Passado o
ótimo show ocorrido no Sesc Belenzinho, nós tivemos logo a seguir uma entrevista para um Blog com
muitos acessos, mas completamente fora da nossa realidade.
Foi o seguinte tal situação:
Através de uma rede social chamada "LinkedIn", eu fui abordado por uma garota bem
jovem que ao verificar as minhas postagens regulares por ali, apresentou-se como dona de
um Blog sobre música, centrado mais no Pop-Rock daquela atualidade, a enfocar
a carreira de bandas jovens e algumas, muito jovens, por sinal e espectro natural dessa mocinha.
Portanto, sob uma primeira avaliação, eu não avaliei ser conveniente para nós, mas
ela foi muito simpática na abordagem e propôs inicialmente uma entrevista
individual comigo. Como essa entrevista comigo repercutiu bem, a render inclusive, muito mais
comentários do que as postagens regulares sobre bandas "teenagers"
que ela costumava enfocar, ficou mais confortável para o Pedra ser retratado em
seu espaço.
Quando eu abordei os meus colegas, eles demonstraram um nítido ceticismo, ao notarem que o
Blog, apesar de apresentar um bonito lay-out, era conduzido por uma menina tão jovem.
Tive que pressioná-los para responderem o questionário, pois ficara clara a
desmotivação da parte deles (honra seja feita, com exceção do Rodrigo que foi rápido e
solícito para responder).
Esse tipo de postura chateava-me, pois desde os primórdios da minha carreira, eu sempre
atendi bem qualquer interlocutor, ao não importar-me se fosse um jornalista
a representar um órgão mainstream de primeira grandeza ou um garoto imberbe e responsável
por um fanzine com lay-out manuscrito e reproduzido em cópias xerox de má
qualidade de impressão.
Mas não é todo mundo que pensa sim e talvez isso
explique o motivo pelo qual eu representei o Pedra em entrevistas concedidas para
órgãos pequenos, inclusive programas muito precários de TV de Internet e a minha
postura foi sempre igual, como se estivesse em um talk-show da Rede Globo, a ser
assistido por cem milhões de pessoas.
Por fim, consegui reunir as respostas dos
rapazes e a entrevista foi publicada no Blog Maah Music, um Blog jovem, sim,
mas bem intencionado e conduzido pela Marina, uma garota novinha que adora
música e tem os seus leitores & seguidores.
Eis o Link para ler tal entrevista:
http://estilloetendencias.blogspot.com.br/2013/02/entrevista-exclusividade-com-banda-pedra.html#comment-form
E para piorar a situação, o micro embalo que tivemos no final de 2012 e pareceu estar a confirmar-se no início de 2013, após o show do Sesc Belenzinho, esteve a se esvair na realidade, quando novamente deparamo-nos com falta de perspectivas imediatas a seguir.
Eis o Link para ler tal entrevista:
http://estilloetendencias.blogspot.com.br/2013/02/entrevista-exclusividade-com-banda-pedra.html#comment-form
E para piorar a situação, o micro embalo que tivemos no final de 2012 e pareceu estar a confirmar-se no início de 2013, após o show do Sesc Belenzinho, esteve a se esvair na realidade, quando novamente deparamo-nos com falta de perspectivas imediatas a seguir.
Foi mais um período tenso a iniciar-se,
infelizmente no interno da banda, até que uma luz apareceu no fim do túnel,
quando um produtor chamado: Helton Ribeiro, tradicionalmente focado no mundo do
Blues & Jazz, enviou-nos um convite para tocarmos em uma das mais
tradicionais casas de shows voltados para esse universo, de São Paulo, chamada:
"Bourbon Street".
Tal casa costumava há muitos anos, apresentar
artistas internacionais dessa seara, mais do Blues, é bem verdade, e ali, até o super star,
B.B. King, já havia apresentado-se e se não me engano, mais de uma vez.
