Em setembro, tivemos uma boa novidade, que na verdade foi uma conquista individual, mas que logicamente repercutira para o bem da banda. O nosso guitarrista, Xando Zupo, foi convidado a participar de uma coletânea de guitarristas, organizada pela revista Guitar Player, com grande destaque nas páginas da revista e o CD em questão conteve uma faixa de cada guitarrista escolhido para tal representação. Xando foi apresentado aos ouvintes/leitores, com a faixa: "Pra Não Voltar", do repertório do Pedra. Ficamos todos honrados, naturalmente.
Eis o
Link desse lançamento:
http://guitarplayer.uol.com.br/
Mas a grande novidade mesmo para o final do ano, foi que o Xando resolveu lançar quatro singles simultaneamente, cansado da morosidade irritante que o decantado álbum, "Fuzuê", estava a nos causar para ser finalizado.
http://guitarplayer.uol.com.br/
Mas a grande novidade mesmo para o final do ano, foi que o Xando resolveu lançar quatro singles simultaneamente, cansado da morosidade irritante que o decantado álbum, "Fuzuê", estava a nos causar para ser finalizado.
Uma boa ideia surgiu e de certa forma, tirou-lhe um peso de suas costas
sobrecarregadas com a morosidade dessa produção (que não teve um outro meio de
ser concluída, a não ser por ele por ele mesmo, infelizmente, pelo cansaço
todo que disso era decorrente).
Foi o seguinte: o Xando recorreu ao grande Diogo Oliveira para
auxiliá-lo com ilustrações e a ideia foi no sentido de se não criarem promos animados, mas
ao simplificar ao máximo, que contivessem apenas uma ilustração temática para cada canção,
a minimizar-se trabalho e a buscar na agilidade e simplicidade um movimento
rápido e eficaz para dar um alento à banda e a ele mesmo, Xando, que estava
fatigado, exaurido nas suas forças.
Foto do cartaz acima, de Leandro Almeida
Para lançar os quatro singles novos, Xando marcou uma apresentação ao
vivo na emissora Brasil 2000 FM, onde tanta força recebêramos nos anos todos de
existência do Pedra, portanto, não haveria de ser diferente agora e como
adendo, creio que foi muito justo que ali o fizéssemos, em sinal de agradecimento à referida emissora.
A data
marcada para a apresentação ao vivo, a celebrar o lançamento dos quatro singles
foi o dia 4 de novembro de 2014, data natalícia do nosso guitarrista, Xando
Zupo, por coincidência.
Eu não
sabia, mas estava seriamente doente já naquela ocasião. A interpretar os
momentos de mal-estar que comecei a ter em outubro mais ou menos, como algo
secundário e facilmente contornável, atravessei os meses de novembro e dezembro nessa mesma
predisposição, mas em janeiro, a situação mudou.
Bem, falo sobre isso depois. Por enquanto, ainda a comentar sobre os lançamentos dos quatro singles e do
programa da Brasil 2000 FM, eu fiz um esforço enorme para não ser desagradável com
ninguém e muito menos com a banda que ainda representava, mas doente, e a sentir-me
mal fisicamente e também chateado por conta de uma sucessão de reuniões tensas
que o Pedra havia realizado, com as inevitáveis "DR's", a minha
paciência com essa banda havia chegado ao limite.
Eu já pensava em deixar a
banda, cansado de sua dinâmica tensa no âmbito interno, mas esperava um momento
propício para fazer a minha comunicação aos demais, que não poderia ser ali no
calor de um lançamento, nem mesmo antes de se lançar o disco tão sofrido na sua produção em geral.
Não
foi nada contra a banda, nem mesmo contra nenhum companheiro, pessoalmente,
tampouco pela obra, mas eu chegara no limite, infelizmente, a sentir-me inútil por raramente ter uma opinião levada em consideração, ser cobrado para fazer
coisas que certamente não tinha habilidade alguma para tal e por ser subutilizado em minhas potencialidades extra musicais.
Eu nutria algumas
restrições também aos métodos de gerenciamento e marketing adotados pela
banda e sobre algumas questões mais artísticas como letras de músicas e
pronunciamentos públicos, mas nesses dois últimos quesitos, seriam considerações contornáveis.
A
apresentação na emissora rádio foi a contento, com a banda a soar bem ao vivo, mas o
clima era pesado, ainda que ali, no calor da ocasião e por ser aniversário do
Xando, com direito a um bolo para comemorar a data e a ser servido na copa da emissora, tudo pareceu haver amenizado-se.
