segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 154 - Por Luiz Domingues

Chegamos a unidade Vila Mariana ao Sesc no período da tarde para o soundcheck e foi ótimo estarmos próximos a apenas dois quarteirões da minha residência, ou seja, eu poderia dar-me ao luxo de buscar algum eventual objeto esquecido a pé, e voltar em dez minutos.
As instalações do Sesc Vila Mariana eram (são) maravilhosas, não eu tenho duvida, o excesso de normas em que a instituição pauta-se em seus regulamentos internos, causa transtornos. Por exemplo, quando estacionamos os nossos respectivos automóveis na sua ampla garagem, um funcionário da produção do teatro informou-nos que não poderíamos transportar o nosso backline imediatamente, pois no caminho entre o elevador e o teatro, havia uma área preservada para o escape em caso de evacuação de emergência do público e naquele instante, aquele pequeno corredor precisava ficar livre, pois uma atividade de recreação infantil estava a ocorrer no lounge do teatro.
Fazer o que? Só mesmo a ler o jornal na garagem para esperar deixarem-nos descarregar o equipamento.

Ora, foi compreensível que houvesse o seu protocolo padrão de segurança, mas ao mesmo tempo, revelara-se excessivamente exagerada a determinação, pois os nossos roadies em nada atrapalhariam a dinâmica da atividade ali realizada e em hipótese alguma, caso houvesse a necessidade de evacuação rápida, não seria a presença de nossa atividade que atrapalharia em nada nada a sua evacuação.

Irredutível, o funcionário não quis saber das nossas ponderações e seria primordial para o nosso cronograma que o equipamento fosse transportado naquele momento, sob o risco de atrasarmos o soundcheck. 

Então, veio a constatação, mais uma vez, de que o Sesc é maravilhoso em inúmeros aspectos, mas peca em outros tantos pelas suas normas engessadas e que não leva em conta as necessidades dos artistas que usam as suas instalações constantemente. Melhorem isso e será melhor para todos!

Com esse atraso de quase uma hora ali na garagem, deu para colocar as piadas em dia, mas foram minutos preciosos que perdemos, visto que quando finalmente liberaram a nossa passagem, os nossos roadies tiveram que desgastar-se um pouco mais para recuperar o tempo perdido. 

Mesmo de uma forma mais apressada do que desejaríamos, foi possível cumprir um soundcheck razoavelmente bom. O técnico foi solícito conosco, mas claro que teria sido muito melhor contar com um dos nossos "Renatos", Carneiro ou Sprada, quiçá os dois, de preferência.

Para amenizar, o "mago da luz", Wagner Molina, estaria conosco mais uma vez e com ele a operar, foi a garantia de uma iluminação com qualidade e muita criatividade.
Apesar de morarmos no bairro, eu e Xando, permanecemos pelo Sesc após o Soundcheck, assim como os demais e pelo fato do show ter estado marcado para as 20:30 horas, nós preferimos ficarmos por ali mesmo e o camarim gigantesco e muito alto, deu-nos uma visão muito bonita do nosso bairro, o que divertiu-nos muito nos momentos que antecederam o nosso espetáculo.
Recebemos a visita do produtor da "Condor", Vagner Garcia, que estava na função de produtor do show, aliás, uma outra burocracia do Sesc, a se exigir ser obrigatória. Mas claro que foi um prazer conversar com ele no camarim a respeito dos velhos tempos da gravadora Eldorado etc. e tal. Teatro lotado, um produtor foi avisar-nos que chegara a hora.

Molina comunicou-nos que não poderia para criar a iluminação que ele gostaria. Não houve tempo para elaborar aquela contraluz impressionante que ele costumava fazer a tornar os nossos shows, algo diferenciado, e a nos fornecer a aura de banda internacional.

Paciência, ele disse-nos que faria focos discretos, a buscar uma iluminação simples, na base do claro/escuro e a evitar as gelatinas coloridas porque não apreciara a disposição básica das torres de spots ali disponíveis. Fomos então para o palco e com essa predisposição dele, confiávamos totalmente no seu trabalho.