O Helton era editor de uma revista chamada: “Blues'n Jazz” e uma vez por mês,
realizava uma festa da revista nessa casa, geralmente a programar duas atrações
para prover uma jornada dupla, mas nos últimos tempos ele estava a adotar uma estratégia
diferente, ao abrir espaço também para bandas de Rock, pois segundo ele mesmo afirmara, o seu
projeto estava desgastado, mesmo dentro de uma casa focada nesse universo e dessa
forma, a expansão para outros espectros artísticos foi uma tentativa de
oxigenar a sua celebração mensal.
Tudo bem, já que foi assim, aceitamos tocar, mesmo
ao sabermos que o Bourbon Street não era exatamente uma casa adequada para uma
apresentação nossa, em tese.
Ficamos contentes por saber que teríamos uma ótima
companhia na jornada dupla, com os amigos do The Suman Brothers Band, uma banda
sensacional e formada por pessoas da melhor qualidade. E ainda por cima, o
grande Diogo Oliveira havia recém entrado na formação dessa banda, para torná-la ainda mais
encorpada e criativa. Portanto, tocar com essa banda amiga e excelente,
musicalmente a falar, seria ótimo, é claro.
No dia do show, nós levamos o nosso
backline quase completo e não teria sido necessário na medida em que a casa possuía um bom equipamento para disponibilizar.
Essa foi uma questão que estava a cansar-me
na banda, pois não obstante o fato de achar corretíssimo o artista apresentar-se sempre
da melhor maneira possível, por outro lado, não mensurava-se na prática o
quanto os sacrifícios inúteis que essa predisposição causava-nos.
Portanto, na
minha ótica, a política de sempre mobilizar um exército para cada apresentação,
a envolver utilizar um backline exagerado e equipe técnica com profissionais a
serem pagos, sufocava-nos, diante da escassez de oportunidades de agenda e
sobretudo pelos cachês tímidos que recebíamos, geralmente, que não suportavam a carga de uma
despesa que não cabia para uma banda não alojada no mainstream e que gerasse
auto sustentação mínima.
Mesmo ao considerar que profissionais de alto gabarito
como Wagner Molina e Renato Sprada, acostumados a ganharem cachês de um patamar
de artistas mainstream, não importavam-se em trabalhar em nosso favor, com cachês reduzidos e
eventualmente até gratuitamente, nós não sentíamo-nos bem em não oferecer-lhes nada,
mas mesmo a se pensar em porções modestas, para nós pesava no nosso parco
orçamento.
Bem, análise gerencial a parte, chegamos ao Bourbon Street e o
problema para se providenciar vaga de estacionamento já causou-nos o cansaço emocional típico de ter que
levar backline pesado em carros particulares.
Uma vez lá dentro da casa, fomos bem
recebidos pelos dois técnicos fixos do estabelecimento, mas o restante dos funcionários pareceram
não ter muita predisposição para serem solícitos.
Arrumamos o palco e quando
Sprada & Molina chegaram, ambos tiveram algumas dificuldades para lidar com os
respectivos técnicos da casa, que não estavam muito acostumados a lidarem com
artistas que levavam os seus técnicos próprios. Mas ultra experientes, ambos, foram
a relevar o clima não favorável e assim fizemos o soundcheck.
Eu conhecia o
gerente geral da casa, um rapaz sensacional chamado: Pietro Buccaran, que eu
conhecera por meio de uma situação não musical, pois nós dois interagíamos em uma ação de
voluntariado para uma instituição e lá, como haviam pessoas de diversas camadas
sociais e profissões, quando ele viu-me cabeludo, logo deduziu que eu tinha alguma
relação com a música e então apresentou-se a dizer ser o gerente do Bourbon
Street e estar acostumado a lidar com shows de Blues e Jazz, mas também Rock'n'
Roll.
Nesse ínterim, eu já havia falado com ele sobre o trabalho do Pedra e d'Os Kurandeiros e até ofertado-lhe material das duas bandas, mas ele explicou-me que não cuidava da parte
artística, mas sim da gerência geral e que poderia apenas falar com o diretor
artístico da casa.
O tempo passou e através de uma terceira persona foi que conseguimos
uma colocação para essa casa, mas Pietro disse-me que seria bom e abriria a porta para
outras oportunidades ali, fora da festa da Revista Blues’n Jazz.