No entanto, na hora da entrevista, o meu ânimo que já estava baixo e
a sentir-me mal pelos efeitos da doença que estava a se manifestar mas eu nem
sonhava com a sua gravidade naquele momento, o fato foi que me encontrei alheio
completamente.
Lembro-me apenas que em meio a uma rara brecha onde eu poderia falar:
"boa noite" ao microfone, devidamente interpelado pelo entrevistador Osmar “Osmi”, ao
microfone, eu só pronunciei a palavra "boa", pois quando fui articular o
"noite", um outro colega atropelou-me para falar algo totalmente fora
do contexto do que eu falaria após o cumprimento inicial e ali eu desanimei de vez, ao perceber
que não continha mais nenhum espaço nessa banda, se é que algum dia eu tenha tido.
Nas dependências da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Foto: Grace Lagôa
A
empresária do Língua de Trapo, Marcinha Oliveira, esposa do Laert Sarrumor,
havia decidido nos empresariar, portanto foi um alento para a nossa banda, tão
carente de apoio gerencial, desde o início de sua história.
Uma das suas ações
iniciais ainda em 2014, fora tentar inserir-nos na Virada Cultural de São
Paulo. Ela não havia logrado êxito em vender-nos nas unidades do Sesc ainda, mas
sinalizava pequenas datas em casas noturnas e um possível encaixe para um festival
de música brasileira a ser realizado nos Estados Unidos, provavelmente no estado da
Florida, para o ano de 2015.
Nos bastidores da emissora Brasil 2000 FM, em 4 de novembro de 2014. Foto: Grace Lagôa
Ainda houve mais uma reunião tensa em novembro,
mas a minha situação de saúde piorava e ainda ao não perceber a sua gravidade, eu pensei
ser apenas um mal-estar súbito a motivar a oscilação da pressão arterial.
Eis o Link do arquivo da Rádio Brasil
2000 FM, para ouvir o programa citado:
http://www.brasil2000.com.br/arquivo/190/brasil-2000-ao-vivo-89-pedra
Na última reunião, ficou combinado que o Xando não faria mais nenhuma mixagem e as faixas restantes seriam mixadas em outros estúdios, com o Rodrigo a prontificar-se a tomar tal providência a partir do início de janeiro. O Xando estava exaurido em suas forças.
O áudio oficial de
"Furos no Sapatos" lançado como single em 2014.
Na última reunião, ficou combinado que o Xando não faria mais nenhuma mixagem e as faixas restantes seriam mixadas em outros estúdios, com o Rodrigo a prontificar-se a tomar tal providência a partir do início de janeiro. O Xando estava exaurido em suas forças.
Eis o Link para ouvir
no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Lz8ThQmdmDE
O áudio oficial de "Os Teus Olhos" lançado como single em 2014.
Eis o Link
para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hX88BqAAi2o
Ao anunciar-se um período de recesso geral, nós combinamos de falarmo-nos a partir da segunda quinzena de janeiro, para fechar esse disco e tomar uma decisão sobre a banda. Eu esperava chegar essa conclusão do disco para comunicar-lhes a minha saída, apenas.
Ao anunciar-se um período de recesso geral, nós combinamos de falarmo-nos a partir da segunda quinzena de janeiro, para fechar esse disco e tomar uma decisão sobre a banda. Eu esperava chegar essa conclusão do disco para comunicar-lhes a minha saída, apenas.
O áudio oficial de
"Segunda-Feira", lançado como single em 2014.
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0Nv5OVjfRdA
O áudio oficial de "Amém Metrópolis", lançado como single no YouTube.
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=pZlwRJydv58
Pedra em
ação no Centro Cultural São Paulo em agosto de 2014. Rodrigo Hid em
destaque, com Ivan Scartezi no canto esquerdo ao fundo e Xando Zupo no
canto direito. Foto de Bolívia & Cátia
Quando chegou o mês de janeiro de 2015, o Rodrigo comunicou-nos que havia fechado um
pacote com o estúdio Curumim de propriedade de Fernando Ceah, vocalista/compositor
e guitarrista da banda “Vento Motivo” e que o produtor argentino, Carlos Perren,
“Carlito” entre os amigos, que trabalhava em várias produções nesse estúdio,
faria a mixagem das faixas restantes.