Entramos com: "Filme de Terror" a emendar com "Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim" e a minha impressão fora que as pessoas ficaram "grudadas" na cadeira, tamanho o ímpeto pelo qual tocamos. E não refiro-me a pressão sonora, pois estava tudo bem controlado, mas sim a respeito de uma fúria Rocker, que contaminou-nos pela atmosfera toda ali gerada. 

Foi o tal negócio: ao obtermos condições adequadas, a banda respondia com energia muito fortificada, diferentemente de shows ocorridos em casas noturnas com equipamentos sofríveis e/ou plateias formadas por playboys bêbados e incautos.
Uma novidade, nós tocamos uma música há muito não executada ao vivo: "Amanhã de Sonho", que na minha lembrança soou com uma tessitura bastante delicada, ao impressionar o público, notadamente quem acompanhava-nos há mais tempo e surpreendeu-se com a sua inclusão. E assim, ficou com "Cuide-se Bem"em seguida e "Meu Mundo é Seu", depois, acho que criamos uma sequência emocional de primeira aos fãs do trabalho. 

"Estrada", ao vivo no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=j8M8pZFMI6s


"Nossos Dias no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=711s9A2mV-M


Portanto, já angariamos o público com as duas primeiras músicas executadas. Teatro pequeno, não houve muita pressão sonora, mas ao menos no palco pareceu-nos tudo equilibrado.


"Sou Mais Feliz" no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=iifRr2S5wxE


"Amanhã de Sonho", no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=B-bM3z-kscs 


"Meu Mundo é Seu", no Sesc Vila Mariana em 7 de maio de 2010
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=43GCp_sQXIg

 
"Queimada das Larvas dos Campos Sem Fim", no Sesc Vila Mariana, em 7 de maio de 2010

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=DPOeSEAnKDw


E assim fomos a desfilar o nosso repertório com a mescla dos dois discos lançados e os novos singles lançados, mais a presença da versão elétrica de "Cuide-se" Bem", do Guilherme Arantes, que passou a figurar no set normal da banda doravante e com grande aceitação do público. 

Aliás, o Rodrigo usou o piano acústico do teatro, a incorporar os seus teclados habituais e com isso, visualmente o palco ficou bem bonito com essa imponente presença.

Tocamos aproximadamente por uma hora e meia, com ótima receptividade do público e através da sonoridade que ao se escutar pelos vídeos desse show que foram disponibilizados no YouTube, posteriormente, eu acredito ter sido bem agradável para quem assistiu da plateia, com pouca pressão sonora, mas sob um equilíbrio bem agradável. A mixagem ao vivo também parece bem razoável pelos vídeos e pela lembrança dos relatos das pessoas que abordaram-nos no pós-show.
Sesc Vila Mariana, dia 7 de maio de 2010, com cento e vinte pessoas na plateia. Missão cumprida, tocamos em um belo teatro e segundo o Vagner Garcia e a Cida Cunha apuraram, a cúpula da unidade adorou o nosso show e também a nossa postura dentro da unidade, desde a hora que chegamos ao estacionamento e acredite leitor, eles observam tudo e tem artista que é veterano, tem fama mainstream e apronta baixarias nos bastidores, a queimar-se no Sesc e em outros lugares. Bem, eu  não preciso nem nomear alguns casos gritantes que são públicos e notórios.
A nossa esperança nesse instante, com a perspectiva do sucesso desse show, foi que o Sesc finalmente abrisse as suas portas e nós passássemos a nos apresentarmos por outras unidades de São Paulo e outras cidades, exatamente como muitos artistas o fazem há anos, a manterem uma agenda contínua e sustentável.
Nesse mês de maio nós teríamos mais um programa de TV de internet para fazer, convidados que fomos, mas com o ânimo renovado após um show finalmente realizado em um teatro de qualidade, a nossa meta como artistas.
Continua... 

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