Após o
soundcheck, Pietro e a sua esposa Claudyana, que também era funcionária da casa
(e eu a conhecia do Instituto que frequentávamos, também), chegaram e
convidaram-nos a jantar.
A casa foi a lotar e ficamos a observar a
movimentação. Muitos fãs do Pedra, além de parentes e amigos dos componentes estavam
a chegarem, mas o grande grosso desse público, foi formado pelo público habitue
da casa e a faixa etária se mostrou alta.
Particularmente eu fiquei em dúvida se esse
tipo de público maduro, mais a caminhar para a terceira idade e apreciadores de Jazz
& Blues, interessar-se-ia pela nossa música autoral e longe de seu
espectro natural de predileções. Eu já havia enfrentado plateias inadequadas na
minha carreira, muitas vezes em trabalhos anteriores, portanto isso não
assustava-me, mas por outro lado, fiquei com esse questionamento interno, sobre
a eficácia de se fazer esse show, como estratégia por captação de simpatia de um
público novo e normalmente desinteressado em um universo em que vivíamos e como
agravante, ao termos a questão do sacrifício logístico e monetário para montar um
palco com backline próprio, além de levar equipe própria.
Chegou a hora e a
casa estava bem cheia, algo surpreendente para uma quarta-feira, mas segundo
apuramos, dentro da normalidade do estabelecimento. Saímos à rua para ver esse
movimento e quando tentamos voltar pela entrada de serviço da cozinha da casa,
que dava acesso ao camarim, fomos impedidos pelo segurança e tivemos que
enfrentar a longa fila da entrada principal.
Ali, pudemos constatar que a casa adotava
um procedimento antipático de cadastrar os seus clientes. Sei que tal
metodologia adotada por algumas casas noturnas minimiza eventuais calotes a que
são submetidas, mas pelo ponto de vista do cliente, ser obrigado a enfrentar um interrogatório e a fornecer dados
pessoais, realmente irrita quem quer apenas entrar em uma casa noturna para
assistir um show musical, jantar e conversar com os amigos, portanto, não sei
dimensionar o que foi pior: a longa espera para chegarmos até a atendente ou o
interrogatório. Acredito que o conjunto da obra foi abominável.
Começou o
show do The Suman Brothers Band e o Victor Suman pediu para usar o meu Rickenbacker,
que eu emprestei na hora, naturalmente, amigo que ele é.
Eu já havia visto a banda em
ação como trio, quando o trio interagira com Os Kurandeiros em um show em conjunto que fizéramos em 2012 e havia
ficado impressionado com a sua categoria.
Versados no Blues,; Rock'n' Roll, R'n'B,
Soul Music, Folk e mais uma série de influências boas, a banda era super
azeitada ao vivo. Agora como quarteto, a contar com Diogo Oliveira agregado como
o segundo guitarrista da banda, a se configurar como um super reforço, a banda ficara ainda
melhor, mais encorpada e com uma força expressiva incrível. Gostei muito do
show deles, ao assistir pela coxia minúscula ali existente, que dava acesso ao camarim.
Pedra em ação no Bourbon Street de São Paulo, no dia 17 de abril de 2013. Fotos: Grace Lagôa
Chegou
a nossa vez e nós começamos o nosso show com muita energia, a parecer estarmos na
mesma forma dos shows anteriores.
Mas logo nas primeiras músicas, começamos a
receber recados do produtor do show, para abaixarmos o volume, pois o gerente
da casa, estava incomodado. Não referia-se ao Pietro, pois este por ser um conhecido meu,
tenho certeza de que ele mesmo teria aparecido na coxia para fazer a solicitação
pessoalmente.
Deve ter sido uma reclamação do diretor artístico da casa. Os recados
continuaram, mesmo depois de termos abaixado os amplificadores e pedido pelo
microfone ao Renato Sprada, para amenizar a pressão do PA.