Quando eu recebi e-mails dele a mostrar-me os
primeiros resultados dessas mixagens, eu já estava a passar mal, ao sentir fortes
dores abdominais, mas nesse caso, a atribuir tais dores a uma crise de gastrite, visto que
eu já tinha passado por isso em ocasiões anteriores e identificara o mesmo tipo de
dor, portanto, em princípio, busquei a avaliação médica da parte de um
especialista em gastroenterelogia e já imaginava o trâmite sugerido pelo
doutor, com endoscopia e medicação por um ou dois meses, além de uma dieta a vista.
Já havia passado por isso em 1997 e 2001.
Eu, Luiz Domingues, no camarim do Centro Cultural São Paulo em agosto de 2014. Foto de Grace Lagôa
Mas o meu caso se tornou dramático quando
eu fiquei à mercê de um estado de icterícia fortíssima e mediante novos exames, tive que
fazer duas cirurgias de emergência para retirar cálculos da vesícula e do
pâncreas.
Não vou alongar-me aqui nessa particularidade, apenas registro que
eu corri um sério risco de vida e saí de combate entre março e junho, completamente
debilitado pela doença e recuperação pós-cirúrgica.
O Rodrigo foi o primeiro
componente do Pedra que soube do meu estado, quando em uma noite de março,
ligou-me para falar sobre o Pedra e perguntar como eu estava e até então, todos
estavam cientes que eu estava doente, mas não sabiam da gravidade.
Por
coincidência, foi no dia em que internei-me e ele foi de imediato ao hospital e viu-me
sob uma situação lastimável no saguão do Pronto Socorro, antes mesmo de ser
diagnosticado e internado. O Xando visitou-me na internação, cinco dias após as
duas cirurgias.
Para o leitor saber com maiores detalhes o que ocorreu-me, e
como salvei minha vida e pude concluir esta autobiografia (e chegou num ponto
em que a iminência da morte chateou-me bastante, pela possibilidade concreta de
não conseguir concluir este texto, confesso), convido-o a ler um relato que
escrevi e publiquei em meu Blog nº 1, que não divulguei nas redes sociais, mas
fiz questão de escrever e publicar em nome do meu agradecimento aos médicos;
enfermeiros, e técnicos de laboratório do Hospital São Paulo, que salvaram a
minha vida.
Eis o Link do relato completo sobre o que ocorreu-me:
Eis o Link do relato completo sobre o que ocorreu-me:
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/2015/10/nao-e-por-ma-vontade-dos-profissionais.html
Ao final
de maio, o Xando ofereceu-se para levar-me à minha primeira consulta ambulatorial do
pós-alta, e o meu estado de debilidade foi enorme. Foi o primeiro dia em que saí
na rua desde que voltara para a casa em 18 de abril e senti muitos incômodos,
fora estar desorientado e fraco, sem massa muscular e com dificuldades motoras
para caminhar e manter-me em pé. Sou-lhe muito grato por esse gesto de amizade
e solidariedade.
Eu, Luiz Domingues, ao vivo com o Pedra em show realizado no Espaço Cultural Gambalaia de Santo André-SP, em 2014. Foto: Grace Lagôa
Por volta
de junho, uma reunião foi convocada para resolver o que seria do futuro da
banda e eu anunciei enfim a minha saída e o Rodrigo também, a se declarar desmotivado, anunciou a sua retirada no mesmo dia.
Xando e Ivan disseram manter a vontade de seguir em frente e
o que combinamos ali foi não darmos nenhuma declaração pública momentânea e que em
breve o Xando lançaria uma declaração oficial a falar sobre o lançamento do disco em
caráter apenas virtual e anunciaria o fim da nossa formação, mas não o da
banda, para mostrar à opinião pública que o Pedra seria reformulado e voltaria às
atividades o quanto antes, e com novos membros ao lado de Zupo &
Scartezini.
Comunicou-se a situação da banda para a Marcinha Oliveira e
nessa altura, pelo menos duas datas em casas noturnas só dependiam da nossa aprovação
para serem fechadas, mas agora ficariam inviáveis sine die.
Álbum "Fuzuê", versão na
íntegra do álbum. Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1DrNgZ-1cJg
Sobre o álbum em si, apesar de todos os aspectos negativos que cercaram-no, ao ter sido produzido com uma incrível morosidade pelas circunstâncias, claro que a obra tem os seus muitos méritos.
