou a nossa tese de que a antecipação inventada pela Secretaria de Cultura, fora um grande erro, pois não havia muita gente na fila, exatamente por que a maioria esmagadora contava com o horário de uma hora mais tarde, conforme anunciado na divulgação que fizéramos.
Não quero parecer um sujeito intransigente sempre a reclamar dos erros da mídia, mas convenhamos... de onde a jornalista que redigiu essa nota tirou a ideia de que eu, Luiz Domingues, fosse um "ex-componente do Tomada?" No "press release" que fornecemos é evidente que essa informação não constou. Pesquisa no Google? É claro que em lugar algum isso seria afirmado. Enfim, uma falha lastimável. 
Mais uma vez o Xando mobilizou uma tropa de amigos para capturar imagens a visar produzir um vídeo do show completo com muitas possibilidades para uma eventual edição. Medida correta, ao meu ver, embora isso gerasse gastos para uma banda que tinha dificuldade para gerar receita. 
O show do The Suman Brothers iniciou-se e todos nós assistimos da coxia. Estava muito bom o som de onde ouvíamos e a banda estava sob uma performance matadora. Sinceramente senti-me no auditório “Fillmore”, a assistir a “The Band” tocar para que em seguida o “The Allman Brothers Band” entrasse em cena e eu a tocar com Greg Allman, Dickey Betts & Cia. Cheguei a falar isso para o Calanca, que concordou e apreciou o meu devaneio Rocker e do qual ele compartilhou das mesmas ideias, certamente. 
O The Suman Brothers Band terminou o seu ótimo show e sim, a versão de "Cripple Creek" da The Band, que eles executaram, foi adorável. Só não estive a gostar do público que se mostrou em pequeno número e claro, a amaldiçoar os energúmenos que mudaram o horário do show na véspera, a sabotá-lo completamente.
"Cuide-se Bem" no Teatro Olido em 14 de novembro de 2013. 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1lecg4Myh98
"Longe do Chão" no Teatro Olido em 14 de novembro de 2013. 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=wr9N63hRyYE


Subimos ao palco e o público havia melhorado, mas não lotava o teatro e pelo contrário, apresentava-me a visão de muitas cadeiras vazias em vários pontos do auditório. Não deixei que essa visão desalentadora prejudicasse a minha performance pessoal, mas claro que eu pensei que além da confusão de horário, o baixo comparecimento foi quase uma afronta às duas bandas.
 
Tratara-se de um show realizado em um sábado no período da tarde, o ingresso foi gratuito, o teatro esteve bem arrumado, som e iluminação de bom nível, duas bandas de muita qualidade artística, localização do teatro no centro velho de São Paulo, cercado por duas estações de metrô muito próximas e dezenas de linhas de ônibus e finalmente, aconteceu em um dia quente de primavera, sem possibilidade de chuva e pelo contrário, a se revelar como um dia super ensolarado... ora, por que aquele teatro não esteve totalmente lotado e com gente do lado de fora a tentar entrar? 
Pedra em ação no Teatro Olido em 2013. Fotos 1 a 4: Grace Lagôa

Bem, conjecturas a parte, o show foi cumprido com uma energia incrível. Segundo o meu velho amigo, Rubens Gióia, que esteve ali presente, foi um autêntico "Concerto de Rock", como nos velhos tempos. José Luiz Dinola também foi visitar-nos, mas não assistiu nem uma música, por que traído pela antecipação do horário, chegou no fim, quando já estávamos no camarim a recebermos os amigos e fãs. 
 
Mais uma vez eu isento o Luiz Calanca totalmente pelos desmandos perpetrados da administração pública e de fato, ele também fora vítima, ao ter ficado muito aborrecido com os acontecimentos desagradáveis que sabotaram o show, mas justiça seja feita e não estou a contemporizar a estupidez que foi essa antecipação do horário, a gerar tal anticlímax, todavia, o público desapontou-nos, com antecipação ou não.
 
Claro, no domingo posterior, a página do Facebook da banda e nos perfis pessoais de todos os membros, ficaram lotados com pessoas a  afirmarem que haviam perdido o show das duas bandas e que queriam saber onde seria o próximo e que dessa vez, não perderiam, ou seja, um fenômeno típico de internet, foi um misto de preguiça com escárnio, que virou comportamento padrão para muitos.
 
Aconteceu em 9 de novembro de 2013, no Teatro da Galeria Olido, em São Paulo. E cerca de duzentas pessoas sentaram-se para assistir e ouvir a nossa performance.

Show completo do Pedra no Teatro Olido, em 9 de novembro de 2013. 
 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DEVtfzCfjh0

Continua...

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