Apesar de reduzirmos o
volume, os pedidos prosseguiram e foram a aumentar no seu tom e nessa escalada,
foram a ganhar uma aura de irritação, como se nós estivéssemos a fazer pirraça
infantojuvenil em não atender os seus apelos, mas pelo contrário, nós havíamos
reduzido o volume para um patamar que já estava quase desagradável para nós em cima do
palco, a prejudicar a nossa performance.
Pedra no Bourbon Street em 2013. Primeira foto de Grace Lagôa e segunda, de Bolívia & Cátia
E foram a ficarem mais tensas as solicitações, pois chegara-se em um ponto em que já houveram
ameaças explícitas do tipo: -"vocês nunca mais tocarão aqui" e
outras bravatas destemperadas.
Quanto a "nunca mais tocar ali", isso
não preocupava-me nem um pouco, pois desde o início eu achara inadequado o Pedra
apresentar-se em uma casa noturna com orientação temática bem longe da nossa
realidade. Eu só ficaria chateado pelo amigo Pietro que era (é) extremamente gentil e certamente ficaria constrangido pela confusão e animosidade gerada.
Todavia, tal situação culminou em não ocorrer, pois um ano depois, nós fomos convidados novamente e desta
feita o show aconteceria de forma muito mais amena.
Enfim, após o término do
espetáculo e mesmo com essa tensão, houve um bom contingente de pessoas que
estiveram ali para ver o Pedra, pois aplausos e gritos de pedido de bis ocorreram
e até um coro de: "Pedra, Pedra” foi entoado, talvez a irritar o
neurastênico senhor que pressionara o Helton a pressionar-nos por conseguinte.
Pedra no Bourbon Street em São Paulo, 17 de abril de 2013. Foto: Grace Lagôa
Como última ocorrência dessa noite, houve uma desavença terrível com os
seguranças e funcionários da limpeza e copa & cozinha que pressionaram-nos com
muita truculência para desmontarmos logo o nosso equipamento e o levarmos para
os nossos carros.
Destrataram o Ivan Scaterzini, que reagiu e um clima de quase
briga instaurou-se ali. Tentei achar o Pietro para intervir, mas os ânimos
acalmaram-se e nós conseguimos tirar as nossas coisas e abandonarmos a casa.
Uma senhora,
funcionária da casa que cuidava do camarim, portara-se de uma forma extremamente
arrogante e assim desrespeitou-nos com falas grosseiras e descabidas.
Ao elaborar um "raio x" da situação e por ter um razoável conhecimento de como funcionam casas
noturnas em geral, esteve claro ali que tais funcionários estavam nervosos e
apreensivos para que saíssemos o quanto antes do estabelecimento a fim de
encerrarem o expediente e dessa forma, serem dispensados para voltarem imediatamente para as
suas respectivas residências.
Entendo a questão de estarem cansados e sobretudo
pelo fato de serem trabalhadores humildes e que fatalmente ao morarem em bairros
distantes da periferia, ficavam desesperados pela perspectiva de perderem a
última condução da madrugada.
Até solidarizo-me com eles, pela vida dura que
tem, porém em contrapartida, nada, eu disse nada, justificou o fato de terem destratado-nos
daquela forma. Se fossem mais perspicazes e não a raciocinarem como trogloditas,
teriam oferecido ajuda para agilizar o processo.
No caso dos seguranças, homens
fortes que eram, teriam ajudado muito, mas a musculatura dessas pessoas era
inversamente proporcional à sua massa encefálica, portanto, preferiram
intimidar-nos pela força, a nos causar medo e não a usá-lo em solidariedade.
Enfim,
foi o ápice para uma noite de aborrecimentos múltiplos.
Dia 17 de abril de 2013, no Bourbon Street em São Paulo, com cerca de duzentas pessoas na plateia.
Dia 17 de abril de 2013, no Bourbon Street em São Paulo, com cerca de duzentas pessoas na plateia.
https://www.youtube.com/watch?v=b0KOkn-G4uM
Tal acontecimento levava-nos de volta ao clássico questionamento: valia a pena
tocar em lugares inadequados?
Continua...
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