Sobre o álbum em si, apesar de todos os aspectos negativos que cercaram-no, ao ter sido produzido com uma incrível morosidade pelas circunstâncias, claro que a obra tem os seus muitos méritos.
Eis agora, uma análise faixa a faixa de minha parte:
Rodrigo Hid no destaque da foto, a atuar com o Pedra em agosto de 2014, no Centro Cultural São Paulo. Foto: Leandro Almeida
“Fuzuê Intro” (Rodrigo Hid/Xando
Zupo/Ivan Scartezini/Luiz Domingues)
A banda
entra a executar um tema super centrado no Funk-Rock setentista, com forte
identidade com as vinhetas de seriados policiais norte-americanos daquela
década. O balanço é total, com destaque para os contra-solos e cutucadas funk,
ótimas intervenções da parte do Xando e o balanço sensacional do clavinete do
Rodrigo.
Após uma pausa, e ótima evolução do Ivan Scartezini a fazer uma frase
nesse interlúdio, entra o “strings” (um sintetizador que simulava o arranjo de
instrumentos de cordas e super usado nos anos setenta), que é muito conveniente
pelo timbre a reforçar o som de vinheta da TV nessa época e há uma locução nos
mesmos moldes que anuncia a entrada efetiva do disco, como a anunciar a próxima
atração televisiva. Trata-se da minha voz nessa locução, a fazer impostação e a imitar
acintosamente os locutores típicos da TV daquela década. O texto literal dessa
locução assim ficou:
“Você acabou de curtir Pedra II. A
seguir, Fuzuê. Com muita confusão, drama comédia e drama. Estrelando: Rodrigo
Hid, Xando Zupo, Luiz Domingues e Ivan Scatezini”.
Pedra em
ação no Centro Cultural São Paulo, em agosto de 2014. Rodrigo Hid à
esquerda nos teclados e Luiz Domingues no canto direito. Foto: Leandro
Almeida
“Furos nos Sapatos” (Xando Zupo/Marcelo “Mancha”)
Essa
canção ficou muito bem arranjada, não resta dúvida. Parece um Hard-Rock
setentista pelo riff primordial, mas contém inúmeros elementos agregados, ao passar
pelo R’n’B, Pop e até a conter uma pitada de Funk-Rock setentista.
São ótimos os solos, há um
refrão excelente e todo desenhado, a apresentar como reforço excepcional a presença dos cantores da
pesada: Renata “Tata” Martinelli e Marcelo “Mancha”.
Rodrigo canta solo e Ivan
arrebenta em seu arranjo que lembra bastante o estilo empolgante do grande
Franklin Paolillo.
Eu usei o baixo Fender Precision e a tradição do Pedra foi
mantida, com um timbre matador à altura desse instrumento clássico. No meu
arranjo pessoal, trabalhei com estilos híbridos, entre o Hard-Rock, Soul Music e
Jazz-Rock a cada trecho mudando conforme a necessidade da canção e creio ter
deixado uma boa colaboração à banda. Letra muito boa criada pelo Xando.
“Queimada das Larvas nos Campos Sem
Fim” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Eu já
comentei bastante sobre essa canção anteriormente, pelo fato dela ter sido
lançada como single em 2010. Acrescento que usei o baixo Fender Precision novamente e
a sua presença ficou incrível.
A linha de bateria do Ivan é memorável, com uma
criatividade incrível. Xando brilha com uma guitarra plena de nuances nas bases
e solos e a sua escolha de efeitos foi muito feliz.
A interpretação vocal do Rodrigo é
excepcional. Gosto bastante do refrão bem Hard-Rock e gostava bastante de
cantá-lo ao vivo. Na gravação, a minha voz está abaixo da voz do Rodrigo,
naturalmente, mas é bem nítida.
Ivan Scartezini em destaque, num show do Pedra realizado no Espaço Cultural Gambalaia, em 2014. Foto: Grace Lagôa
“Só” (Xando Zupo/Rodrigo Hid)
Essa
canção também já foi comentada, mas cabe dizer que além da sua beleza harmônica
e melódica indiscutíveis, o solo do Xando é histórico pela sua beleza melódica
marcante.
O piano é sensacional e o meu Fender Jazz Bass todo swingado à moda
do R’n’B clássico, ficou belíssimo. Nessa gravação, o meu timbre ficou tão
semelhante ao do grande Dee Murray (baixista da banda do Elton John nos
melhores discos de sua carreira, nos anos setenta), que orgulha-me muito, pois
eu sou um grande fã desse saudoso músico, sensacional.
