Eu (Luiz Domingues) & Xando Zupo no camarim da casa de espetáculos, Avenida Bar, de São Paulo, em 2007. Foto : Grace Lagôa
Foi quando eu recebi um e-mail da parte do Xando Zupo e com
direcionamento em conjunto para Rodrigo e Ivan, com o intuito de convocar uma reunião dos
ex-componentes do Pedra para um dia útil, no período da tarde.
Sem entrar em
detalhes, o e-mail dizia ser uma reunião para comunicar um fato a envolver o Pedra
e na hora em que o li, já imaginei que tratar-se-ia do compromisso pendente que deixáramos,
em relação a um show compartilhado (na verdade, um micro festival), com apoio
da Lei Rouanet e que finalmente teria a sua confirmação.
Portanto, tal reunião
provavelmente visava entrar nesse mérito e motivar assim que nós tomássemos providências,
a nos mobilizarmos para tal. Não houve por que imaginar uma outra intenção diferente para essa convocação.
Pedra em ação na casa de espetáculos Avenida Bar em agosto de 2007. Foto: Grace Lagôa
Quando eu cheguei
ao estúdio Overdrive, após a confraternização com os ex-colegas e dez minutos
de conversa sobre reminiscências do nosso passado em comum, o Xando tomou a
palavra e falou que nós já havíamos tido a experiência de estarmos a atuar juntos no Pedra e
agora de não estarmos mais e dessa forma, nessa balança onde tínhamos as duas faces
dessa realidade, ele chegara à conclusão que era melhor estar dentro e baseado
nessa expectativa pessoal sua, ele desejaria saber a posição de cada um a respeito,
pois gostaria de reativar a banda, principalmente para finalizar o disco
engavetado com o fim das atividades em 2011.
Rodrigo e Ivan mostravam-se bem
propensos a aceitarem tal ideia e mais uma vez, assim como já ocorrera por
ocasião da decisão que fora tomada pelos três em 2011, para encerrar a banda,
a minha impressão nesse instante foi que eles já estavam combinados sobre a
"volta" e eu, seria o último a saber.
Eu (Luiz Domingues), no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em 2006. Foto: Grace Lagôa
O Xando brincou, ao recordar-se
que eu fui de fato o único contra o fim do trabalho em 2011 e nessa nova realidade,
praticamente o que queriam fazer foi uma confirmação do que eu pregara naquela
época, ou seja, não houve necessidade alguma de anunciarmos publicamente o final
da banda e ao contrário, se decretássemos um período de férias, acordadas entre nós secretamente, não teria
criado nenhum mal-estar para a banda e tampouco para os fãs naquela ocasião.
Ter
parado por um tempo, não teria sido muito diferente de estarmos naquela realidade
que ostentávamos, com profunda escassez de oportunidades de shows ao vivo,
portanto, a opinião pública mal notaria a diferença entre estar no limbo por
opção própria ou por falta de chances.
Eu (Luiz Domingues) em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana em maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
O tempo provou, portanto, que a minha
concepção na época do "fim" em 2011, não foi errada. Não quero
arvorar-me como “dono da verdade”, tampouco tripudiar dos colegas, mas
entre um
leque de atitudes que a banda poderia ter tomado naquela altura, creio
que
anunciar um final oficial, só trouxe-nos prejuízo.
A ponderar sobre
isso, em
primeiro lugar a ideia da "volta" não passara pela minha cabeça. Eu
não quis acabar em 2011, fiquei chateado, conforme já descrevi, mas
absorvi
rapidamente a contrariedade, a vida tratou de abrir-me novas
possibilidades
e... eu estava feliz com as novas portas que haviam sido abertas e eu
entrado.
Portanto, quando eu ouvi o Xando a expressar a sua narrativa e com a total
concordância dos demais,
tal proposta não soara-me tão espetacular quanto o foi para eles.
Pedra em show no Teatro X de São Paulo, em 2008. Foto: Grace Lagôa
Não que eu não
tivesse apreço e consideração pela história construída com o Pedra, tampouco a relevar a
amizade e convívio com eles, como pessoas.
Ao contrário, o trabalho contém um
quilate artístico indiscutível e do qual muito orgulho-me. No entanto, o meu
sentimento em maio de 2012, não foi no sentido de ficar eufórico pela possibilidade da
banda voltar, por que eu estava a gostar de trabalhar em outras bandas, além de
dedicar-me às minhas atividades literárias.
Dessa forma, a minha primeira reação, foi de
estupefação, a contrastar com a quase euforia com a qual eles trataram a
hipótese.
Eu (Luiz Domingues) com o Pedra em 2006, ao vivo no Café Aurora de São Paulo. Foto: Grace Lagôa
Imaginei então que a reunião fosse para tratar de um show pendente, e no
entanto, eles queriam tratar sobre uma retomada do trabalho. Então, se houve algo de
positivo na minha percepção ali naquele momento, foi a perspectiva de retomar o
disco inacabado e o lançá-lo, a eliminar uma pendência que eu achava desagradável
pelo desfecho que teve com o final abrupto da banda em 2011.
Isso foi falado
pelos três. Retomar a produção do disco engavetado pela metade, foi a meta
número um e por esse aspecto, eu achei justo fazer parte desse esforço, mas daí a
considerar uma volta oficial, não foi uma ideia que agradou-me inteiramente.
Ao ir
além, o Xando afirmou que não repetiríamos os erros do passado, e nesse novo momento, com
astral renovado, não haveria pressão por resultados, portanto, o elemento negativo que mais
contaminara a nossa relação entre 2004 e 2011, certamente que fora a escassez
de oportunidades, a gerar uma agenda pífia e que por conseguinte, criou um
clima de desgaste psicológico e expresso em rusgas, através de inevitáveis
sessões de "DR".
A viver
uma nova fase de sua vida, o Xando havia parado de fumar, ao demonstrar estar a
cuidar muito melhor de sua saúde e isso foi ótimo, pois estava a lhe fazer
muito bem e claro que eu o apoiei e apreciei muito saber disso.
Foto promocional do Pedra nas dependências do estúdio Overdrive, em São Paulo, por volta de 2008. Click de Grace Lagôa
Portanto, não
teria por que não acreditar que a ansiedade que a sua personalidade forte gerava
anteriormente, estivesse muito apaziguada e nesses termos, o Pedra poderia
trabalhar na conclusão desse disco pendente, com tranquilidade, sem pressões e
a reviver os bons tempos iniciais da banda, entre 2004 e 2006, quando a
convivência interna foi serena, sem tensões.
Mesmo assim, eu não estava mais
com aquela vibração de outrora e dividido, nutri sérias dúvidas sobre essa
"volta" dar certo, mesmo que aparentemente fosse só pelo objetivo de
se concluir o disco.
Eu (Luiz Domingues) em ação com o Pedra no Teatro Olido de São Paulo, em 2009. Foto de Fabiano Cruz
A minha estupefação inicial e também ceticismo, contrastara com a
alegria dos três em voltar com a banda, e repetiu portanto o padrão da época do
final da banda em 2011, só que inverterem-se as expectativas, mas novamente a demarcar que eu
viesse a sentir-me isolado, a perder sempre em votações de resoluções, por um placar de três
a um.
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