“Amém, Metrópolis” (Rodrigo Hid/Xando Zupo)
Essa
canção teve tudo para fazer um estardalhaço grande pelo fato de ser um samba
explícito, a reaproximar-nos da MPB, da qual fôramos mais próximos no primeiro
disco da nossa banda.
Mediante uma batida de violão frenética da parte do Rodrigo, que muito
assemelha-se ao estilo do grande, João Bosco, a banda vai atrás com uma
agressividade Rocker incrível, a causar uma feliz conjunção que só os Novos Baianos
sabiam fazer na década de setenta.
Ivan brilha muito, por ter elaborado uma batida de
samba tensa, muito além do “telecoteco” básico, mas a imprimir uma pegada Rocker
incrível.
O Xando projetou uma série de fantasmagorias através da guitarra, para tornar a canção
sinistra, no bom sentido e um arranjo de teclados a reforçar tal conceito, no momento do refrão foi uma
sacada genial do Rodrigo. Ele tirou da cartola um elemento inimaginável, eu diria.
Gravei
com o baixo Fender Precision e o seu estilo ficou quase no limite da distorção, quase a chegar no
som do John Wetton na sua fase com o King Crimson. Gosto muito desse resultado.
A letra forte, cheia de metáforas a criticar a política x corrupção, e escrita
muito tempo antes das manifestações de 2013, portanto, sem nenhuma sanha
oportunista. Faço a ressalva de que a demonização da política também é uma prática falaciosa. Não é apenas a corrupção que atravanca a sociedade.
Pedra em ação no Espaço Cultural Gambalaia em 2014. Foto de Jani Santana Morales
“Mira” (Xando Zupo)
Um tema
sombrio, com evocações do Jazz-Rock setentista e que exigia bastante
concentração para ser executado, devido à sua complexidade instrumental.
Gosto
do uso do 6/8 com tantos acentos em contratempo. As guitarras são nervosas, ambas, de
Rodrigo e Xando.
O refrão tem uma forte dose de influência da MPB, sem dúvida. O solo
"esquizóide so século XXI" feito pelo Rodrigo, muito lembra o estilo do genial Robert Fripp, embora o
Rodrigo afirme que não pensou nisso e apenas improvisou um solo com carga
dissonante.
Sobre a letra cantada em castellaño, eu já falei anteriormente. O Xando deu o
seu melhor, mas o sotaque foi inevitável a denunciar ser um lusófano a cantar
na língua hispânica, não tem jeito.
Usei o Fender Precision com timbre a ficar excelente e a escolha foi perfeita ao meu ver, para uma música com agressividade explícita.
Era
difícil cantar e tocar a linha do baixo no refrão, mas eu acostumei-me e tinha
prazer em fazê-lo ao vivo, pois era uma parte forte da canção.
“Os Teus Olhos” (Rodrigo Hid)
Uma
delicada canção com sabor de balada dos anos sessenta, lembra muito o som do
The Kinks em muitos aspectos. Tudo nela é bonito: harmonia, melodia, letra,
arranjo, interpretação, enfim, uma canção irrepreensível.
A parte B, com mudança
radical até de andamento, lembrava-me o som mineiro do “Clube da Esquina”, mas
também o trabalho do “Traffic”, uma banda britânica que eu adoro desde sempre.
Gravei com o
Fender Jazz Bass e gosto do som grave e robusto, com um leve estalo de médio-agudo.
Gosto dos contrasolos do Xando e algumas alavancadas para a região
grave, sutis. É bela a base de guitarra do Rodrigo a fazer arpejos com simulador de caixa Leslie e mais contrasolos muito bons feitos pelo Xando além de, claro, as
intervenções de saxofone do superb, André Knobl que brilham intensamente,
incluso o naipe que criou uma incrível voz adicional.
Gosto dos backing vocals
e fico contente pela minha voz ser nítida nessa gravação. A parte final ficou
com um balanço incrível e aí é que mais parece o som sofisticado e “jazzy” do grande
“Traffic”.
A letra é inspirada, criada pelo Rodrigo, a se mostrar bem poética, e nesse quesito, parece o estilo do poeta e
letrista, Fernando Brant.
Xando Zupo em ação com o Pedra, no Via Funchal de São Paulo, em 2006. Foto: Grace Lagôa
“Pra Não Voltar” (Xando Zupo)
Mais uma
peça previamente lançada como single em 2010. Trata-se de uma excelente composição, com forte
característica de Hard-Rock. Trabalho fantástico de guitarras do Xando em todos
os quesitos.
Gosto muito dos backing vocals ao estilo Soul Music sessentista.
Ivan arrebenta com um linha de bateria fortíssima. Gosto do interlúdio que
lembra bem o Led Zeppelin da fase do LP “Presence”. Solo épico do Xando ao
final.
Aqui, eu criei uma linha bastante agressiva e o Fender Precision ficou
ideal para imprimir tal linha. Acho o vocal solo do Xando muito gritado, mas
ele teve os seus motivos para ter criado uma interpretação desse jeito, exagerada, mas mesmo assim, eu penso que mais amena a interpretação teria sido melhor para a canção.
“Luz da Nova Canção” (Rodrigo Hid/Cezar de Mercês)
Uma das
mais belas canções do álbum, senão a mais bela e ao ir além, uma das melhores
criações da carreira do Rodrigo Hid em sua trajetória inteira até aqui (ele vai
criar outras tão boas quanto, eu tenho certeza, no futuro).
Tudo aqui é belo
ao extremo. Um blues/R’n’B ao estilo dos anos cinquenta-sessenta, parece
uma canção composta pelo Ray Charles, de tão linda que ficou. Melodia e harmonia
incríveis, tem na letra, escrita pelo mestre Cezar de Mercês, um outro trunfo
fantástico.
“Posso ver uma pálida luz na face da escuridão, a luz da nova canção”... ou seja, essa frase por si só diz tanto ao meu coração sessentista
que creio dispensar explicações. Aliás, nem devo, pois a metáfora fala por si
só.
Solo incrível do Xando, bateria maravilhosa do Ivan e o meu baixo soando robusto, com o Fender Jazz Bass e nesse caso, sinto-me como se fosse o Donald “Duck” Dunn a gravar com o Otis
Redding... sonho meu, hein?
E a interpretação vocal do Rodrigo é tão esfuziante
que arranca lágrimas. Parece o Paul McCartney a cantar: “Oh Darling”, por haver extraído a sua voz das entranhas. Destaco também a intervenção de metais (André Knobl e
Paulo Roberto Pizzulin), comandados pelo fantástico André Knobl, um saxofonista
da pesada.
Pedra no Via Funchal em 2006, Luiz Domingues no destaque e Rodrigo Hid no canto esquerdo, aos teclados e cantando solo
“Segunda-Feira” (Xando Zupo)
Eu também já
falei sobre essa canção anteriormente na narrativa. Acrescento que o arranjo é
muito bom, cheio de nuances.
São guitarras com muitos efeitos bem escolhidos, som
de teclados, idem. Gosto das partes cantadas em duo entre Hid e Zupo, bem
concatenadas.
Usei o Fender Precision e um certo clima a ver com o som do saudoso, Berry Oakley, inspirou-me,
embora a canção esteja mais para o R’n’B “modernoso” do “Jamiroquai” do que
para o “Southern Rock” dos “Allman Brothers”, mas soou bem ao meu ver.
“Abstrato Concreto” (Luiz Domingues/Rodrigo Hid/Tufi Hid)
Já falei
bastante sobre essa canção que remonta ao capítulo do “Sidharta”. Cabe
acrescentar aqui que ela começa com um “fade in apodrecido” para aludir ao som
dos radinhos de pilha e “abre”, a clarear com a música em curso.
Gosto
imensamente dessa solução que o Rodrigo achou para rearranjá-la ao evocar o
R’n’B sessentista clássico, e lembra demais o som de Joe Cocker, Leon
Russell, “Stone the Crows” etc.
O piano é ultra swingado ao estilo do Chris
Stainton, sem dúvida. Gosto muito dos desenhos de contrasolos criados pelo
Xando. Bateria no balanço junto com o baixo e o meu Fender Jazz Bass ficou com
timbre excelente, até mesmo com um estalo de médio-grave a mais da conta.
“Cuide-se Bem” (Guilherme Arantes)
Outra canção já
amplamente comentada anteriormente. Bem, essa gravação ficou bastante
enriquecida pelo arranjo. Piano e órgão Hammond muito bem colocados, baixo bem
alinhavado com a bateria.
Usei o Fender Precision e ficou com um belo peso.
Destaque para o solos do Xando, ambos excepcionais e que ficaram muito
marcantes para esta versão. Lembra o “Led Zeppelin” em “In my Time of Dying”
com toda a pompa e circunstância.
Backing vocals emocionantes ao final, só
a seguirmos a beleza melódica criada pelo mestre Arantes.
Xando Zupo em foto informal no dia das filmagens do Vídeoclip de "Sou Mais Feliz", em 2006. Foto: Grace LagôaEm julho, o Xando lançou o disco “Fuzuê” em sua forma digital, com ilustração de capa virtual assinada pelo Diogo Oliveira, a seguir o padrão das ilustrações que fizera em 2014, para lançar os quatro singles.
O disco saiu sem as músicas que o Rodrigo havia mixado no estúdio Curumim, a contar com os préstimos do Carlito Perren, produtor argentino.
Xando mostrara-nos
na reunião de junho que as mixagens feitas nessa circunstância excepcional,
haviam destoado das demais feitas no Overdrive por ele mesmo, portanto,
realmente ficaram sem condições de figurarem juntas.
Mas houve um outro
componente nessa história, que foi a contrariedade dele para com as canções em
si e podemos acrescentar o Hard-Rock "Ultrapasso", nesse rol de preteridas.
Paciência, espero que o Xando lance "Ultrapasso" um dia, mesmo que
descarte a minha letra e o vocal do Rodrigo, por conseguinte. E espero que o
Rodrigo lance as quatro músicas que ficaram sob a sua responsabilidade para
mixar, em um eventual disco solo, mesmo que descarte a gravação do Pedra e as grave
novamente com outros músicos. Mas sinceramente, gostaria que as cinco canções
citadas fossem lançadas com o baixo que gravei.
Houve uma
data marcada para agosto de 2015, para o Pedra no Café Teatro Piu Piu, e o
Xando
queria fazer dela a despedida oficial da formação e lançamento do disco,
com
direito a filmagem. Aprovamos a ideia e comprometemo-nos todos a
cumpri-la. Mas
quando aproximara-se a data e os ensaios precisavam serem marcados, o
Rodrigo
comunicou-nos que o seu pai sofreria uma cirurgia e a sua recuperação
ocorreria em
sua casa, com ele mesmo a assumir os cuidados para com ele, Tufi Hid.
Mesmo assim, a data permanecera de pé, contudo, com o cancelamento dos ensaios por
conta
dessa dificuldade familiar que ele enfrentaria, chegou-se em um ponto onde só
haveriam dois ensaios e talvez na prática só houvesse um. Mesmo com
todos
a se prontificarem a relembrarem as músicas, ao fazerem a "lição de casa",
um ensaio apenas seria totalmente inconveniente e assim, a data foi
cancelada.
Em janeiro de 2016, o Xando anunciou o
lançamento de duas músicas em caráter solo para a sua carreira pessoal e o fim oficial do Pedra,
simultaneamente.
Logo em seguida a essa comunicação de disco e fim da
formação, o jornalista Dum de Lucca lançou uma matéria sobre tais fatos. Eu vi
que teve bastante repercussão no Blog dele em si, através das Redes Sociais e o Dum
mostrou-se curioso sobre o por que do fim da formação ao especular uma possível briga
entre os membros.
Eu preferi não manifestar-me para não causar mais
celeuma e o tempo tratou de apaziguar os ânimos mais acirrados. Se
um dia ele perguntar-me, eu respondo tranquilamente que não houve briga
alguma, apesar de haverem muitas divergências de mentalidade entre os
ex-componentes (nota em adendo: infelizmente receio que tal pergunta
jamais será formulada pelo referido jornalista, pois Dum de Lucca
infelizmente deixou-nos ao final de 2015, após sofrer um mal-estar muito
grande, decorrente de um câncer ultra agressivo que o surpreendeu, sem
chance de reversão da parte dos médicos que assistiram-no. Lastimo
muito, pois era um ótimo jornalista/crítico musical e pessoa do bem).
Eis o
Link da entrevista:
Assim foi o final da minha
história com o Pedra e alguns meses depois, o final oficial da própria banda,
desta vez, definitivamente. Luiz Domingues no destaque, Ivan Scartezini ao fundo. Pedra no Sesc Belenzinho, em fevereiro de 2013. Foto: Leandro Almeida
No próximos capítulos, as considerações finais e agradecimentos.
Continua...
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